Há muitas
histórias que falam que alguns fatos só acontecem com o Botafogo, mas desta
feita uma situação lamentável aconteceu precisamente comigo, que sou torcedor
desse glorioso time desde tenra idade e nunca tinha chegado a tamanho desânimo.
O que aconteceu comigo foi verdadeiro, cujo fato precisa
ficar registrado, como memória viva que passa para a história, por entender que
vale a pena que ele seja contado, para conhecimento amplo e permanecer por gerações,
porque ele existiu de verdade e certamente é inusitado.
Pois bem, ainda no meado do primeiro turno, em julho,
o Botafogo se encontrava na pior fase, em termos de desempenho, somente
colecionando derrotadas para times de pouco expressão nacional, que aproveitavam
a fragilidade dele para fazerem a sua festa particular sobre ele, em comemoração
de vitórias inacreditáveis, evidenciando, com isso, que o futuro do Glorioso
seria certamente tristonho e melancólico no certame.
Essa preocupante situação me incomodava bastante, a
ponto do desânimo tomar conta de vez da minha esperança quanto à recuperação do
time no campeonato, porque o desempenho do Glorioso era apenas medíocre e desastroso.
Foi exatamente nessa ocasião que eu decidi tomar
mais uma importante decisão, no sentido de escrever uma crônica e esculhambar,
em definitivo, tudo e todos e colocar para fora todo o meu sentimento sobre o
que pensava de ruim, naquele instante.
Além disso, eu decidi ainda que não assistiria mais
nenhum jogo do time do meu coração, enquanto aquela triste realidade não fosse
mudada.
Eis a seguir a crônica que escrevi, quando perdi
totalmente a esperança sobre a sobrevivência da famosa Estrela Solitária, nesse
disputadíssimo campeonato da Série B: “Sou botafoguense desde criancinha, talvez há
mais de 65 anos, e sempre torci pelo Glorioso, inclusive nos seus piores
momentos, que sempre teve a dignidade de superar as dificuldades, com a garra
própria da sua honrosa tradição de time bravo e vitorioso, mas agora, pelo que
ele vem demonstrando de resultados inglórios e vergonhosos, faz o coração do Glorioso
sangrar de infinito desânimo.
A
partir da semana passada, não mais me interesso pelos jogos dos jogos desse
time que só causa dissabor e vexame e somente voltarei a assistir aos jogos do
Botafogo quando ele tiver time de verdade e competitivo, porque esses jogadores
que estão nele são absolutamente indignos de serem classificados como atletas, não
tendo as mínimas condições de vestir o seu manto sagrado, de tantas consagradas
e memoráveis conquistas.
A
verdade é que os jogadores não têm a menor culpa pela desgraça impingida ao
clube e à sua torcida, para figurar, na atualidade, entre os piores times de futebol
do Brasil, isso é absolutamente imperdoável, diante da irresponsabilidade e da
falta de amor ao clube que propiciou felicidade e incontida alegria aos seus amantes
torcedores, que estão completamente destroçados com esse grave, irreversível e
injustificável castigo (...).
E
tem mais, que é ainda bem pior, nas precárias condições atuais, jamais esse timeco
poderia se apresentar em público, para se evitar passar por mais vergonha e
humilhação, como vem fazendo diante de sucessivas derrotas, manchando cada vez
mais a imagem gloriosa do Botafogo.
O
ideal mesmo seria que o Botafogo, em respeito às suas memoráveis conquistas,
somente voltasse a se apresentar em público quando realmente tivesse em
condições de ter time para representá-lo com a dignidade e o respeito ao honroso
patamar que ele sempre ostentou no cenário nacional e mundial de futebol.
É
muito triste vê-lo penar com derrota após derrota, sem condições mínimas de reação,
se arrastando em campo e caindo pelas tabelas.
Esse
time que está aí é a imagem da indecência e da indignidade envergando a camisa
sempre majestosa do Botafogo, de modo a apenas contribuir para denegrir o seu
nome e desmoralizar a sua imponente tradição de conquistas mil.
(...)
porque melhor seria que ele nem existisse nessas condições de tristeza e
precariedade, uma vez que só assim se manteria o seu bom nome e se evitaria a
humilhação à linda e gloriosa história de um dos maiores e mais queridos times
não somente do Brasil, mas do mundo, com a sua amada estrela solitária de
grande orgulho, que teve a honra de contar com o seu símbolo maior: o
Garrincha, um dos maiores jogadores mundiais de todos os tempos.
