quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O mistério das queimadas?

 

O ano de 2021 já é o terceiro com o pior índice de queimadas registradas no Amazonas, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe).

Entre janeiro e o início de novembro, mais de 14 mil focos de incêndio já foram registrados pelo órgão naquele estado.

De acordo com os dados divulgados pelo Inpe, de janeiro até o dia 3 de novembro de 2021, já foram registrados 14.617 focos de incêndio.

Desde 1998, quando houve o começo dos registros das queimadas, só dois anos tiveram números maiores, que foram em 2005, com 15.644 focos, e 2020, com 16.729, mas o fluente ano ainda não acabou.

No último mês de outubro, foi registrado o maior número de queimadas, no Amazonas, em comparação aos últimos cinco anos, tendo sido constatados 1.773 focos pelo Inpe.

A última vez que o mês havia tido números tão altos foi em 2016, quando foram registrados 1.913 focos.

Durante o ano, outubro é o terceiro mês com maior número de queimadas, segundo o levantamento feito pelo órgão.

Os meses que registraram maiores índices foram agosto, com 8.588 e setembro, com 2.799 focos de queimadas registradas no Amazonas.

Em agosto deste ano, os registros de queimadas, no Amazonas já atingiram o recorde histórico, para o mês, pelo terceiro ano consecutivo, que, nos primeiros 26 dias do mês, foram registrados 8.172 focos de incêndios.

No ano passado, agosto registrou 8.030 focos de incêndios ao longo do ano e, em 2019, foram 6.668 registros pelo Inpe.

Na ocasião, um pesquisador do Programa de Queimadas do Inpe informou que as queimadas, no Amazonas, começam a ganhar força no mês de julho, seguido de agosto, setembro e outubro, que são, historicamente, os meses com maior ocorrência de queimadas no Amazonas.

Ele disse que "O fogo aí nessa região não tem como começar sozinho. Então são todos atos ilícitos ou de novos desmatamentos ou de queima de áreas já desmatadas no passado, ou de renovação de pastagens, as vezes acidentes, entre outras razões".

A evidência que se tem é a de que jamais seria possível a constância de tantas queimadas, em nível de enorme equilíbrio, ano após ano, quando a tendência normal seria da progressiva diminuição dos incêndios, caso houvesse o mínimo que fosse de combate, porque a manutenção do status quo contribui para a ilação de que nada existe, em termos de controle e fiscalização.

O inverso disso, certamente, deveria haver diminuição dessa monstruosidade contra a floresta, na certeza de que esta nunca vai se acabar, em razão da sua gigantesca dimensão continental, que o bicho homem ainda não teve condições, diante da sua gigantesca insensibilidade ambiental, para destruí-la completamente e o governo tem absoluta consciência disso, tanto é verdade que ele não move uma pena contra as brutais ações criminosas perpetradas pelas queimadas, à vista da continuidade da incidência de queimadas, conforme mostram os fatos registrados pelo próprio governo, no caso, o Inpe.  

O que muitíssimo impressiona à opinião pública dessa mais do que deplorável situação de indiscutível e reiterada destruição ambiental é que os registros sobre os focos somente servem como vitrine e magistral forma de estatística para se dizer e afirmar que as queimadas estão simplesmente contribuindo para a dizimação dos biomas brasileiros, sempre com espetacular tendência de que, ano após ano, elas estão sendo progressivamente evoluindo em quantidade alarmante, em sentimento de normalidade.

Como se isso fosse algo extraordinário que não existe nada mais importante do que se saber que as estatísticas estão sendo alimentadas com expressivas constatações de mais queimadas, evidentemente sempre na esperança de que haja recorde no número de focos de incêndios, ano após ano, repita-se.

Na verdade, como maravilhosamente é realmente se manter a expectativa de novos recordes de queimadas, porque, ao contrário disso, o governo já teria se esforçado no sentido de adotar urgentes medidas de contenção dos incêndios, envidando os maiores esforços para combatê-los, inclusive estabelecendo prioridades na imediata reestruturação dos conceitos de combate às queimadas.

Ou seja, não faz o menor sentido o aparelhamento com as melhores técnicas de combate aos incêndios na Amazonas, quando o importante mesmo é ter a certeza de que há enorme possibilidade de quebra de recorde de focos, não importando os prejuízos ambientais, porque só assim a imagem do governo e do Brasil se mantém em destaque na imprensa internacional, com fortes denúncias sobre muitas queimadas no Amazonas, em forma de se fazer inveja aos países onde não existem mais florestas para serem queimadas, que é o caso da Europa.

A verdadeira importância do alto número de queimadas na Amazonas é exatamente a possibilidade de o Brasil se manter na mídia e o governo, com muita competência, imediatamente aparece, diariamente, para contestar a imprensa internacional, dizendo que não existe ninguém, no mundo, que cuida com tanta competência da Amazônia como o Brasil e até aproveita para acusar que a Europa e os países desenvolvidos não podem falar nada, muito menos criticar ninguém, porque eles são irresponsáveis, por terem permitido a extinção das suas florestas.

Enquanto isso, o país tupiniquim tem o privilégio de ser criticado exatamente por ainda ter riquíssimo meio ambiente com invejável potencial para garantir queimadas por anos a fio, tanto que ele vem sendo cuidadosamente bem protegido pelo governo, conforme mostram os registros oficiais, no sentido de que os incêndios vão continuar sim, na sua plenitude.

A verdade é que os incêndios são extremamente impotentes para abranger a extraordinária extensão da floresta amazônica, o que vale dizer que a opinião pública internacional ainda vai ficar ano-luz criticando os completos descaso e desinteresse com a sua preservação e isso é de suma importância, porque o governo fica tranquilo em se manter sempre atualizado na mídia, que também se contenta em ficar rebatendo continuamente na mesma tecla, de que houve recorde de queimadas, em eterna discussão que não se chega a lugar nenhum, em benefício da proteção das florestas.

Enfim, voltando à seriedade, a impressão que fica é a de que, se realmente houvesse o mínimo de boa vontade, interesse público e verdadeiro amor ao meio ambiente, o governo jamais abandonaria as florestas brasileiras ao deus-dará e cuidaria de adotar todas as medidas e necessárias de combate aos minúsculos incêndios, com vistas à preservação da integralidade do que mais importante existe no mundo, em termos de meio ambiente, em especial porque o diagnóstico dos incêndios é muito claro e isso é mais do que suficiente para a atuação efetiva de combate às criminosas queimadas.

 Resta a cristalina e absoluta certeza de que tantas queimadas na floresta tem como principal culpa a incompetência administrativa, à vista da consciência sobre as causas da sua existência, demandas pelos levantamentos constantes e permanentes, conforme os fatos contabilizados pelo próprio governo.

Brasília, em 10 de novembro de 2021

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