A
Polícia Federal colheu o depoimento do presidente República, no inquérito que apura suposta tentativa da sua interferência politicamente na
corporação, sob a tentativa para a blindagem de familiares e aliados de
investigações.
O
presidente do pais disse que não interferiu na Polícia Federal e que trocou o então diretor-geral, no ano passado, por "falta de interlocução".
A
exoneração do diretor-geral da Polícia Federal implodiu a crise que levou ao
pedido de exoneração do então ministro da Justiça.
O
então diretor-geral da Polícia Federal era pessoa de confiança do ex-ministro e
foi levado a dirigir o órgão por ele, que fez tudo para evitar a substituição por
pessoa da confiança do presidente do país.
Depois
da exoneração, o ex-ministro relatou que o presidente do país tentava
interferir politicamente na Polícia Federal, cuja denúncia suscitou a abertura
de inquérito pelo Supremo Tribunal Federal, onde o presidente do país prestou o
depoimento em causa.
O
presidente do país declarou "Que confirma que em meados de 2019
solicitou ao ex-ministro Sérgio Moro a troca do diretor-geral da Polícia
Federal (DPF) Valeixo, em razão da falta de interlocução que havia entre o
presidente da República e o diretor da Polícia Federal. Que não havia qualquer
insatisfação ou falta de confiança com o trabalho realizado pelo DPF Valeixo,
apenas uma falta de interlocução. Que nunca teve como intenção, com a
alteração da Direção Geral, obter informações privilegiadas de investigações
sigilosas ou de interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou obtenção
diretamente de relatórios produzidos pela Polícia Federal".
Em
nota divulgada à imprensa, a defesa do ex-ministro disse que “foi
surpreendida pela notícia de que o presidente da República, investigado no
Inquérito 4831, prestou depoimento à autoridade policial sem que a defesa do
ex-ministro fosse intimada e comunicada previamente, impedindo seu
comparecimento, a fim de formular questionamentos pertinentes, nos moldes do
que ocorreu por ocasião do depoimento prestado pelo ex-ministro, em maio do ano
passado".
O
ex-ministro tem afirmado que estão entre as provas de que o presidente do pais tentou
interferir na Polícia Federal mensagens trocadas pelos dois em um aplicativo e
a reunião ministerial de 22 de abril de 2020.
Na
aludida reunião, o presidente do país disse, verbis: "Já tentei
trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui.
Isso acabou. Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo
meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que
pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se
não puder trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui
para brincadeira.".
O
presidente do país justificou essa frase, dizendo que estava se referindo à
segurança pessoal, nesses termos: "Que há um pequeno núcleo do GSI
sediado no Rio de Janeiro, responsável pela segurança do declarante e de sua
família; Que esse núcleo do GSI é formado por servidores lotados e alguns
comissionados; Que achava que esse trabalho poderia ser melhorado,
principalmente no acompanhamento do seu filho Carlos Bolsonaro, residente no
Rio de Janeiro; Que portanto quando disse que queria trocar gente no Rio de
Janeiro referia-se a sua segurança pessoal e da sua família".
O
presidente do país declarou "Que ao indicar o DPF Ramagem ao
ex-ministro Sergio Moro, este teria concordado com o presidente desde que ocorresse
após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal".
O
ex-ministro disse, em contestação a essa afirmação, que em nenhum momento
negociou uma vaga para o tribunal, tendo afirmado: "Sobre o depoimento
do presidente da República no inquérito que apura interferência política na
Polícia Federal, destaco que jamais condicionei eventual troca no comando da PF
à indicação ao STF. Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria
ficado no governo como Ministro. Aliás, nem os próprios Ministros do Governo
ouvidos no inquérito confirmaram essa versão apresentada pelo Presidente da
República. Quanto aos motivos reais da troca, eles foram expostos pelo próprio
Presidente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 para que todos
ouvissem. Também considero impróprio que o Presidente tenha sido ouvido sem que
meus advogados fossem avisados e pudessem fazer perguntas".
À
toda evidência, a acusação segundo a qual o então ministro da Justiça teria
concordado com a substituição do diretor-geral pela indicação do seu nome para
o Supremo e que isso seria feito somente depois que ele fosse indicado para a
corte, não tem a menor consistência, porque não teria sentido que a troca fosse
feita depois que ele não estivesse mais à frente da pasta, porque o presidente
poderia realizar normalmente a substituição sem precisar da concordância de
quem já não mais comandava a Justiça.
Parece
infantil demais a acusação, que teria como tentativa ressaltar que o ex-ministro
estaria chantageando o presidente do país para conseguir o cargo do Supremo,
quando a argumentação do depoente não se sustenta, mesmo porque o ex-ministro e
todos sabem que o chefe do Executivo tem competência constitucional para nomear
seus assessores, sem precisar do consentimento de ninguém, muito menos de
ministro de Estado.
