sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Sujeira política?

 

Senadores aliados do presidente da República estão pressionando o Palácio do Planalto por nomeação em cargos e liberação imediata de emendas para a votação da PEC dos Precatórios, que acaba de ser aprovada pela Câmara dos Deputados, que objetiva a criação do Auxílio Brasil, considerado principal programa social do governo.

Em razão das citadas exigências, já houve pedido de vista coletivo da matéria, que obrigou a transferência da votação do parecer do relator, para a próxima semana, tendo por finalidade a criação de mais tempo para que o governo se digne a avalizar os pedidos elencados acima.

Os assessores presidenciais afirmam que os pedidos estão sendo feitos por senadores do MDB, que é o partido que tem a maior bancada no Senado Federal.

Esses assessores ressaltam que é impossível o atendimento dos pedidos em tela, no ritmo pretendido pelos senadores aliados, em especial no que se refere às emendas parlamentares, uma vez que elas precisam ser empenhadas, para posterior repasse dos recursos, diferentemente das exigências senatoriais, que querem a liberação imediata.

Por seu turno, aliados do presidente do país, no Senado, reclamam e com absoluta razão, diante da praxe da vileza, que o governo tem privilegiado os deputados na liberação de verbas do Orçamento, enquanto os senadores não estariam sendo atendidos em seus pedidos, com a mesmas presteza.

A situação chegou a clima de tamanho absurdo que um senador afirmou que “o governo trata de forma diferenciada aliados e, com isso, gerou um clima de insatisfação dentro do Senado.”.

Interlocutores do presidente brasileiro disseram que os aliados estão aproveitando que essa deve ser a votação mais importante do ano para o governo, para tirar “tudo o que desejam”, com o aproveitamento da reta de final de ano do Palácio do Planalto.

A PEC dos Precatórios cuida da viabilização do pagamento do Auxílio Brasil, no valor de R$ 400, que deve ser uma das principais bandeiras de campanha do presidente do país, na disputa da reeleição dele, no próximo ano.

Eis aí muito bem explicadinho o real significado das indecentes compra e ao mesmo tempo venda de votos feitas à luz solar entre parlamentares e o Palácio do Planalto, com a verdadeira cara-de-pau de inescrupulosos e indignos senadores da República, que não têm o menor temor de que o seu excrescente ato possa ser considerado crime de lesa-pátria, por ficar devidamente comprovada a falta de decoro no exercício de cargo público eletivo.

Esse comportamento indigno e imoral já nem mais constrange esses abutres dos orçamentos públicos, que aproveitam a influência do seu poder para impor exigências esdrúxulas como essa de somente aprovarem projetos do governo se houver a aceitação dessa indecorosidade, que deveria ser repudiada e negada, com o acompanhamento dos nomes desses reles senadores, para que a sociedade, os eleitores, fiquem sabendo quem são eleitos para fazerem uso do cargo para exigirem benefícios absurdos como esses, porque o resultado dessa imundície termina sendo verdadeiro ônus para o povo, que tem a obrigação de recolher os tributos.

Os homens públicos brasileiros precisam entender que eles são servidores públicos, na essência, que têm o dever apenas de defender e atender aos interesses da população, já que, para tanto, eles são muito bem remunerados, fazendo jus ainda a injustificáveis prerrogativas que não existem em nenhum outro lugar do mundo.

Não se trata de votar senão projeto que trata de matéria essencialmente de delicado interesse da vida de muitos brasileiros, que precisam desse auxílio, embora a sua criação venha em pacote que o presidente do país pretende, também em harmonia com o jeitinho descarado brasileiro, tirar vantagem, posto que certamente ele vai alegar, na campanha à reeleição, que se esforçou o máximo para que essa ajuda financeira fosse possível e se tornasse realidade. 

O pior de tudo é que essa degeneração moral logo é esquecida pelos brasileiros, que ainda votam nos mesmos indignos e aproveitadores homens públicos, que continuam nos mesmos cargos e protagonizando os mesmos absurdos de indecência, porque isso faz parte da cultura ou da falta da cultura brasileira.

