sexta-feira, 18 de março de 2022

Basta de negativismo?

 

Acaba de ser divulgada pesquisa em que as cidades brasileiras que mais apoiaram o presidente da República, na última eleição, foram as que registraram as maiores taxas de mortalidade por causa da Covid-19, no ano passado, conforme publicação de levantamento específico pela revista The Lancet.

A pesquisa foi realizada por cientistas da Fiocruz e da Universidade de Brasília (UnB).

Os municípios que escolheram o presidente do país apresentaram taxas de mortalidade por Covid-19 com maior intensidade, conforme salientam as experiências comparativas com outras localidades, em termos de quantidade populacional.

Os cientistas entenderam que esse comportamento explica o fato de que, quase um ano após a pandemia, “O governo federal ainda se recusa a apoiar recomendações de distanciamento social e uso de máscara”.

Além disso, o governo insiste no incentivo à promoção do tratamento precoce com medicamentos que já tinham tido sua ineficácia comprovada, fato que somente contribuía para a incidência do aumento de mortes.

No entendimento dos pesquisadores, esses procedimentos contribuíram para impulsionar o "comportamento de risco das pessoas alinhadas ao pensamento do presidente Bolsonaro, expondo-as à Covid-19 e resultando em maior taxa de mortalidade".

Os cientistas afirmaram, com base nessas experiências, que, a princípio, a população dos municípios que tinham melhores condições de lidar com a pandemia, à vista de terem expressivo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), melhores serviços de saúde e menor desigualdade de renda, podem ter sido prejudicada, com maior incidência da mortalidade, em razão do seu posicionamento político, em harmonização com o negativismo defendido pelo presidente do país, que realmente serviu como deplorável símbolo de dissidência às salutares medidas sanitárias de precaução contra a terrível Covid-19, conforme mostram os fatos devidamente registrados por meio dessa pesquisa.

Os mencionados cientistas não tiveram a menor dificuldade em afirmar, em reforço à sua tese, o seguinte: "Assim, nossa análise demonstra que a escolha partidária foi um dos fatores que explicam por que municípios brasileiros com as mesmas características de desigualdade, renda e serviços de saúde se comportaram de forma diferente na primeira e segunda ondas da pandemia de Covid-19.".

Essa triste realidade contrasta, infelizmente, com a finalidade precípua das atividades públicas, em que as metas pretendidas visam precisamente à satisfação das necessidades da população, a exemplo do bem-estar e da melhoria das condições de vida.

O resultado das pesquisas em referência revela exatamente que o  desempenho da principal autoridade do país, sempre atuando na contramão das orientações sanitárias, foi realmente desastroso e confirma, com bastante convicção, a sua contribuição extremamente contrária àqueles pressupostos em benefício da vida.

Ou seja, em análise fria e isenta, é possível se afirmar, com base nessa pesquisa, que o presidente da República perdeu excelente oportunidade para trabalhar, como é do seu dever institucional, em defesa da vida do ser humano, mas os fatos mostram uma realidade bem diferente, em que ele pode ter sido inspirador de sentimentos contrários à preservação da vida, justamente por ter preferido ter sido ativista de movimentos dissidentes às orientações preventivas da doença.

É evidente que esse juízo de valor decorre do resultado científico, mostrando que o sentimento político ideológico teve real influência no melhor êxito do combate à grave crise da pandemia do coronavírus, o que vale dizer que, em situação de normalidade, muitas vidas teriam sido preservadas, diante da maior aceitação das medidas sanitárias recomendadas pelas autoridades de saúde pública.

Não se pretende dizer, com isso, que o presidente do país é responsável diretamente por mortes, mas os fatos mostram que o sentimento preferencial político-ideológico pode ter tido relação com a intensificação do relaxamento dos cuidados necessários ao combate à incidência do vírus, conforme mostra o resultado da pesquisa, justamente ante o péssimo exemplo de negatividade vindo de autoridade que tem a incumbência institucional de ser modelo para a população, mas apenas com propósitos benéficos.

Enfim, a pesquisa em referência mostra a realidade relativa à crueldade que se abateu contra a população que preferiu aderir, certamente de forma  inconsciente, aos perigos causados pela Covid-19, restando apenas o alerta de que saúde pública precisa ser tratada completamente desvinculada de sentimento político-ideológico, por tratar-se de assuntos distintos que precisam ser assim entendidos, para o bem da humanidade.   

          Brasília, em 18 de março de 2022

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