sábado, 10 de julho de 2021

O martírio do fantasma?

 

O presidente da República criticou com veemência o que ele denominou de “interferência absurda de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)”.     

Além disso, o presidente do país voltou a afirmar que, sem a implementação do “voto auditável”, o resultado das eleições em 2022 pode não ser reconhecido.

Vejam-se o que o presidente disse em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Sul, verbis: “Algum lado pode não aceitar o resultado. Esse obviamente é o nosso lado. Se Lula ganhar no voto auditável, sem problema algum, será a vontade popular”.

O presidente do país também afirmou que, sem sistema de recontagem dos votos, “vão arrumar problemas no ano que vem. Quem vai decidir a eleição no ano que vem vai ser quem conta o voto. Hoje em dia, quem conta o voto é o TSE de forma secreta e sabemos qual é a vida pregressa do Barroso. Bolsonaro também atacou o ministro Luís Roberto Barroso por, segundo ele, fazer articulações dentro do Congresso contra a aprovação da emenda do voto impresso, de autoria da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). Barroso tem interesse pessoal nisso”.

Em conclusão, o presidente do país declarou que “A democracia está ameaçada por alguns de toga que perderam a noção de até onde vai seus direitos, seus deveres”.

É preciso que esse assunto chamado de voto auditável seja discutido e conduzido com a maior seriedade possível, ante a relevância ínsita que ele pode representar para o aperfeiçoamento da democracia, por se pretender realmente alterar o status quo, sob a premissa de que o sistema eleitoral realmente necessita das pretendidas mudanças alegadas pelo presidente da nação, que vem demonstrando montanhas de equívocos e trapalhadas na tratativa do assunto, por não ter condições de raciocinar minimamente com o sentimento de civilidade e racionalidade, que se exige para a discussão de assunto da maior importância.

Em termos de eficiência e organização, até agora só se viu desespero, críticas, xingamentos, incompetência, agressão, imaturidade e intenção de colocar lenha na fogueira, no sentido de que o assunto não progrida para lugar nenhum, exatamente por falta de serenidade e tolerância.

Caso o presidente do país tivesse imbuído de bons propósitos, boas intenções e realmente interessado em aperfeiçoar o sistema eleitoral, por meio do uso das urnas eletrônicas, bastaria tão somente ele mostrar, um milímetro que seja, o motivo pelo qual é imperiosa a necessidade de se adicionar o sistema acessório da contagem auditável de votos, mostrando os casos de fraudes já contabilizados, em razão de não ter nada nesse sentido, fato que somente demonstra que o presidente pretende ganhar o jogo no grito, sem precisar de argumento plausível e convincente.

Até o momento, o presidente brasileiro vem acusando que o atual sistema eleitoral é fraudável, com possibilidade de alteração de resultado da eleição, mas, então, por qual motivo ele não apresenta as provas com capacidade para o  convencimento sobre essas tais desconfiança e suspeita possivelmente  existentes, porque, do contrário disso, tendo em conta que todos os resultados das eleições foram, por todos os tempos, confirmados pelos Tribunal Superior Eleitoral e partidos políticos, sem a menor restrição, em termos de contestação sobre a sua ilegitimidade?

Na verdade, a atitude escolhida pelo presidente brasileiro, para defender seus interesses, não tem o menor cabimento, porque ele alega que as eleições de 2022 podem ser fraudadas, com base em mera suposição apenas pessoal  comparável a alguém que fica gritando no meio do deserto, porque realmente ninguém vai ouvir gritos vazios de conteúdo, conquanto convém que se exija a comprovação de fatos a demonstrem a real e a imperiosa necessidade da implementação das medidas saneadoras pretendidas, como sendo realmente conveniente para a sociedade, que normalmente é quem sempre arca com as despesas pertinentes, as quais precisam ser devidamente justificadas sob o aspecto da satisfação do interesse público, que é indispensável como fim a justificar gastos públicos.

O governo com o mínimo de consciência pública e responsabilidade administrativa nem perderia tempo em ficar discutindo, como faz insistentemente o presidente do país, se não tivesse condições de provar que algo precisa ser mudado, porque é evidente que o aperfeiçoamento dos sistemas sempre se impõe quando eles se apresentam com indiscutível deficiência e são naturais os devidos ajustes de rumos, mesmo que isso implique custos, que é certamente o caso do voto auditável.

Convém que fique devidamente demonstrado que a introdução da cédula pretendida é absolutamente necessária em razão, se for o caso, das falhas já constatadas em eleições anteriores (mencioná-las), onde houve realmente manipulação de resultados, com graves prejuízos para candidatos (mencioná-los), mas até agora nenhum fato foi indicado como referencial irrefutável de exemplo motivador para as mudanças, elemento este que é exigido, em princípio, para o pretendido aperfeiçoamento.

