sábado, 13 de novembro de 2021

Atropelamento da moralidade?

O presidente do PL confirmou, por meio de vídeo, que o presidente da República assinará sua ficha de filiação ao partido, no próximo dia 22, tendo ressaltado que o evento contará com a presença de autoridades e os filiados à agremiação.

          Aquele presidente disse que “É com grande satisfação que eu anuncio para o dia 22 de novembro a assinatura da ficha do presidente Jair Bolsonaro, onde traremos nossos companheiros, nossos prefeitos, nossos amigos, nossos filiados para acompanhar essa filiação, que é um assunto de grande importância para o país, e que nós vamos ter uma grande participação nessa eleição”.

O presidente do país tentará a reeleição pelo PL, tendo negociado que o candidato a seu vice  de chapa deverá ser indicado pelo PP, que é outro importante partido do chamado Centrão, ou seja, trata-se de chapa puro sangue do desrespeitável fisiologismo.

Ressalte-se que o presidente do PL foi deputado federal, tendo sido condenado e preso por seu envolvimento como privilegiado recebedor de propina no recriminável esquema do mensalão, que se tornou “famoso” no governo do PT.

Em conversa com apoiadores, o presidente do país justificou a sua filiação ao PL, agora confirmada, sob a alegação de que todos os partidos têm problemas, dando a entender, com muita clareza, que ele tem consciência que o seu novo partido não vale uma pacata de real furada.

Nem precisaria de esforço para se compreender perfeitamente que a personalidade do presidente do país, no momento, como governante, se identifica, em ajustamento estrutural, com o que de pior existe em termos de imoralidade e indignidade, tendo como respaldo a sua espúria aliança com o famigerado Centrão, que, por si só, expõe a completa falta de zelo pela pública, uma vez que sabe, melhor do que ninguém, que o indigno grupo que vai passar a integrar oficialmente é a nata da “velha política”, que se caracteriza pelo deprimente fisiologismo, repudiado pelos brasileiros honrados.

Acredita-se, por dever de honestidade política, que, se o atual presidente do país realmente se candidatar à reeleição, ao pedir voto, tenha a dignidade de informar aos brasileiros dignos que ele representa o desgraçado e deformado moralmente Centrão, justamente aquele que ele condenava no pleito anterior, mas por conveniência política, desta feita, as condições que se lhe ofereciam favoráveis vieram exatamente das hostes desse deplorável grupo político, que escancarou as portas de um dos principais partidos para prestar-lhe todo apoio de que ele precisava para continuar no poder.

É evidente que o presidente do país, ao dignar-se a se juntar ao que de pior existe na política brasileira, terá o adjutório de sábias e providenciais justificativas para dizer aos seus fanáticos seguidores que seria obrigado a encerrar a carreira ou algo muito forte se não se filia-se ao PL, porque não se lhe vislumbrava outra alternativa que servisse de salvação da sua carreira política e todos vão acreditar, felizes com as espetaculares justificativas capazes de salvar o Brasil dos comunistas, porque essa desbotada alegação de combate à esquerda somente engana os ingênuos.  

Enfim, o presidente do país se elegeu, em 2018, tendo por base, em essência, o forte discurso de intransigente combate à imoralidade na administração pública, fazendo duras críticas ao sistema criminoso do “toma lá, dá cá”, que tem sido a política mais agregada à corrupção, que tem como principais cultores os partidos integrantes do deplorável Centrão, a quem o seu novo partido pertence como uma das principais lideranças, tendo participado ativamente do partido que implantou os deploráveis mensalão e petrolão na administração pública.

Chega a ser bastante estranho que, no passado, o presidente do PL tenha sido criticado pelo presidente do país e pelos filhos dele, mas isso foi devidamente contornado como forma evoluída de pacificação inteligente, tendo em conta, evidentemente, a boa vontade para se selar os termos da paz, porquanto os interesses comuns devem falar bem mais alto do que qualquer princípio de moralidade e respeito aos demais princípios.

Por seu turno, um dos filhos do presidente do país, certamente dominado pelos bons fluidos espargidos pelas frutíferas negociações que levaram o seu pai ao  seio do Centrão, apagou um post no Twitter, de três anos atrás, que tratava de notícia da mídia dando conta de reportagem que mostrava pagamentos de propinas ao então PL e ao seu presidente.