É
muito triste ter que fazer comentário com tanta veemência como este, mas a
realidade é que o Botafogo conseguiu chegar ao píncaro da mediocridade e da
decadência, em termos de time, diante da péssima qualidade de seu elenco atual,
cujos jogadores são de mediano para inferiores, que, nos tempos do seu áureo
poderio eles poderiam se passar, no máximo, por profissionais como gandulas
(...).
É
preciso ser realista e reconhecer que o momento é muito difícil para o
Botafogo, por ter chegado em situação calamitosa que não tem condições de
revertê-la nem muito menos de sair do terrível status quo, salvo por
milagre realizado pelo deus do futebol, exatamente porque o elenco é
limitadíssimo e nada se vislumbra que possa ser feito para se mudar a
realidade.
Infelizmente,
o consolo é aceitá-la e viver apenas do passado, porque o presente é o mais
inglório possível, sem perspectiva de reversibilidade desse quadro de muita
tristeza.
Escrevi
estas linhas como desabafo de quem não se conforma que o Glorioso tenha sido
tão maltratado injustamente e infinitamente desprezado, a ponto de clube de
tantas gloriosas conquistas somente merecer viver, no presente momento, das
lindas lembranças do passado, porque time que é bom simplesmente inexiste...”.
Logo
depois dessa angustiante e melancólica mensagem, o generoso deus do futebol certamente
ouviu o meu clamor por piedade e compaixão dos torcedores do Glorioso e compreendeu
que era realmente o momento providencial de mudanças no time, a começar pelo
técnico e por alguns jogadores, fazendo com ele ganhasse sangue revigorado pela
garra da vitória e do sucesso, voltando à vida de time de verdade, com plena disposição
para mudar completamente o status quo de total apatia, da água para o
vinho, no dizer bíblico e as vitórias passaram a acontecer normalmente, quase
que por milagre.
Enquanto isso, a partir daquele fatídico momento até
ontem, que foi o último jogo realizado pelo Botafogo, eu cumpri a promessa de não
assistir nenhum jogo dele, apenas ficando sabendo o resultado das partidas
depois da sua realização.
Diante disso, ontem mesmo, cheguei à conclusão de que
o torcedor “pé-frio” do Botafogo sou eu, porque, depois que deixei de assistir
aos jogos do meu Glorioso, ele somente conseguiu importantes vitória atrás de vitória,
com pouquíssimos empates e derrotas e o resultado é mais do que auspicioso compensador,
porque a amada Estela Solitária foi o primeiro time da Série B a se classificar
para disputar a Classe A e ainda conseguiu a façanha de ser o líder entre
outros 19 clubes, que constitui façanha verdadeiramente extraordinária.
Como presente a mim mesmo, o próximo jogo do
Botafogo, eu terei o maior orgulho de assisti-lo, sabendo que o meu sacrifício
valeu a pena, porque, pelo menos para mim, fica a impressão de que os jogadores
sentiram implicitamente o peso do meu sofrimento e se empenharam em cada jogo,
fazendo com que o sucesso da sua dedicação fosse simplesmente notável, memorável
e até sobre-humano, diante da lástima pela qual o time estava mergulhado, sem a
menor perspectiva de recuperação, naqueles tempos sombrios.
Agora, olhem que notícia maravilhosa para os
torcedores do Glorioso, que se sentiam completamente impotentes e humilhados: O
Botafogo é o primeiro clube da Série B a conquistar o merecido acesso à Série A
do Brasileirão, do próximo ano e ainda com possibilidade de ser campeão do
campeonato que ainda disputa, faltando apenas dois jogos, mas isso não tem a
menor importância se comparado ao tão sonhado acesso à divisão superior do
futebol nacional.
Enfim, a felicidade que invade os corações dos
torcedores da Estrela Solitária extravasa todo espaço reservado neles, que
aproveitam este momento fantástico para agradecer ao deus do futebol pelo verdadeiro
milagre que realmente aconteceu, que parecia absolutamente impossível, mas a
conquista do acesso à Classe A do futebol nacional mostra que realmente algo
inexplicável somente acontece no Botafogo.
Brasília,
em 16 de novembro de 2021
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