terça-feira, 30 de novembro de 2021

Carnaval versus coronavírus

 

Em vídeo que circula nas redes sociais, o ministro das Comunicações se manifestou acerca da realização do Carnaval, alimentando a troca de críticas e ataques entre integrantes do primeiro escalão do governo federal e governadores, tendo como cerne o possível recrudescimento do contágio do coronavírus, fato este que se aconselha o adiamento dessa festa popular, conforme a defesa dos principais assessores do governo.

O ministro esclarece que os blocos carnavalescos de São Paulo estimam a reunião de cerca de 18 milhões de pessoas nas ruas, no período de folia, tendo concluído que “Depois, não venham  acusar o presidente!”.

O ministro disse que “Palhaçada é isso. Deixam as crianças sem aulas, as pessoas sem emprego e agora querem liberar o Carnaval no Brasil? Mesmo depois da cepa sul-africana”.

A verdade é que o Carnaval não é só alegria, porque há embutido nele importante fator econômico, que tem a força poderosa de jogar para o alto qualquer argumento sobre a importância da vida.

Tanto isso é verdade, que os organizadores do Carnaval, juntamente com as empresas de turismo e o setor hoteleiro, estão se mobilizando para a realização da festa popular, sem qualquer restrição, inclusive já tendo campanha publicitária, na internet, com o slogan “Carnaval sim”.

Por enquanto, a realização do Carnaval em São Paulo e Rio de Janeiro está liberado.

Sob o prisma da sensibilidade humanista, que normalmente visa ao bem da população, na qualidade da preservação da vida, não haveria necessidade nenhuma de ministros e assessores ficarem criticando coisa nenhuma nem mandando recados para todos os lados, inclusive fazendo ameaças às mais estapafúrdias possíveis.

O presidente do país, com o mínimo de sensibilidade humanitária e competência administrativa, tem o dever constitucional de compreender a gravidade da questão referente à realização do Carnaval, para o fim de se buscar o denominar comum, no sentido de se reunir as autoridades públicas, em nível nacional, com a liderança e a coordenação do Ministério da Saúde, juntamente com a sociedade civil diretamente interessada com a realização da festa carnavalesca, exatamente para se discuti-la e examiná-la em profundidade.

Essa medida tem por finalidade se chegar ao padrão de comportamento que possa sinalizar para o real quadro da saúde pública, com as implicações da pandemia do coronavírus, evidentemente tendo como epicentro as consequências sobre as aglomerações naturais dos festejos momescos.

Ou seja, para quem tem um pouco de massa cinzenta no cérebro, o que precisa mesmo é bom senso, raciocínio, competência e eficiência administrativas, para se antecipar aos fatos e decidir em harmonia com o interesse público.

É preciso apenas que haja autoridade para ter a iniciativa para liderar as importantes questões nacionais e procurar, ao seu tempo, adotar as medidas apropriadas, como fazem os governos evoluídos e de vanguarda.

Como isso é absolutamente impossível no país tupiniquim, ministros e assessores governamentais ficam se manifestando, sem base em nada de concreto, porque eles apenas falam sobre conjecturas, na perspectiva de que o presidente do país não pode ser responsabilizado pelas consequências desastrosas do Carnaval.

Se essas mesmas autoridades tivessem o mínimo de experiência administrativa, iam perceber claramente que o único responsável nessa questão do Carnaval é o mandatário do país, que se omite, de forma cristalina, sobre a imperiosa necessidade de discutir, com todos os detalhes, a conveniência de ter ou não Carnaval com segurança e, conforme as conclusões dos estudos, se posicionar com a autoridade de governo competente e responsável.

É profundamente lamentável que as pessoas fiquem aplaudindo autoridades que se atrevem a opinar e até  ameaçar, evidentemente em nome do governo, quando elas deveriam ter a sensibilidade para chamar a causa para si, ou seja, para o governo, a fim de decidir exatamente no estrito dever da sua incumbência constitucional de cuidar e zelar, de forma efetiva, da vida dos brasileiros.

Quando há falência de iniciativa do governo, as consequências terríveis são inevitáveis, a exemplo da insensibilidade governamental ocorrida no combate à crise da pandemia do coronavírus, que foi visivelmente soberba a falta de liderança e coordenação por parte governo federal, que tem a incumbência constitucional de cuidar da saúde dos brasileiros.

