segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Repúdio ao "orçamento secreto"

 

Em entrevista a um canal de notícia, um deputado federal revelou fatos sobre os bastidores da eleição do presidente da Câmara dos Deputados.

Ele afirmou, in verbis: “A promessa de R$ 10 milhões em emendas do orçamento secreto para cada deputado que votasse em Lira. É o Bolsolão, o esquema de compra de votos do governo Bolsonaro”.

O mencionado deputado revelou detalhes de como funciona o aludido “orçamento secreto” do governo, ou mais precisamente o esquema da troca de votos dos parlamentares por emendas do relator, como sendo “um novo tipo de rubrica de gastos que totaliza uma montanha de R$ 18,5 bilhões em 2021, propostos por deputados cujos nomes são mantidos em sigilo pela Câmara”.

O parlamentar disse “ter recebido a oferta de R$ 10 milhões em emendas em troca do voto em Lira. Pode ter sido até mais. Outros R$ 10 milhões foram acordados no mesmo período, mas ele não soube precisar se também em troca do voto em Lira ou da aprovação de algum outro projeto à época”.

          Foi também destacado, na entrevista, o preço do voto a favor da reforma da Previdência, onde o deputado teria dito ao repórter que: “Se o orçamento secreto é uma novidade, a troca de votos por emendas, não. Waldir me disse que, ao votar a favor da reforma da Previdência, em 2019, cada parlamentar teria direito a R$ 20 milhões em recursos do governo federal. O goiano, por ser líder do PSL, levou o dobro”.

O deputado rompeu a parceria com o presidente do país em meio à crise que levou o mandatário a deixar o PSL.

A presente acusação que o deputado faz contra o governo não é nenhuma novidade, porque os fatos já são do conhecimento da sociedade que os inescrupulosos parlamentares estão negociando seu voto por emenda parlamentar, com recursos provenientes do “orçamento secreto”.

Ressalte-se que esse estrambótico orçamento é uma criação da “velha política”, apoiada pelo governo, que foi aprovado justamente para o atendimento dessa pouca-vergonha que se processa sob o prisma da cristalina irregularidade, embora sob a transvestida égide de legalidade, por ter sido aprovado pelo Congresso, ou seja, trata-se orçamento de encomenda para as falcatruas de interesses escusos, conforme mostram os fatos.

O mais grave desse indecente orçamento é que, por meio dele, a despesa pública se processo sob sigilo, quando, na forma da Constituição, o gestor é obrigado a prestar contas dos gastos, justamente para a comprovação da boa e regular destinação dos recursos dos contribuintes.

A verdade é que o sigilo se destina, quer queira ou não, à precisa finalidade de não se permitir a divulgação dos fatos irregulares pertinentes à realização das despesas, compreendendo, em especial, o nome do beneficiário dos recursos, o gestor, que não tem competência legal para executar despesa pública, o valor do repasse, a real finalidade e o que mais interessa, que é a satisfação do interesse público, ou seja, é uma montanha de irregularidades que somente se encaixam na mentalidade dos integrantes desse aproveitador grupo político chamado Centrão, que tem o acompanhamento do governo nessa verdadeira patifaria com o dinheiro dos brasileiros.

Somente o fato de se tratar de orçamento sigiloso já diz claramente que a marmelada está embutida nessa patifaria, uma vez que o funcionamento sob sigilo para gastos públicos, que exigem o máximo de transparência, já mostra, à saciedade, que todos os procedimentos estão sob forte suspeita, não merecendo a mínima credibilidade.

Há que se censurar essa promiscuidade orçamentária, como fez o Supremo Tribunal Federal, que determinou o trancamento do indecente “orçamento secreto”, nessas condições, e a regulamentação da execução dele, para que a destinação de seus recursos seja feita sob absoluta transparência, porque é exatamente dessa forma que os gastos públicos devem transcorrer, em governo com o mínimo de seriedade, competência e responsabilidade, uma vez que a Constituição obriga a prestação de contas, exigência essa que se torna impossível, na forma do sigilo estabelecimento, onde não se sabe, pasmem, sequer quem recebeu os recursos.

O “orçamento secreto” é tão indigno para os políticos que essa infeliz modalidade de gastos públicos não existia nem mesmo nos governos mais desonestos já existentes no Brasil, o que mostra, com muita clareza, a que nível foi capaz de se submeter o atual governo, ao permitir tamanha excrescência com o dinheiro público, depois que se coligou, espontânea e prazerosamente, com a especialista turma fisiológica do Congresso.

É preciso se reconhecer que o desprezível “orçamento secreto” é criação dos intelectuais do Centrão, o gestor dos recursos fica também por conta dos caciques desse grupo, que é mentor dessa “engenhosidade” orçamentária, que constitui vergonhoso atrevimento à decência dos gastos públicos, que ainda tem a incumbência da negociação e cooptação dos votos dos desavergonhados aproveitadores, ficando também sob à sua responsabilidade a distribuição dos bilhões de reais, estimados em 18,5, de forma absolutamente imoral e recriminável, embora essa indignidade tenha sido aprovada pelos congressistas.

É até possível que os defensores do governo aleguem que ele não teve qualquer ingerência nesse tumor orçamentário, em razão de ele ter sido de iniciativa do próprio Congresso e aprovado por ele, o que é pura verdade, mas a incumbência privativa dos gastos públicos, na forma do disposto nos arts. 165 a 169 da Constituição Federal, é do Executivo, que somente pode executar os orçamentos da União, falecendo a mínima competência ao Legislativo para cuidar de orçamento e da execução de despesas públicas, por qualquer das suas formas.

Nesse caso, o governo foi extremamente omisso, quando aceitou passivamente a imposição do estrambótico “orçamento secreto”, que é forma de orçamento paralela ao Orçamento da União, que não pode ter concorrente, à vista do ditame constitucional.

Diante dessa aberração orçamentária, o Executivo deveria ter, imediatamente, questionado, no Poder Judiciário, a legitimidade desse indecente orçamento, que jamais deveria ter sido aceito pelo governo, mas certamente ele não o fez porque, se o fizesse, poderia contrariar seus próprios interesses e, em especial, a inteligente iniciativa do Centrão de poder manejar, por conta própria, bilhões de reais, exatamente em harmonia com a sua índole fisiológica.

Ante o exposto, convém que os brasileiros honrados e dignos demonstrem veemente repúdio ao excrescente “orçamento secreto”, bem assim aos seus executores, nas pessoas do governo e do Centrão, de modo a mostrarem a sua indignação pela forma inapropriada da execução dos gastos públicos, que devem obedecer aos princípios da legalidade e da transparência, diante da obrigatoriedade constitucional da prestação de contas referentes às despesas públicas.

Brasília, em 22 de novembro de 2021

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