quinta-feira, 31 de março de 2022

Eutanásia

 

Um famoso ator francês, que se tornou astro da arte cinematográfica, por sua participação em grandes clássicos da Sétima Arte, escreveu mensagem em tom de despedida, que foi publicada nas redes sociais.

O astro mundial, de 86 anos, disse ao público que tem o desejo de passar pelo processo da eutanásia, prática que antecipa a morte, normalmente quando a pessoa se encontra muito doente, tendo atingido o estado terminal, em que os recursos médico-hospitalares já se esgotaram para a situação do paciente.   

O ator escreveu que "Gostaria de agradecer a todos que me acompanharam ao longo dos anos e me deram grande apoio, espero que futuros atores possam encontrar em mim um exemplo não só no local de trabalho, mas na vida de todos os dias, entre vitórias e derrotas. Obrigado".

Um filho do ator revelou, a uma revista francesa, que o pai dele pediu para que fosse organizado o processo médico no sentido de terminar a vida por meio do suicídio assistido.

No ano passado, o ator declarou que a eutanásia "é a coisa mais lógica e natural a se fazer a partir de uma certa idade, de um certo momento. Primeiro porque moro na Suíça, onde a eutanásia é possível, e também porque acho a coisa mais lógica e natural. A partir de certa idade, de um determinado momento, temos o direito de dar o fora com calma, sem passar por hospitais, injeções ou coisas assim".

O astro do cinema completou seu raciocínio, dizendo que "Envelhecer é uma m****! Você não pode fazer nada sobre isso. Você perde o rosto, perde a visão. Você se levanta e, caramba, seu tornozelo dói".

A eutanásia é processo avançado e evoluído que ajuda a abreviar o tempo de vida humana e somente é legalizado em poucos países, a exemplo da Bélgica, Espanha, Holanda, Canadá, Nova Zelândia e Suíça, onde o ator atualmente mora.

No Brasil, a eutanásia é ilustre desconhecida, além de não ser permitida legalmente, ela tem a caracteriza crime previsto em lei penal como assassinato.

A eutanásia também é vista sob os princípios da religiosidade, em que a vida é sagrada perante Deus, quanto ao poder do usufruto desse bem mais precioso para o ser humano, segundo o qual somente Ele tem o dom de concedê-la e, por isso, também de decretar o seu fim, ou seja, a vida somente é dada e tirada por Deus.

Isso não deixa de ser verdade, mas apenas sob o sentimento da ideologia religiosa, onde realmente Deus é o centro de tudo, tendo o comando da vida, mas a evolução do homem se permite compreender, também e em especial, que esse dom da vida seja o bem maior de se viver na plenitude da integridade funcional e em perfeitas condições da estrutura orgânica.

Em situação diferente disso, é possível se interpretar que a vontade originária de Deus perde o verdadeiro sentido de existência, exatamente porque a vida deixa de ser aproveitada com a sua capacidade universal de satisfatoriedade permitida para o ser humano, ou seja, a vida perde importância quando ela deixa ser plena, quando ela é travada por doença incurável, por exemplo, e isso não significa mais viver na essência.  

Daí surgiu, então, esse importante recurso da ciência, que nada mais é do que possibilitar meios para a transformação de vida quase inexistente em nova vida, pelo reconhecimento de que a vida não é mais vivida na sua plenitude, permitindo que ela volte a ser vivida em outros planos ou outras dimensões universais, pondo fim ao que seria o prolongamento do sofrimento terreno, explicação essa que parece justificar a eutanásia.   

Na verdade, o processo eutanásico, em determinadas situações, em que pese se tratar de procedimento extremamente doloroso quanto ao seu simbolismo, mas não na prática em si, se torna espetacular opção para quem tem o diagnóstico de esgotamento de todos os recursos possíveis para o tratamento da sua enfermidade que se tornou incurável definitivamente.

Embora nem se possa considerar a eutanásia como algo com finalidade louvável à vida, que não é mesmo, porque se trata do fim dela, mas a sua invenção tem o condão de contribuir para pôr termo ao sofrimento tanto da pessoa vitimada por doença gravíssima como de seus familiares, que são obrigados, em vida dela, ao acompanhamento de quem apenas se abate em vida, que, na realidade, nem é viver mais, sob intenso padecimento e ainda cercada de desesperança e de martírio pelo carregamento de enfermidades crônicas e incuráveis.

É evidente que, sob rigorosa interpretação no campo da religiosidade, é possível sim se entender que a eutanásia também é obra de Deus, porque se trata de procedimento que se encaixa perfeitamente no plano espiritual do livre arbítrio, em que o homem possa ter o pleno domínio das suas atitudes, segundo a sua avaliação de que tudo o que ele possa fazer sempre há de resultar em seu benefício.

Então, sob esse valioso raciocínio, é possível se concluir que a eutanásia pode ser considerada mal necessário, que certamente tem a permissão divina, porque nada existe sem o aval de Deus, para possibilitar procedimento capaz de se evitar prolongados e injustificáveis sofrimentos, quando ficar comprovado que nada mais resta de recurso para a vida.

Com o meu sentimento de cristão, lamento que a eutanásia seja procedimento escolhido para se concluir a linda vida desse genial ator, que foi excelente profissional das magistrais artes cinematográficas, tendo interpretado magníficos papéis e divertido multidões, mas a representação até mesmo da vida tem limite, restando a esperança de que ele dê continuidade às suas brilhantes atuações, no seu novo destino.

Brasília, em 31 de março de 2022

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