No caso do combate à pandemia do coronavírus, o que o mundo viu prevalecer mesmo foi o negativismo sobre o mal do século, cujas consequências foram desastrosas, à vista da contabilização de mais de 600 mil mortes, verdadeira calamidade humanitária, que certamente poderia ter sido minimizada, ao menos, caso o governo federal tivesse tido interesse em liderar e coordenar medidas agressivas e de impacto, de âmbito nacional, contra a Covid-19, quando, na verdade, a sua incumbência se limitou às medidas necessárias, que foram insuficientes, diante da brutal desproporcionalidade impingida pelo coronavírus, que até contou com o inegável negativismo acerca da doença.

O Carnaval se oferece como grã oportunidade para que o governo possa agir o mais rapidamente possível e mostre a sua verdadeira capacidade de liderança, em harmonia com a sua incumbência constitucional de preservação da vida dos brasileiros, no sentido de adotar as medidas necessárias, na busca da adequada solução para esse imbróglio do Carnaval, de modo que, desta feita, a sua imperdoável omissão não venha acompanhada com as ridículas desculpas posteriores de não aceitação de culpa pela desgraça da saúde pública, a exemplo do que ocorreu com o combate à pandemia do coronavírus, onde a sua inação, diante de tão grave crise, pode sim ter contribuído para a potencialização da tragédia.   

Não se pode culpar  ninguém senão o próprio povo por essa situação de calamidade por que passa o país, porque ele se conforma com casos nefastos e de precariedades gerenciais e ainda se digna a aplaudir o governo, dando seu apoio, em convalidação aos atos visivelmente inaceitáveis, por envolver a vida dos brasileiros, quando se esperava exatamente o contrário, ou seja, que houvesse exigência dos brasileiros para que o governo procedesse sempre em harmonia com os princípios da competência e da satisfatoriedade do interesse público.

Em se tratando do envolvimento de saúde dos brasileiros, a Constituição diz, ex-vi do disposto no art. 196, que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços à sua promoção, proteção e recuperação.”.

Quando a Lei Maior do país diz que “é dever do Estado”, compete ao presidente do país a incumbência, quer queira ou não, de garantir os meios necessários à consecução da falada redução de risco, ou seja, ele tem a obrigação de fazer tudo para a preservação da vida dos brasileiros, com a adoção de políticas necessárias à minimização das crises na saúde pública e o caso do Carnaval tem tudo a ver com essa situação, diante do risco sobre a incidência de contágio do coronavírus com as aglomerações de pessoas, que são inevitáveis nas festas carnavalescas.

          Trata-se de medida impositiva ao Estado, que o presidente do país precisa entender como sendo do seu dever, cuja incumbência deve ser vista com a maior seriedade possível, sem as corriqueiras brincadeiras irresponsáveis de que tudo é culpa do mandatário, porque os casos elencados na Carta Magna, envolvendo a saúde e a vida dos brasileiros, exigem o maior respeito, a exemplo do combate à pandemia do coronavírus e, agora, essa difícil questão do Carnaval, que são sim da competência do Estado, cabendo ao governo agir de maneira diligente e responsável.

          A verdade é que o governo vem tratando os assuntos da sua incumbência constitucional, como nesse caso do Carnaval, sem a menor preocupação inerente ao seu precípuo dever de agir, possivelmente em razão de ainda não ter sido responsabilizado judicialmente sobre as suas omissões, porque se, caso a caso, houvesse penalização por omissão e desídia, certamente que seriam redobrados os cuidados quanto ao seu dever de agir, em especial no que diz respeito à preservação da vida das pessoas.     

Convém que o governo federal compreenda a sua verdadeira incumbência constitucional de presidir o Brasil, tendo conhecimento da exata dimensão de que já passou do tempo para se conscientizar de que esse jogo de empurra instituído para não se realizar o que precisa, tendo como sustentação acusações e críticas, muitas das quais somente para alimentar deprimentes polêmicas e futricas, que não levam absolutamente a lugar algum, conforme mostram os fatos do dia a dia, e ainda tem o condão de contribuir para o agravamento dos casos que tais, a exemplo desse assunto relacionado com o Carnaval, que precisa ser resolvido com muita urgência, porque envolve a segurança da vida de brasileiros.

Urge que o governo se conscientize no sentido de entender que as causas nacionais da competência constitucional do Estado, como nesse caso da realização do Carnaval, porque elas dizem respeito diretamente ao interesse público, à vista do envolvimento da saúde e da vida de brasileiros, precisam ser examinadas com a maior seriedade possível, de modo que os estudos a serem promovidos nas esferas competentes sirvam de orientação segura sobre o pensamento e a orientação do governo, com embargo, em definitivo, das opiniões e das críticas que somente contribuem para tumultuar ainda mais e gerar crises que somente promovem discordâncias e distanciamento das questões que precisam de solução, com base no gerenciamento competente e eficiente.

Brasília, em 30 de novembro de 2021

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