terça-feira, 20 de julho de 2021

É melhor se prevenir?

 

Diante da intensificação sobre as suspeitas de irregularidades na compra da vacina Covaxin, sinalizando, em princípio, que pode ter havido, no caso, a inação do presidente da República, já há movimentação em antecipação até mesmo às conclusões das investigações determinadas pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de se encontrar mecanismos para o eventual processo de impeachment do mandatário seja evitado, na origem, ou seja, na Câmara dos Deputados.

Em que pese o evidente desgaste político, em razão desse episódio, ante a repercussão natural sobre os ombros do presidente do país, assessores do Palácio do Planalto avaliam que a Procuradoria-Geral da República não deverá denunciá-lo por crime de prevaricação.

Mesmo diante de meras conjecturas, articuladores políticos já trabalham com o chamado plano B, caso a denúncia seja efetivamente apresentada na Câmara, que seria pôr em prática o artifício usado pelo presidente sucedido pelo atual, que conseguiu mandar para o arquivo duas pesadas denúncias, com o poderoso apoio do importante aliado Centrão, de modo a se confirmar, de forma efetiva, o seboso acordo, envolvendo substanciais recursos, por meio de emendas parlamentares e cargos públicos destinados aos “leões” de chácara protetores do chefe do Executivo, ou seja, os parlamentares integrantes do Centrão.

Conforme o mapeamento do Palácio do Planalto, a avaliação é no sentido de que não há os 342 votos necessários no plenário da Câmara para o prosseguimento de eventual denúncia, evidentemente que, no cenário atual, o Centrão cuidaria de proteger e blindar o cargo presidencial, na forma do acordão.

O certo mesmo é que o Supremo Tribunal Federal já autorizou a apertura do competente inquérito, para a investigação do presidente da República, pela suposta prática do crime de prevaricação, com referência à compra da vacina Covaxin.

Em princípio, poder-se-ia até imaginar que a situação do presidente do país seja tranquila, tendo por conta o apoio do “fiel” aliado Centrão, que também pode passar, de repente, pelo processo camaleônico, de se dividir em atendimento às suas conveniências fisiológicas, principalmente agora, quando é visível que o barco do governo padece de furos no casco e a água vem entrando com certas velocidade.

Nas circunstâncias, alguns parlamentares integrantes do Centrão já estão pulando do barco chamado governo, na tentativa de se salvarem ilesos antes que seja tarde e terem sucesso nas próximas eleições, em sintonia com a sua verdadeira índole fisiologista.

Sem a menor dúvida, o expediente aventado como possível alternativa de salvação presidencial trata-se de mecanismo nojento e inescrupuloso adotado por governos sem o mínimo de acatamento aos princípios da ética, da moralidade e do respeito aos suados tributos pagos pelos sacrificados contribuintes, que já não suportam mais tanta banalidade com relação à importância da real destinação desses recursos, que deveriam ser exclusivamente para a satisfação do interesse pública e jamais para a compra da vil consciência de parlamentares para protegerem e blindarem o mandatário do país, em situação bastante complicada, no caso, que seria precisamente de sustentar no cargo gestor que se houve com comprava negligência funcional, caso o processo conclua nesse sentido, porque ele só segue para a Câmara se houver a constatação de infringência às normas constitucionais.

Essa situação exige, em especial, nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos social, político, administrativo e democrático, a devida responsabilização sobre o fato irregular, para que o seu resultado sirva de exemplo aos maus administradores que precisam se conscientizar sobre o seu compromisso feito à nação, em juramento de ser fiel à Constituição Federal e às leis do país.

Havendo de ser concluído pelo crime de prevaricação por parte do presidente do país, fica evidente que ele não foi fiel ao seu juramento de posse, que precisa ser respeitado, sob pena da sua inutilidade, e, por isso mesmo, o agente público precisa responder por seus atos, sob pena de o Brasil continuar a ser a verdadeira casa da “mãe Joana”, onde o mandatário pratica ato contrário ao ordenamento jurídico, mas tem logo ali na Câmara dos Deputados os donos da “verdade” que dizem, por forças do fisiologismo, que ele não pode ser julgado por grave falha praticada e tudo fica por isso mesmo.

Diante disso, resta assim péssimo exemplo por parte do presidente brasileiro para a sociedade, que tem tanto a obrigação de eleger o presidente do país (possível infrator) e os parlamentares (os possíveis protetores dele) como ainda de pagar a remuneração das autoridades públicas, mas, no final da história, nem direito ela tem de reclamar da esculhambação, à vista da valorização que bem merece o seu voto, no regime de governo democrático, originário do povo, pelo povo e para o povo.

Enfim, quando o governo ou mais precisamente alguns assessores aventam a possibilidade do emprego de planos outros para a tentativa de salvação contra o pior, é porque se imagina que pode realmente surgir algo desagradável mais adiante, a ponto de realmente causar estragos, de modo que, do contrário, não haveria sequer menção sobre medidas preventivas, na certeza de que estaria tudo muito seguro e tranquilo para o lado do governo, que demonstra se encontrar inseguro no cargo, porquanto a certeza de ter agido em estrita observância ao regramento legal conduz à certeza da tranquilidade, sem necessidade de incomodar o Centrão, em forma de socorro no Parlamento, não é verdade?

Os brasileiros anseiam por que os fatos objeto dos questionamentos em apreço sejam devidamente investigados, ante a imperiosa necessidade da prestação de contas dos atos da administração pública, em sintonia com os princípios da transparência e da legalidade, e que o seu resultado não verifique nenhuma irregularidade, mas se houver algo em contrário, em dissonância com as normas constitucional e legal, os envolvidos considerados culpados precisam sim ser devidamente responsabilizados, na forma da legislação aplicável à espécie, sob pena de a República brasileira se transformar em verdadeira esculhambação.  

Brasília, em 20 de julho de 2021

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