Enfatize-se,
a propósito, que logo que o então ministro da Justiça ter decidido deixar o
governo, uma deputada federal aliada de primeira hora do presidente do pais
ainda tentou demovê-lo dessa ideia, conforme o diálogo abaixo entre ela e o
então ministro da Justiça.
Eis a
troca de mensagens entre a deputada e o ex-ministro, ipsis litteris:
Deputada:
“Ministro, por favor, me ouça só um pouco”.
Então
ministro: “Olá”.
Deputada:
“O Sr é muito maior que um cargo. O Brasil depende do sr estar no MJ. Bolsonaro
vai cair se o Sr sair. Entendo sua frustração. Pelo amor de Deus, me deixe
ajudar. Vamos amanhã marcar 07h00 com o PR lá no Alvorada. A gente conversa e
ele lhe garante a vaga no STF este ano”.
Então
ministro: “Já falei com ele hoje”.
Deputada:
“E o Sr fica só para não criarmos esta crise. Vcs ganharam sozinhos. Vcs 2
são 2 bicudos. O Sr é frio e ele é orgulhoso. Talvez tendo uma 3a pessoa, a
gente consiga resolver. Me deixa tentar, pelo amor de Deus. Eu lhe acompanho há
anos”.
Então ministro:
“Prezada, vamos aguardar.”.
Deputada:
“Já fui presa defendendo as suas ideias e ideiais. Por favor, ministro, aceite
o Ramage. É vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a ajudar. A fazer o JB
prometer”.
Então
ministro: “Prezada, não estou a venda”.
Também
em 23 de abril, conforme os diálogos divulgados, a deputada enviou mensagem ao
então ministro, informando que estava na sede do Ministério da Justiça.
Ela pediu
a ele “5 minutos” para uma conversa, conforme texto abaixo:
Deputada:
“Tô aqui no MJ. No seu andar. Por favor, me dá 5 mimutos. O Planalto que
pediu, mas estou vindo não como parlamentar. Mas como sua admiradora. Pelo
NasRas. Há 6 anos te defendo. Me ouve só um pouco. Tudo o que os criminosos
querem é a sua saída. Não dê esse gosto a eles, por favor. O Brasil precisa de
vc.”.
Então
ministro: “Se o PR anular o decreto de exoneração, ok”.
Deputada:
“Vou lá tentar falar com ele”.
Essa
conversa mostra que, ao contrário do que disse o presidente do país, no seu depoimento,
agora, o ex-ministro não foi convencido a mudar de ideia nem com o oferecimento
do cargo de ministro do Supremo, quando o recusou por oferecimento por
intermédio da deputada, sob a alegação de que ele não estava à venda.
No
que se refere à interferência na Polícia Federal, o presidente do país também
não fala a verdade, porque isso fica muito claro na sua declaração de que "Já
tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não
consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem,
ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha
que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele.
Se não puder trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui
para brincadeira.".
Ou seja,
a mencionada declaração expõe o sentimento dele, no sentido de que familiares e
amigos não estavam sendo protegidos, dando a entender que eles poderiam ser
prejudicados, em especial nas investigações sobre “rachadinhas”, em especial.
A
tentativa de mostrar que o alvo da mudança da segurança seria na guarda sob o
gerenciamento do Gabinete de Segurança Institucional, no Rio de Janeiro, não
tem o mínimo cabimento, em se tratando que membros dessa guarnição foram substituídos
tempos antes, sem a menor dificuldade, conforme noticiário da imprensa, ficando
muito clara que a alteração pretendida pelo presidente visava mesmo à cúpula da
Polícia Federal, por interesse pessoal do presidente, quando é verdade que o superintendente
daquele estado foi trocado imediatamente à saída do ministro, mostrando a total
incoerência presidencial.
A
conclusão mais límpida e indiscutível é a de que o presidente do país não tinha
intenção de intervir na Polícia Federal, porque ele apenas interferiu mesmo,
promovendo as mudanças que queria fazer, o que poderia ser normal se não fosse para
a finalidade nada republicana, com a intenção de proteger familiares e amigos, conforme
ele deixou muito claro no pronunciamento transcrito acima.
Na
realidade, o depoimento disponibilizado agora ao presidente da República teria
sido importante instrumento legal para ele prestar contas à sociedade, onde, em
forma de grandeza política, que é própria dos verdadeiros estadistas, ele poderia
ter usado da sinceridade de expor o que a verdade que somente os fatos estão a
materializar, sem mentiras e subterfúgios, eis que as suas declarações, à toda
evidência, não correspondem à fidedignidade do que verdadeiramente ocorreu com
relação a esse imbróglio terrivelmente mal narrado por ele, diante de
justificativas inconsistentes perante os fatos acontecidos.
Brasília,
em 12 de novembro de 2021
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