É evidente que o presidente do país pode ficar tranquilo, a partir de então, com a sua filiação do PL, que garante, na forma da lei, a sua candidatura à reeleição, podendo usufruir dos direitos inerentes ao filiado partidário, porém ele consegue criar, para si, gigantesco desconforto, em especial no que diz respeito a acusar seus adversários políticos de desonestos e corruptos, justamente porque ele perde total autoridade para fazê-lo, uma vez que se junta ao famoso bando de políticos que têm como ideologia marcante o fisiologismo, que se traduz, popular e reconhecidamente na prática, em aproveitar as oportunidades para se tirar vantagem, como o que atualmente acontece oficializado no governo, que vem sendo orientado pelo Centrão.

Ou seja, o Centrão é o desmoralizado grupo político que se apoderou do governo, depois do acordo selado entre ambos, passando a fazer jus a cargos, como a ocupação de três importantes cargos no Palácio do Planalto, sendo um logo a Casa Civil, além da liberação de emendas parlamentares, tendo por contraprestação do grupo a eventual blindagem contra a abertura de processo de impeachment na Câmara dos Deputados, em que caso de questionamentos sobre possível prática de crime de responsabilidade pelo presidente do país.

Com a filiação em tela, o Centrão agora tem em mãos a faca e o queijo, podendo se beneficiar à vontade, em especial porque o presidente do país faz parte da confraria fisiologista, que não tem a mínima moral para reclamar sobre nada suspeita de imoralidade, porque se o fizer terá como resposta o deboche, diante da falta de autoridade para exigir qualquer forma de moralização, porque a sua índole já diz perfeitamente a negação ao respeito aos princípios republicanos, que repudiam a indignidade do fisiologismo praticado pelo partido do presidente do país, na qualidade de integrante daquele grupo desmoralizado.

À toda evidência, o presidente brasileiro, em termos comparativos, à vista do seu rigoroso sentimento de perseguição à moralidade, abusivamente disseminada na campanha eleitoral de 2018, demonstra ter colossal recaída moral, ao optar para se aliar justamente àqueles a quem e ele recriminava e acusava de “velha política”, chegando a afirmar que os repudiava seus integrantes e jamais seria um deles.

É inacreditável que homem público da maior relevância consiga perder a consciência moral, em processo visivelmente de decadência política, que se confirma pela continuada perda de credibilidade, em que parte da população reprova o seu governo, certamente em razão de guinada gigantesca como essa de filiação a partido carente de dignidade e moralidade, à vista da sua filosofia política, que tem como princípio o fisiologismo e sobre isso os fatos sabiamente  cuidam de mostrar.

Sabe-se que o presidente do país optou por se filiar ao PL porque ele é partido muito bem estruturado nacionalmente, que foi o principal fator para tão importante decisão, que sequer foi levado em consideração que ele também é uma das siglas mais implicadas em corrupção na história recente da política brasileira.

Esse fato deixa à mostra que a escolha do presidente entra em rota de colisão, em elevada contradição mesmo com o seu discurso contra a “velha política”, que se funda no indecente sistema conhecido como “toma lá, dá cá”, que é, na verdade, a antítese do princípio da moralidade e que somente resta à decência política o sentimento de desprezo e repúdio.

Nem precisa ser entendedor de política para se concluir que os fiéis bolsonaristas vão se sacrificar para ingerir esse monstruoso e indigesto sapo, que foi empurrado de goela abaixo deles pelo “todo-poderoso”, em que pese todo fanatismo que cada vez mais vinha se apoderando deles.

Com absoluta certeza, essa é a maior traição protagonizada pelo mandatário do país, que ainda vem engatinhando no cargo, embora já pensando em reeleição, em especial porque o principal argumento de moralidade que ele sustentava, principalmente na campanha eleitoral, acaba de ter a sua cara, literalmente, metida no lamaçal do lastimável Centrão e não tem, em princípio, nada que possa justificar monstruosa derrapada presidencial na lama pútrida, pelo menos à vista dos comezinhos princípios do decoro, da dignidade e da moralidade, que foram grosseira e ridicularmente atropelados.

          Os brasileiros honrados que votaram no presidente da República, em especial tendo por base o seu arraigado sentimento de moralidade desejável para o Brasil, se declaram perplexos e extremamente decepcionados com a sua atitude de se filiar a partido que tem como princípio o famigerado fisiologismo, que é ideologia nefasta, completamente incompatível com os princípios republicanos e ao aperfeiçoamento da saudável democracia.

Brasília, em 13 de novembro de 2021


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