O
presidente da República concedeu a si próprio, pasmem, o mais alto título de
grão-mestre da Ordem Nacional do Mérito Científico, honraria reservada a "personalidades
nacionais e estrangeiras que se distinguiram por suas relevantes contribuições
prestadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação".
Além
do presidente do país e alguns ministros, foram concedidas medalhas dessa ordem
a 32 professores e pesquisadores de diversas áreas da ciência.
A
condecoração ao presidente do país acontece momentos logo após a Comissão Parlamentar
de Inquérito da Covid, realizada no Senado Federal, sugerir o indiciamento dele
por crime contra a humanidade, além de outras graves acusações, diante da constatação
de omissões do governo em relação ao combate à pandemia do coronavírus.
O
presidente do país também deixou de se vacinar contra Covid-19, vem defendendo
rotineiramente medicamentos com ineficácia comprovada para o tratamento da
doença e tem sido contumaz contrário ao uso de máscara de proteção, mesmo em
aglomerações, fatos que podem pôr em risco a vida dos brasileiros.
Embora
o presidente do país se oponha às medidas de orientação de combate à pandemia
do coronavírus, elas têm o respaldo das autoridades públicas e das organizações
internacionais que cuidam da saúde, a exemplo das vacinas disponíveis no Brasil
contra a Covid, que são seguras e eficazes, e tiveram seu uso autorizado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Contrariando
as ideias do presidente do país, que não concorda com a eficácia da vacina,
tanto que não a tomou, foi a partir da imunização dos brasileiros que houve a significativa
redução das mortes, fato que mostra que as vacinas têm sido efetivamente essenciais
para o controle da contaminação da Covid-19 e consequentemente do número de óbitos,
com expressiva diminuição também das internações hospitalares, por causa da
doença.
Diversos
estudos científicos já comprovaram que o uso de máscara é peça-chave da maior
importância para a contenção da disseminação do coronavírus.
Tudo
isso só mostra que o presidente do país anda na contramão da ciência,
exatamente por proceder conforme a sua mentalidade um tanto arredia aos
princípios científicos, conforme tem sido assim o seu comportamento de
prepotência, nesse particular.
Em
se tratando da área específica da ciência de competência institucional do
governo, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
teve, no exercício de 2021, pasmem, o menor orçamento dos últimos 21 anos, fato
este que só demonstra a má vontade do governo em relação à evolução científica no
Brasil, uma vez que os investimentos na área evidenciam forma clara de
interesse às políticas científicas essenciais ao desenvolvimento socioeconômico
da nação.
Nessa
mesma linha, há previsão desastrosa para o exercício de 2022, quando o já
diminuto e acanhado orçamento do que se denomina Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações - por não merecer esse pomposo nome nesse governo -
sofrerá expressivo corte, pasmem, por ser absolutamente inacreditável, da ordem
de 92% em relação a este ano, que já tendo passado por monstruoso corte, o que
deixará aquela pasta totalmente à míngua de recursos orçamentários, sem condições
para a execução nem mesmo do mínimo das suas importantes políticas científicas
e tecnológicas.
Esta
é a primeira condecoração dessa ordem concedida no atual governo e veio logo
para mostrar a sua verdadeira insignificância, porque, nesse caso, parece piada
pronta que pessoa que se empenha em negar a importância da ciência seja
agraciada com o título maior da sua ordem e isso é forma declarada da falta de
seriedade com relação a assunto da maior importância e respeito, que exige o
máximo de sensibilidade de avaliação, em especial por parte de quem tem o dever
institucional de justificá-la, à vista dos princípios da justiça e da
legalidade.
Com
todo esse espantoso ato completamente desviado do padrão de mérito, essa
completa indiferença às causas da ciência, tudo devidamente conspirando contra
a reafirmação dos princípios científicos, o presidente, autêntico símbolo da
anticiência, ainda tem o desplante de autoconceder-se o título de grão-mestre
da Ordem Nacional do Mérito Científico, que, em princípio se destina ao
reconhecimento do governo a "personalidades nacionais e estrangeiras
que se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência, à Tecnologia
e à Inovação".
