domingo, 21 de novembro de 2021

Os fins justificam os meios?

 

Vem circulando, nas redes sociais, vídeo onde um cidadão defende o governo, sob o princípio ético e lê e transcreve, no vídeo, célebre texto sobre o tema, escrito pelo famoso filósofo Nicolau Maquiavel, que o transcrevo a seguir.

“Um povo que aceita passivamente a corrupção e os corruptos, não merece a liberdade. Merece a escravidão. Um país cujas leis são lenientes e beneficiam bandidos, não tem vocação para a liberdade. Seu povo é escravo por natureza. Um povo cujas instituições, públicas e privadas, estão em boa parte corrompidas, não tem futuro. Só passado. Uma nação, onde a suposta sociedade civil organizada não mexe uma palha se não houver a possibilidade de lucros, não é capaz de legar nada a seus filhos, a não ser dias sombrios. Uma pátria, onde receber dinheiro mal havido a qualquer título é algo normal, não é uma pátria, pois nesse lugar não há patriotismo, apenas interesses e aparências. Um país onde os poucos que se esforçam para fazer prevalecer os valores morais, como honestidade, ética, honra, são sufocados e massacrados, já caiu no abismo há muito tempo. Uma sociedade onde muitos homens e mulheres estão satisfeitos com as sórdidas distrações, em transe profundo, não merece subsistir. Só tenho compaixão daqueles bravos, que se revoltam com esse estado de coisas. Àqueles que consideram normal essa calamidade, não tenho nenhum sentimento. Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão.”.

Nicolau Maquiavel defendeu muitas e importantes ideias políticas, a exemplos destas: “O estado forte depende de um governante eficaz, e para que ele seja bom, ele deve ter boas habilidades políticas.”. “São características relevantes de um bom príncipe (governante, na atualidade), ser bondoso, caridoso, religioso e ter moral.”. “Todas as pessoas são movidas exclusivamente por interesses egoístas e ambições de poder pessoal.” e “O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta.”.

Esse celebrado filósofo, Nicolau Maquiavel, que viveu em partes dos séculos XV e XVI, firmou memoráveis teorias que estão vivas ainda na atualidade, e são ricas de sabedoria e ensinamentos, a exemplo dessa importante lição pontificada no primeiro parágrafo, onde ele chama a atenção para a desgraça da leniência do povo com a corrupção do governante, afirmando que ele merece viver na escravidão, exatamente diante da aceitação da existência da devassidão moral por ele e isso o torna indigno de respeito.

Na verdade, a teoria defendida por Nicolau, em muito, se aplica aos brasileiros, de todas as ideologias, sendo que alguns viram governos roubarem fartamente de seus bolsos, conforme fatos investigados, por meio de empresas públicas, desviando montanhas de recursos para o financiamento de campanhas eleitorais milionárias, a compra da consciência de parlamentares para apoiarem seus projetos, no Congresso Nacional, o enriquecimento ilícito e outros fins e atividades abjetos e escandalosos, sob a visão dos princípios ético e moral, mas são absolutamente incapazes, agora, de rejeitarem que os suspeitos envolvidos nessas falcatruas ainda se aventurem à prática de atividades políticas, como se nada tivesse acontecido de maléfico à gestão pública?

No governo atual, a conjuntura não se diferencia em nada daqueles governos do passado, que eram formados, na sua estrutura administrativa, com a integração do famigerado Centrão, cujos participantes se envolveram em casos de corrupção com dinheiro público, sendo que alguns foram condenados à prisão e outros continuam respondendo a ações penais, mas todos, indistintamente, fazem parte da atual gestão, como se o Estado não pudesse sobreviver sem a participação do desgraçado e canceroso fisiologismo.

Causa enorme perplexidade que os brasileiros, tanto de ideologia da esquerda como da direita, estão todos de mãos entrelaçadas alegres e fagueiros defendendo os respectivos líderes dessa verdadeira esculhambação, como autênticos escravos da imundície que é patente à luz solar.

É lamentável se disseminar princípios éticos e se defender, ao mesmo tempo, governo de que condenava a "velha política" e agora convive, no mesmo espaço, dentro do Palácio do Planalto, com a cara mais lisa, entre integrantes do abominável Centrão, grupo político que é autêntico símbolo do indigno fisiologismo, como se essa pouca-vergonha fosse normal e ética

Na realidade, a aludida indigesta aliança é a materialização da prática indecente pelo governo, justamente porque essa decadência moral tem a aceitação de brasileiros, que ainda ficam publicitando a imagem dele, cujo titular transita entre os fisiologistas de estimação.

Onde está a ética nisso, em que há cristalina aceitação de prática fisiológica, eis que o Centrão somente passou a apoiar o governo a partir de quando ele aderiu às suas exigências de cargos na administração pública e liberação de emendas parlamentares, e isso se caracteriza por autênticos atos de corrupção, por haver visível desvio da ética pública, na forma do emprego de recursos públicos?

Com que cara devem ficar os defensores desses líderes, tanto de direita como de esquerda, que praticam desvios da ética pública, ao se associarem a grupos públicos desmoralizados e até criticados no passado, mas, na atualidade, estão mancomunados com os mesmos propósitos, tendo por objetivos comuns a manutenção do poder, em evidente detrimento da ética e do interesse públicos?

É lamentável que a ideologia ou a simpatia política, não importa se de direita ou esquerda, porque ambas as alas se mostram claramente resistentes aos princípios ético e moral, à vista dos fatos acima, consiga cegar as pessoas, que, por interesse ou conveniência, fecham os olhos para a realidade escandalosa e escancarada à luz solar.

Ao que se sabe, somente pode existir uma ética, que é aquela sem meios termos, que é irmã siamesa da moral e as duas andam juntas, de mãos dadas, como forma de mostrarem que, na gestão pública, não pode haver desvio da regularidade.

Enfim, no caso do governo atual, já se sabe perfeitamente qual é a “ética” dele, a ser defendida no pleito da reeleição presidencial e isso é da maior importância para os brasileiros honrados e dignos, à vista da sólida e consolidada união dele com o grupo político símbolo do fisiologismo, posto que essa verdade foi severamente condenada na campanha eleitoral de 2018, quando ele o condenava e escrachava a “velha política”, tendo sido, certamente, beneficiado pelos brasileiros que continuam a defender os princípios republicanos na administração do Brasil.

Ou seja, o povo escravo da corrupção, aqui considerada em termos de desvio da finalidade ético-moral, porque o fisiologismo é anomalia condenável duramente, ante o princípio republicano no sentido da legitimidade da pureza pública, sabe perfeitamente que vota também no Centrão e isso se harmoniza pela eternização da decadência moral da gestão pública, com o declarado apoio do povo, que demonstra não ter o menor escrúpulo em não defender a limpeza das sujeitas que enlameiam a dignidade do Brasil.   

Urge que os verdadeiros brasileiros, que valorizam os autênticos princípios ético e moral, se conscientizem sobre a necessidade de o Brasil ser passado a limpo, por meio de assepsia profunda da sujeira que macula a República, onde ridiculamente ainda há a aceitação de práticas em que os fins justificam os meios, obviamente em defesa de conveniências espúrias, como forma de perpetuação do poder ou da manutenção nele, em lamentável detrimento dos interesses da sociedade.

Brasília, em 21 de novembro de 2021

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