Em termos democráticos, não passa de aberração própria de tirania a maluca afirmação de que “Algum lado pode não aceitar o resultado.”, quando não se tem absolutamente nada que possa sustentar a possibilidade de fraude, diante da falta material de provas.

Afirmação nesse sentido somente pode partir de mente fora do prumo, que se atormenta ao extremo e permanentemente com os inexistentes fantasmas das urnas eletrônicas, no sentido de que eles estão à solta a perturbarem os candidatos à reeleição.

Essa forma de pensamento somente seria crível se realmente se confirmasse a possiblidade de fraude e nada fosse feito no sentido do saneamento do problema, como se tivesse aviso sobre a existência de falha e esta concorresse para prejudicar o resultado da eleição, o que talvez realmente se justificasse não se aceitar o resultado, no caso de ele ser desfavorável a quem se dignou a reclamar e não teria sido atendido o seu pleito.  

Isso de o presidente do país suspeitar do presidente do TSE caracteriza verdadeiro absurdo, em termos humanos, com a insinuação de que ele seria capaz de arrumar com os resultados da eleição do ano que vem, ferindo de morte os princípios da sensatez e da integridade humana, notadamente porque ele não dispõe de elementos algum para se inferir que isso de fraudulento realmente possa vir a acontecer.

No dizer do presidente do país, de que “A democracia está ameaçada”, é preciso sim se reconhecer que realmente isto está acontecendo de fato, quando homem público importante, como ele, fica, de forma contumaz e o pior, sem base alguma, fazendo meras declarações e ameaças sobre fatos que não há a mínima comprovação, como nesse caso do voto auditável, que ele, por certo, tem total dever, como todo cidadão brasileiro, de perseguir o aperfeiçoamento do sistema pertinente ao perfeito funcionamento do conjunto da urna eletrônica, mas que isso seja feito somente com o mais absoluto senso de responsabilidade cívica, no sentido de se indicar o motivo causador do possível surgimento potencial de fraude no resultado da eleição, com significativo e notável prejuízo para os candidatos.

Na política, tanto se pode ganhar como perder, porque é precisamente essa a regra fundamental do jogo, que se apresenta de forma isonômica para todos os candidatos, mas isso que vem praticando, de maneira contumaz, o presidente brasileiro somente expõe a sua indiscutível fraqueza, como se ele já estivesse no corredor da degola, tendo em conta, por exemplo, a afirmação dele de que “Algum lado pode não aceitar o resultado”, dando a entender a clara antecipação de que este já é previsivelmente desfavorável bem antes da eleição, considerando que até lá muita água há de passar sob a ponte, certamente o surgimento de muitos acontecimentos imprevisíveis, além, obviamente, da falta de prova material sobre fraude eleitoral.

O estadista sensato e consciente sobre a realidade dos fatos jamais perde tempo fazendo conjecturas sobre algo inexistente nem tampouco fica fazendo ameaças e contestações acercas de situação futura incerta, que até pode acontecer como também não, a depender, naturalmente, das circunstâncias, a despeito de que, no país tupiniquim, quanto de pior se imagina termina acontecendo justamente para provar a força da desgraça.

O oposto disso tem sido a atuação do presidente tupiniquim, que não se cansa de fazer previsões absurdas sobre possível manipulação no sistema eleitoral, mediante mexida nos códigos das urnas eletrônicas, tendo por consequência a alteração do resultado dos votos, justamente para prejudicá-lo com a vitória do seu maior opositor.

Causa perplexidade o fato de que o presidente lance para os eleitores forte suspeita sobre possível fraude no sistema eleitoral, mas é estarrecedora a sua incapacidade para a indicação de apenas uma causa capaz de provar o seu terrível questionamento.

Ou seja, o presidente do país se tornou ferrenho crítico sobre a seriedade das urnas eletrônicas, mas não consegue apontar um exemplo que seja de falsificação dos resultados já havidos no sistema ou, o que seria mais importante, um motivo inarredável para basificar qualquer questionamento sobre as próximas eleições presidenciais, por exemplo, fato este que somente contribui para indicar sinal de fraqueza plena, diante de fatos plausíveis sobre o que se alega de errado.

Na verdade, todo homem público precisa se revestir da dignidade e da justiça para defender as causa em benefício da sociedade, como nesse caso em discussão, mas o bom senso e a razoabilidade exigem que o tema seja tratado no âmbito da maior racionalidade possível, sempre em respeito ao interesse público e à satisfação da sociedade, princípios estes que não estão sendo observados pelo presidente do país, que deixa muito claro que ele pretende ganhar no grito, porque se ele quisesse resolver com serenidade e civilidade, bastaria indicar algum caso havido de fraude a se exigir o seu saneamento por meio do voto auditável.

Acredita-se que, diante disso, haveria interesse e boa vontade para que todos convergissem rapidamente para o melhor encaminhamento da questão, na busca das medidas saneadoras cabíveis, porque é exatamente assim que procedem os países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos, administrativos e democráticos.  

Brasília, em 10 de julho de 2021

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