domingo, 4 de julho de 2021

Com qual credibilidade?

O ex-presidente da República petista, que se mantinha em silêncio sepulcral, afirmou que, se as denúncias de irregularidades na compra de vacinas pelo governo forem verdade, a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid pode pedir ao Supremo Tribunal Federal a interdição do presidente da República.

O petista afirmou que "Se for verdade as denúncias de corrupção na compra das vacinas, se for verdade as denúncias do gabinete paralelo, se for verdade todas as coisas que tão falando contra o governo e contra ministros do governo, eu acho que a CPI pode pedir à Suprema Corte a interdição do Bolsonaro ou pode, com base no relatório da CPI, (lançar) mais um pedido de impeachment".

Mesmo diante dos avanços sobre possíveis suspeitas de corrupção no governo,  o petista, que se apresenta como principal adversário na corrida presidencial, vinha se resguardando em silêncio sobre o caso Covaxin ou o relato de pedido de propina revelado pelo jornal Folha de S.Paulo.

Nas redes sociais, os principais políticos brasileiros vinham criticando o silêncio do petista, dizendo que ele havia sumido estrategicamente, não participando dos movimentos em favor do impeachment do atual presidente.

A falta de manifestação do petista foi considerada por políticos como inteligente jogo estratégico, no sentido de que é preferível o incentivo político, com a consequente perda de popularidade do presidente, do que se mover ato em apoio aos movimentos na tentativa da imediata remoção dele, para que fique muito mais fácil derrotá-lo na disputa de 2022.

O ex-presidente também publicou nota em apoio ao superpedido do impeachment, tendo afirmado, verbis: "Parabenizo as forças de oposição ao Bolsonaro e os movimentos sociais que conseguiram unificar os mais de 120 pedidos de impeachment pra pressionar o Lira (presidente da Câmara dos Deputados). Espero que as manifestações de rua convençam o presidente da Câmara a colocar em votação".

Meu deus da política, que país é este?

A questão que se coloca em discussão, no presente momento, se concentra especificamente sobre os princípios da moralidade na administração pública, que é algo extremamente ignorado e desprezado por importantes pessoas que se dizem homens públicos, quando eles, na realidade, simplesmente estão a ano-luz do preciso entendimento sobre esse relevante sentimento representativo para a nação e o seu povo.

Apenas para se relembrar, refrescando um pouco a memória dos brasileiros, quem agora se acha no direito de criticar os atos do governo ainda não conseguiu justificar absolutamente nada perante a sociedade, que é do seu dever como homem público, os gigantescos escândalos robustamente criados e nutridos no seu governo, que é considerado símbolo de desvios de incalculáveis montanhas de recursos públicos para finalidades absolutamente estranhas aos propósitos do interesse dos brasileiros.

Convém, a propósito, trazer à baila os monstruosos e criminosos esquemas de corrupção compreendidos nos famigerados mensalão e petrolão, de muita triste memória para os brasileiros honrados, porque há outros que se comprazem com a roubalheira dos cofres públicos, por sequer se envergonharem em fechar os olhos por infinita tragédia acontecida na história político-administrativa brasileira.  

Por meio somente desses artifícios deprimentes, muitos cofres de empresas públicas, especialmente da Petrobras, foram saqueados, à vontade e à luz solar, conforme resultados de investigações já devidamente comprovas pela Justiça, mediante julgamentos e sentenças por ela proferidas, compreendendo ordens de prisão e devolução de milhões de reais aos destinos originais, sem que nunca tais irregularidades tenham sido reconhecidas, aceitas e assumidas por seus responsáveis diretos, que também foram devidamente identificados pelo mesmo órgão público, legalmente competente para tanto, que aconteceram precisamente no governo de quem agora se atreve a criticar possíveis atos ainda suspeitos de irregulares.

Ressalte-se que os atos ora suspeitos ainda pendem de investigação, para, então, depois disso, vir puder, conforme o caso, ser objeto de censura, fato este que evidencia a brutal incoerência do pensamento político brasileiro, onde alguém supercarregado de máculas, em termos de moralidade na gestão pública, entende ser justo fazer crítica, praticamente, sobre algo ainda inexistente.

