O
presidente da República, ao questionar a legitimidade das eleições
presidenciais, chamou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral de “idiota”
e “imbecil”, sob a sua concepção de que está tudo armado para que o
petista volte ao poder.
Em
reforço, o presidente disse a apoiadores, na porta do Palácio da Alvorada, que “Não
tenho medo de eleições. Entrego a faixa a quem ganhar. No voto auditável. Nessa
forma, corremos o risco de não termos eleição no ano que vem.”
Segundo
o presidente do país, pesquisas de opinião – como a do Datafolha, divulgada na
quinta-feira, mostrou que a rejeição ao atual presidente é de 51% entre as
pessoas ouvidas — “fazem parte da fraude, tudo orquestrado para causar a
impressão de que o cenário não é favorável para a sua reeleição.”.
O
presidente disse que “Daí vem os institutos de pesquisas, fraudados também,
botando ali o nove dedos lá em cima. Para que? Para ser confirmado o voto
fraudado no TSE. Já está certo quem vai ser presidente no ano que vem. A gente
vai deixar entregar isso?”.
O
presidente disse que “os levantamentos e o TSE tentam beneficiar o
ex-presidente Lula (PT).”.
O
presidente do país ainda acrescentou que a declaração do presidente do TSE é “resposta
de um imbecil. Eu lamento falar isso de uma autoridade do Supremo Tribunal
Federal. Só um idiota para fazer isso aí.”.
Afirmações
como estas do presidente do país, de que “o que o Barroso quer é a volta da roubalheira,
da fraude eleitoral” não condizem com os princípios constitucionais, diante
da falta de provas para respaldá-las, como exige a essencialidade do Estado
Democrático de Direito, no sentido de que o ônus da prova compete ao acusador.
O
presidente concluiu, afirmando que “Se as eleições fossem honestas, por
causa da tecnologia, por que o mundo não adota? Tá na cara que aqui é voltar a
quadrilha de sempre para o poder. Não tenho medo de eleições. Entrego a
faixa para quem ganhar no voto auditável e confiável. Dessa forma, corremos o
risco de não termos eleições ano que vem. É o futuro de vocês que está em
jogo", declarou Bolsonaro a apoiadores na manhã desta sexta.
O
presidente do Tribunal Superior Eleitoral afirmou que “A realização de
eleições, na data prevista na Constituição, é pressuposto do regime
democrático. Qualquer atuação no sentido de impedir a sua ocorrência viola
princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade.”.
Diante
das declarações do presidente brasileiro, de que o Brasil pode não ter
eleições em 2022 se não houver voto impresso.” o presidente do TSE as considerou
"lamentáveis”, tendo afirmado que “o sistema de urna eletrônica
é íntegro e assegurou a alternância de poder.”, embora ele ainda não tenha se
dignado a mostrar como realmente funciona a “caixa-preta” imperante nas urnas
eletrônicas, objeto de desconfiança do presidente do país, que, por sua vez,
também não apresenta nada para provar a necessidade de mudança.
O
presidente do Senado Federal foi bastante inciso diante das declarações do
presidente do país, ao afirmar que "Tudo quanto houver de especulações
em relação a algum retrocesso à democracia, como a frustração das eleições
próximas vindouras do ano de 2022, é algo que o Congresso Nacional, além de não
concordar, repudia, evidentemente. Nós não admitiremos qualquer tipo de
retrocesso nesse sentido".
Nunca
se viu em autoridade da República tanta impaciência e extremo desespero de causa
diante de situação apenas imaginária na mente da qual pode ter sido retirado o gene
que trata do sistema eleitoral, a ponto de deixar o presidente brasileiro
completamente louco e desnorteado, partindo para agressão contra o presidente
do TSE, chamando-o de idiota e imbecil, algo simplesmente inacreditável em país
sério e civilizado.
É
de se esperar que o comandante da nação tenha o mínimo de sensatez, sensibilidade
e equilíbrio, com a consciência centralizada nos princípios do civismo e da educação,
de modo a se observar a liturgia do seu cargo, quanto à imperiosa necessidade do
respeito às autoridades da República.