Na
verdade, comparando o que realmente o presidente do país representa para a
ciência, as suas reiteradas atitudes contrárias aos princípios científicos e tecnológicos,
com o verdadeira significado da honraria em causa, conforme a definição clara constante
do parágrafo anterior, vê-se que esse título tem realmente o gigantesco sentido
de causar forte emoção, especialmente no caso da deferência ao mandatário do
Brasil, pela extrema incoerência, quando ele é sim personalidade que precisamente
se distingue por seus relevantes serviços contrários à ciência, à tecnologia e
à inovação, não fazendo jus, por força da sua verdadeira finalidade, à medalha
alguma nessa área, muito menos a de grau máximo, à vista da insignificância do
titular, conforme mostram os fatos disseminados por ele.
Na
verdade, a concessão da honraria em causa ao presidente da República tem o
condão de simplesmente desprestigiar todas as importantes autoridades que
realmente foram distinguidas por seus verdadeiros méritos, que comprovaram contribuição
à ciência, à tecnologia e à inovação, ficando agora na companhia de personalidade
sem qualificação nenhuma, mostrando a verdadeira insignificância da comenda.
A
verdade é que os 32 personagens que se juntam ao presidente, nessa condecoração,
não têm culpa nenhuma por tamanha gafe protocolar oficial, mas, em respeito à
dignidade que deve existir na ordem do mérito científico, seria o caso de
recuso ao recebimento do honroso título, por que na companhia de declarado anticientista.
Nessa
mesma linha de raciocínio, seria mais do que justo que os verdadeiros
cientistas que já foram agraciados com expressiva comenda tivessem a dignidade
de devolver ao governo as suas medalhas, em repúdio a esse abusivo e inadmissível
ato.
Nem
precisa de muito esforço de interpretação, mas a concessão dessa honraria a
alguém que nega publicamente a ciência, prestando enorme desserviço aos
princípios científicos, em especial, é forma explícita e declarada de que ela
não merece o mínimo respeito, exatamente nesse caso específico, diante da comprovação
de que o ato em si tem toda característica de falsidade ideológica, quando a
administração pública não pode desviar da finalidade da lei, que exige
necessariamente o exame do mérito.
Em
um país com o mínimo de seriedade, em termos dos princípios republicanos,
jamais o presidente da nação concederia tão importante honraria a si próprio,
porque, nesse caso há clara ofensa, de forma grosseira, ao princípio constitucional
da impessoalidade, havendo evidente ferimento ao critério do mérito, que fica induvidosamente
materializado no caso.
O
próprio titular da comenda deveria perceber que ele não faz jus, nem de longe, à
importante medalha, porque está escrito no regulamento próprio que a sua
concessão é exclusivamente para distinguir alguém por causa justa, como, por
exemplo, excelentes contribuições à ciência, mas esse critério foi estuprado,
com violência, pelo próprio presidente do país, conforme evidenciam os fatos.
Em
compreensão mais restrita, o ato presidencial pode ser comparável a abuso de
poder, quando o seu sentido não guarda conformidade com a satisfação do
interesse público, sendo passível de anulação, caso ele fosse questionado
judicialmente.
Assim,
diante da indiscutível disparidade do ato presidencial com a finalidade
pública, uma vez que ele não satisfaz os requisitos mínimos para o merecimento
da honraria de grão-mestre nem de reconhecimento algum por seus desserviços à
ciência, à tecnologia e à inovação, convém que o questionado ato seja imediatamente
anulado, para o bem da gestão pública e como forma honrosa da convalidação do real
mérito com relação às personalidades que já foram distinguidos com as comendas,
por inteira justiça de merecimento, na forma da lei.
Brasília,
em 5 de novembro de 2021
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