Diante disso, é preciso se notar que o currículo desse político carrega o peso da monstruosidade de imensuráveis fatos que envergonharam o Brasil e o mundo, mantendo-se ainda na consciência a blindagem da inocência, como se toda atroz e cruel roubalheira, resultante dos esquemas referentes aos mensalão e petrolão, fosse absolutamente normal, evidentemente que até pode ser para os esquisitos padrões da ideologia esquerdista, não para a racionalidade da administração competente e responsável inerente à verdadeira satisfatoriedade do interesse público, para a qual é a essência da razão da existência dela.

A tentativa de se exigir o respeito ao princípio da moralidade somente do governo da oposição, como fica translúcido com a manifestação em comento, mostra a clarividência da extrema miopia que impede a esquerda de enxergar os próprios malfeitos, por mais faraônicos que eles sejam, como os desvios perpetrados por meio dos esquemas ultracriminosos somente, por exemplo, dos citados mensalão e petrolão, que ultrajaram definitivamente a dignidade dos brasileiros.    

Não resta a menor dúvida de que o político que agora clama por moralidade dos atos do gestor público, ou seja, que se acha no direito de exigir respeito aos princípios da ética e da moralidade, tem sequer resquício de credibilidade para falar de moralização na administração do Brasil?

Espero que a resposta a essa questão seja devidamente pensada, analisada e respondida à luz dos sentimentos da sinceridade e da honestidade, sem paixão ideológica nem idolatria ao homem público, mesmo imaginando que a pessoa em si até possa ser inocente, como assim se julga, mas não conseguiu provar nadinha ainda, perante a Justiça e a sociedade, sobre as suspeitas atribuídas a ele com relação a prática de atos irregulares, embora a sua gestão tenha sido maculada definitivamente também pelos indignos escândalos dos mensalão e petrolão e somente isso já diz muito acerca sobre a personalidade de quem condena possíveis erros do atual governo, em princípio, ainda sem a menor pertinência.

Diante do exposto e se realmente o político tem algum sentimento de moralização no seu íntimo, este momento é de suma importância para que ele decida primeiro fazer as pazes com a sua própria história, no sentido de se afastar para o mais distante possível, se puder, para o espaço sideral, das atividades políticas brasileiras, à vista do volumoso fardo que pesa sobre seus ombros, como gigantesca dívida acumulada da gestão pública, por conta do mau gerenciamento da coisa pública, compreendido, em especial, no perverso fisiologismo, nas organizações criminosas surgidas no governo, na remessa de dinheiro dos brasileiros para obras públicas no exterior, nas alianças espúrias com políticos da pior índole, no desnecessário aparelhamento da máquina pública, entre tantas outras deficiências que contribuíram para tornar a prestação dos públicos da pior qualidade possível, salvo no que se refere aos programas de assistencialismo social, que foram fomentados com a exclusiva finalidade da potencialização eleitoral, com vistas à conquista e à permanência no poder.

É evidente que o retorno às atividades políticas, de quem se encontra nessa situação, tem como principal pressuposto, por via dos sentimentos do bom senso e da razoabilidade, que as mazelas ainda pendentes, notadamente, no caso específico, as suspeitas da prática de atos irregulares, envolvendo dinheiro público, e a autoria dos esquemas criminosos, sejam prévia e devidamente justificadas e esclarecidas perante a Justiça e a sociedade, como condição sine qua non para tanto, porque é precisamente assim que agem os verdadeiros homens públicos, quando se apresentam para os eleitores, trazendo as mãos limpas e a ficha corrida imaculada, em consonância com as exigências inerentes à conduta ilibada e à comprovação de licitude quanto aos seus atos na vida pública.

Convém que os brasileiros se conscientizem, como prova de amor ao Brasil e em defesa dos sagrados princípios republicano e democrático, que têm por finalidade a moralização da administração pública, no empenhamento de somente aceitação na vida pública de quem efetivamente se esforçar em  comprovar o preenchimento dos requisitos essenciais da idoneidade e da conduta imaculada, porque somente assim será possível se contribuir para o fortalecimento e a consolidação da integridade ética e moral no Brasil.   

          Brasília, em 3 de julho de 2021 

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