Termos
civilizatórios, mesmo que o presidente do TSE esteja completamente errado e
abusando da sua autoridade, é completamente inconcebível que ele seja tratado
com o extremo de agressividade, em se considerando que as questões de ordem pública
devem ser discutidas, analisadas e solucionadas em clima de harmonia, tolerância,
competência e responsabilidade, mas jamais fora das quatros linhas ínsitas tanto
do ordenamento jurídico do pais como das condutas inspiradoras do respeito à
civilidade, em harmonia com os princípios democráticos, onde devam prevalecer
os argumentos de equilíbrio, inteligência e racionalidade.
Em
princípio, diante do visível estado emocional do presidente do país, que não
mede palavras para mostrar seu inconformismo com status quo, que entende
que precisa ser mudado, na força e marra, sob pena de sequer haver eleição presidencial
no próximo ano, ante forte suspeita de fraude, até possível que existam graves irregularidades
por trás dos panos, porque, em caso contrário, o mandatário não teria chegado
ao êxtase do desequilíbrio psíquico, somente comparável à loucura, à vista de
tantas desarranjos que não condizem com a cartilha da diplomacia que os
verdadeiros estadistas procuram seguir como máximo de fidelidade, porque isso
apenas demonstra princípios e respeito à relevância do próprio cargo
presidencial.
A
defesa das questões relacionadas com o interesse público é própria dos estadistas
cônscios dos seus deveres constitucionais, porque, do caso contrário, o
magistrado poderá até incorrer em crime de prevaricação, agora é preciso que os
procedimentos necessários sejam adotadas em perfeita harmonia com as regras da
normalidade, em que estejam presentes os projetos apropriados e as devidas
justificativas, formalizados sob argumentações absolutamente sintonizados com
os objetivos capazes de satisfazerem o império do interesse público.
Ou
seja, em qualquer parte do planeta, até mesmo nas piores republiquetas, as
medidas de ordem administrativa são sempre concebidas em ambiente da
normalidade estabelecida no ordenamento jurídico pátrio, evidentemente por meio
do entendimento e do convencimento democráticos, com base nos argumentos
superiores da real necessidade da sua aprovação para a exclusiva satisfação dos
fins públicos.
Diante
disso, causa enorme estranheza que o presidente da República exponha publicamente
comportamento animalesco de agressão verbal contra autoridades da República, de
outros poderes, na clara tentativa de intimidação, com à aprovação de normas,
na base do grito, mediante a mudança no sistema eleitoral que ele sequer tem
autoridade nem competência legal para discutir, senão para somente apresentar
sugestão para o aprimoramento dele, porque esse político se mostra como um dos principais
interessados na tratativa da questão, compreendendo que ele pretende se
reeleger e não deveria se imiscuir, por questão ética, em assunto que compete
exclusivamente à Justiça eleitoral, ante à competência constitucional dela.
Em
contraponto aos ataques irracionais do presidente do país contra o sistema
eleitoral brasileiro e integrantes do Judiciário, presidentes de oito partidos
se manifestaram em defesa da ordem democrática e em repúdio aos arroubos e
abusos autoritários do presidente do país, que estão indo muito além da normalidade
democrática e dos comezinhos princípios de civilidade, a ponto de ferir de morte
os princípios constitucionais, com capacidade para causar rupturas institucionais,
ante as absurdas e desmedidas agressões gratuitas, à vista da falta de
elementos plausíveis para justificá-las.
Enfim,
o tema que se relaciona com o aprimoramento do sistema eleitoral, notadamente
com o chamado “voto auditável”, por meio do voto impresso, precisa sim ser
discutido com a maior rapidez possível, ante a exiguidade de tempo, mas, para
tanto, é aconselhável que as questões que emanam para o cenário dos debates
sejam tratadas apenas pelas autoridades competentes, nos termos
constitucionais, observados, se for o caso, os princípios essenciais da real
necessidade das mudanças e do respeito aos sentimentos de civilidade e humanismo,
seguindo a melhor tradição dos países sérios e evoluídos, em termos políticos e
democráticos.
Brasília,
em 11 de julho de 2021
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