A gravação, constante
de vídeo, foi feita pelo próprio padre, a qual foi divulgada pelo Jornal da
Record.
O aludido arquivo foi
apreendido pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) e devidamente periciado
com autorização da Justiça.
Já há pedido de prisão
preventiva por corrupção ativa contra o religioso e outras quatro pessoas,
feita pela Polícia Federal ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Consta da reunião
gravada, que o padre e a equipe jurídica buscavam formas de tentar mascarar a
ilegalidade em contratos de compras realizadas em nome de terceiros pela
Associação Filhos do Pai Eterno, presidida pelo religioso, ainda antes de ele
ter sido afastado da instituição.
As investigações sobre
o envolvimento do padre nas suspeitas de irregularidades foram feitas pelo MPGO,
na Operação Vendilhões, em agosto de 2020.
O religioso e a sua
equipe reconhecem, durante a reunião, que os contratos poderiam ser objeto de investigação
pelas autoridades competentes, à vista das dificuldades para se explicar a
relação direta da associação com negócios e investimentos imobiliários.
Entendimento nesse
sentido foi feito pelo próprio padre, que teria dito, in verbis: “(…) Eu
estou dando legitimidade para uma coisa ilegítima, porque eu considero que foi
estelionato aquilo lá. Os caras lá já falavam: olha, você vai passar, por fora,
para mim, tanto. Eu, de bobão… complicado isso aqui. Não está bom, não. Isso
aqui é a mesma coisa de estar assinando um mandado de prisão. Ô, gente.
O meu medo nessas coisas aí chama-se… apuração dos fatos. Quando for apurar
fatos, olhando nossa contabilidade, olhando nossa contabilidade do Júnior, do
Gleison, vão ver que eles deram outra destinação aos valores, que não bate com
datas e nem com nenhum tipo de… não tem jeito, gente”.
Na época da gravação, o
religioso já vinha sendo investigado por suposto desvio de valores provenientes
de doações de fiéis à Afipe, que tem como destinação a construção do novo
Santuário Basílica de Trindade, cujo montante, contabilizado e administrado sob
a forma fundo, já atingia o valor de R$ 2 bilhões para essa finalidade.
Ao invés de o dinheiro
ir para o templo, foi desviado para aplicações financeiras e compras de fazendas
e imóveis de luxo, inclusive na praia, o que bem demonstra a farra com o dinheiro
que se processava sob a batuta do padre, em desvirtuamento da destinação
originária dele.
Nesse caso, em que o
padre se empenhava para juntar dinheiro a “rodo”, fica a certeza de que as doações
não foram aplicadas imediatamente no projeto da catedral.
As declarações
do padre são incisivas e contundentes, ao confirmarem a materialidade das
irregularidades levantadas nas investigações, quando ele afirma que “Isso
aqui é a mesma coisa de estar assinando um mandado de prisão. (...) “olhando
nossa contabilidade do Júnior, do Gleison, vão ver que eles deram outra
destinação aos valores, que não bate com datas e nem com nenhum tipo de… não
tem jeito, gente.”.
No jargão policial,
pode se dizer que o religioso entregou a “rapadura”, ao confessar a existência de
falcatruas com a movimentação do dinheiro doado por fiéis.
É lamentável que o padre,
com formidável carisma religioso, a ponto de arrecadar tanto dinheiro, muito além
das necessidades do santuário, para mais de R$ 2 bilhões, que até ficaram ociosos,
sem destinação adequada, tenha tido a fraqueza moral de permitir que as doações
feitas de bom coração pelos religiosos tenham sido desviadas do seu caminho normal
e que aproveitadores se beneficiassem indevidamente delas, conforme mostram os
fatos investigados pela polícia.
Na verdade, o pecado do
famoso vigário é da ordem tão expressiva que a única forma de o expiar é a reclusão
à penitenciária, onde ele terá bastante tempo para se arrepender e pagar com
merecido castigo.
O padre, que já
foi instrumento de perdoador de pecados
dos fiéis, agora não pode perdoar, em nome de Deus, os seus pecados, que foram
confessados em vídeo por ele, porque eles são de demissão monstruosa, a ponto
de ser extravasada toda capacidade humana de enganar e trair a boa vontade de
milhões de religiosos, que fizeram doações pensando se tratar da mais pura boa vontade,
por causa verdadeiramente de cunho cristão, mas o religioso cuidou de dar
descaminho do dinheiro que deveria atender propósito que deveria ser sagrado,
com destinação lícita.
Agora que o principal implicado
com o escândalo do Santuário de Trindade confessou que realmente houve malversação
do dinheiro doado por fiéis tão piedosos, a Justiça precisa concluir o
julgamento o mais rapidamente possível, para que os culpados por esse nefasto
episódio sejam obrigados a promover o ressarcimento dos valores referentes aos danos
causados à igreja.
Convém que, além da determinação
dos envolvidos para o cumprimento das pertinentes penas de prisão, as demais medidas
adotadas, nas áreas penal, disciplinar e reparadora, possam servir para que a
fortuna arrecadada de boa-fé seja preservada e administrada em absolutos controle,
segurança e eficiência nas aplicações e nos investimentos legalmente previstos,
evidentemente na esperança de que casos horrorosos como esse sejam definitivamente
evitados, por se tratar do envolvimento da Igreja Católica, instituição secular
da maior respeitabilidade.
Brasília, em 30 de
novembro de 2021
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