De acordo com o acompanhamento dos fatos, o Poder Legislativo conta na sua composição com a velha política ou a banda podre, que somente se elege, em muitos casos, em processo de pura hereditariedade, para tratar de interesses pessoais, como verdadeiros profissionais da política.

Essa prática de ficar exigindo contraprestação, envolvendo cargos e emendas parlamentares, para possibilitar a votação de matérias de interesse do povo, tendo origem no Poder Executivo, tem toda característica de ato visivelmente criminoso, à vista de se tratar de assunto da competência desse poder, que tem o dever apenas de aprovar ou rejeitar, sem que seja permitida nenhuma exigência adicional, como essa feita por senadores.

Agora, “quem te viu e quem te vê”, porque isso envolve enorme mudança de compreensão sobre o que seja moralidade, porque a maneira atual de se governar o país tem tudo com o mandatário igualmente desprezível e desmoralizado, em aceitar passivamente as exigências imorais e absurdas dos indignos parlamentares, porque todos estão se entendendo harmoniosamente, quanto aos interesses políticos, se lambuzando nas mesmas lamas pútridas da indecência da gestão pública, conforme mostram os fatos, respaldados pelas verbas provenientes do “orçamento secreto”, que é forma excrescente da realização de despesas públicas, feitas pelos próprios congressistas, sem necessidade de prestação de contas sobre os gastos pertinentes.

Quem não se lembra da campanha eleitoral, onde o presidente que hoje aceita exigências infectadas pela carniça da imoralidade dizia, em alto e bom tom, que seu governo era de efetivas mudanças, exatamente no sentido de não se aceitar tamanha esculhambação na gestão dos recursos públicos, como vem sendo praticado à luz do dia, sem o menor constrangimento.

Na campanha eleitoral de 2018, houve sim promessa de se acabar com as negociatas políticas, além dos costumeiros xingamentos e esbravejamentos, aos gritos mesmo contra os integrantes do Centrão, com quem o hoje presidente do país se encontra no mesmo cercado no Palácio do Planalto com eles, participar diretamente das importantes decisões do governo e dos brasileiros, em verdadeiros conluios de negociatas com os principais membros da velha política brasileira.

          Na verdade, em termos de imoralidade, nada se pode estranhar, uma vez que o presidente do país convive no dia a dia com as lideranças políticas que integram o famigerado Centrão, que fazem essas indecentes exigências ao governo, cujo titular deve engrossar as fileiras desse imundo grupo político fisiologista, com a sua filiação ao PL, que é comandado por político considerado verdadeiro sanguessuga do poder e do orçamento público, conforme mostram os fatos.

Esse fato pacifica a gigantesca traição aos seus eleitores honrados e dignos, no que se pode ser considerado um dos maiores calotes eleitorais, quando o então candidato enchia o peito para reverberar cantos e hinos em defesa da potencialidade dos princípios republicanos, mostrando-se ser o verdadeiro paladino da ética e da moralidade, mas agora se confunde bisonhamente entre aqueles que ele xingava e tripudiava em cima dos integrantes da velha política, onde agora ele se encontra completamente atolado com eles no mesmo lamaçal da indignidade política.

Os brasileiros honrados e bem intencionados, conscientes da sua responsabilidade cívica e patriótica, têm o dever moral de repudiar os atos indecentes protagonizados pelos principais políticos brasileiros, representados pelos poderes Executivo e Legislativo, nas pessoas do presidente da República, deputados federais e senadores, que são os lídimos representantes do povo, conquanto se mostram autênticos defensores dos próprios interesses, fazendo uso da influência de seus cargos, em evidente demonstração da prática mais vil no exercício do mandato emanado pelo povo, como evidenciado neste triste e decepcionante episódio.

Brasília, em 26 de novembro de 2021

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