quarta-feira, 16 de março de 2022

A sensibilidade?

 

Circula nas redes sociais vídeo com discurso do presidente da República, sob o título “Bolsonaro abre o coração e faz o discurso mais emocionante como Presidente da República”.

No aludido discurso, o presidente do país se mostra a pessoa mais sensata e compreensiva possível, completamente diferente do seu comportamento no exercício do cargo, notadamente no que se refere à sua participação na grave crise da pandemia do coronavírus, quando ele se revelou extremamente negacionista e insensível aos princípios humanitários, conforme mostraram os fatos protagonizaram por ele.

Eis o discurso do presidente da República, em tom realmente muito emocionante, a partir do seu semblante, bem choroso: “Poucos têm uma segunda vida. Hoje, eu sou o chefe do Executivo. Posso ser o chefe do poder mais importante da República, mas a humildade tem que estar presente entre nós e mais ainda a gratidão, Ninguém chega a lugar algum sozinho, bem como lá não permanece se não tiver amigos e pessoas que pensam como você, pra prosseguir nesse objetivo. O amor, o patriotismo, a entrega não têm preço. Brasileiros: o meu sonho é o sonho de vocês. Nós vamos conseguir esse objetivo. Nós conseguiremos com lealdade, com ética, com religião, respeitando o próximo, ouvindo a sua consciência, tendo o seu entendimento sobre a matéria, nós revolucionaremos o Brasil. Repito: ninguém tem o que nós temos. Deus foi muito generoso para conosco. Para mim, o triplo, além da segunda vida, uma família: a base da sociedade. (...) O resto, com amigos, com brasileiros de verdade e com Deus no coração, nós superamos os obstáculos.”.    

          É maravilhoso que o presidente da República tenha o preciso discernimento para reconhecer as majestosas dádivas ao alcance do seu merecimento, em que tenha se tornado o homem mais poderoso do Brasil, o que é pura e indiscutível verdade e isso ele consegue evidenciar com muita clareza, em gesto reafirmado de gratidão, conforme mostra o seu pronunciamento.

Não obstante, é pena que o presidente do país não tenha se beneficiado igualmente das magnitudes especiais e divinais dos equilíbrios emocional e psicológico para a precisa mediação das ingentes questões enfrentadas no seu governo, onde, em diversas vezes, ele não esteve à altura da compreensão tão bem exposta no seu emocionante discurso, que sensibiliza sim, mas apenas em momento ímpar, porque muitas atitudes dele mostram outra face bem diferente da placidez transmitida nessa mensagem de puro humanismo, que seria extremamente benéfica se essa fosse a sua verdadeira linha de conduta, no exercício do cargo relevante presidencial.

O exemplo da maior importância, que foi capital para a sua infernal rejeição de credibilidade, diz precisamente ao negativismo ao coronavírus, quando ele nunca se cansou de mostrar ser refratário às orientações preventivas, quanto às exigências das medidas indispensáveis ao sanitarismo, a exemplo do uso de máscaras, da vacinação, que se negou a tomá-la, entre outras atitudes de visível dissidências voluntária, tendo chegado ao ponto de chamar as pessoas de maricas, por temerem ao vírus, em absoluta falta de sensibilidade humana, quando as mortes estavam no auge e o temor tomava conta das pessoas.

Outro ponto fraco notado no presidente foi ele não procurar seguir a cautela natural do estadista metódico, sensato e equilibrado, quando poderia agir somente de caso pensado, procurando adotar as medidas da sua alçada somente depois de precisa e acurada avaliação sobre as suas consequências, sem qualquer necessidade de mostrar autoridade nem poder, como fez amiudamente, a propósito de querer agradar às pessoas cativas que demonstram incondicional apoio a ele.

O presidente bem que poderia ter se valido sempre do bom senso, da sensatez e da sensibilidade como se mostrou na linha do seu ponderado discurso, transcrito acima, apenas seguindo os princípios da competência e da eficiência, pouco se importando com quem tentassem interferir, de maneira indevida, no seu governo ou sequer tramar contra ele, porque o mais importante mesmo era a sua atitude de equilíbrio e coerência no exato cumprimento apenas da sua missão constitucional.

Felizmente, o presidente da República foi beneficiado com ricas graças divinais, mas também foi severamente castigado pelo desprezo de importantes e valiosos ensinamentos quanto aos princípios do bom senso e da racionalidade, que teriam sido extremamente salutares no desempenho de tão espinhosa missão de presidir o Brasil, conforme mostram os fatos historiados no seu governo.

Embora a maior parte do governo já tenha sido transcorrido, restando quase nada, ante o comprometimento dele com as metas pertinentes à reeleição, os verdadeiros brasileiros torcem para que os reais sentimentos que fundamentaram o discurso em referência possam servir de inspiração para que o presidente da República consiga transmitir à nação somente momentos de muita emoção e boas realizações, produzindo o melhor possível no seu governo, à vista do tanto de bons pensamentos que ainda podem ser transformados em benefício da sociedade.

Brasília, em 16 de março de 2022

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