segunda-feira, 21 de março de 2022

Em defesa da vida

 

Um peão morreu após ser pisoteado por um touro em uma das provas do Rodeio Show, em Indiana (SP).

De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, a vítima sofreu ferimentos na cabeça e foi socorrida imediatamente, mas o seu caso era gravíssimo, uma vez que foi constatada parada cardiorrespiratória.

A Santa Casa informou que o homem recebeu os primeiros atendimentos na própria arena, mas chegou ao Pronto-Socorro da unidade já sem vida.  

Conforme a organização do evento, a vítima estava participando prova de montaria, quando caiu do animal e foi pisoteado por ele, o que lhe provocou diversas lesões.

A Comissão do Rodeio informou que o evento estava autorizado e legalizado, funcionando sob os cuidados necessários à segurança e à prevenção de acidentes, tudo em conformidade com as normas de regência.

Os eventos dessa natureza estão previstos na Lei nº 13.364, de 29 de novembro de 2016, cujo texto se refere a expressões artísticas e esportivas, como manifestação cultural nacional.

A lei também diz que os eventos previstos na aludida norma têm a finalidade de elevação de atividades à condição de bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro e dispõe sobre as modalidades esportivas equestres tradicionais e sobre a proteção ao bem-estar animal, ou seja, tudo muito maravilhoso, em termos permissivos aos riscos à vida humana, como a se justificar as mortes de pessoas e animais.

Pouco importa o que a lei possa dizer ou estabelecer, porque mais uma vida de pessoa se foi à custa de evento cujo risco à vida é inevitável, tomando-se por base meras palavras escritas em texto frio, dizendo que a vida dos participantes, no caso as pessoas e os animais, está sob proteção, porque isso não passa de balela e muita irresponsabilidade por parte dos promotores dos eventos, que estão interessados exclusivamente no seu resultado econômico.

É evidente que os valores culturais, que são cultuados nas várias regiões do Brasil, são da maior importância para a sociedade, evidentemente quando isso não implique no sacrifício de vidas, humanas e animais, porque elas são pouco convenientes ao seu propósito, em especial que a sua finalidade é a diversão e a expressão artística.

Não obstante, os fatos mostram que o risco é enorme e os acidentes e até as mortes são inevitáveis, a exemplo desse caso, em que um jovem é pisoteado pelo animal de parceria do trabalho, vindo a perder a vida, em situação sem qualquer explicação, diante da importância da vida.

É evidente que a vida não pode ser colocada em risco, em nome da ganância econômica, porque, sem este interesse maior do evento, ele jamais seria realizado em nome apenas da importância cultural ou expressão artística, porque somente os ingênuos poderiam acreditar numa cretinice dessa ordem.

Eu duvido e até incito a quem quiser provar em contrário, que alguém se disponha a promover vaquejada, rodeio ou outro evento artístico similar tão somente sob a inspiração da elevação cultural, como forma apenas do prazer de se promover show artístico, sem qualquer finalidade econômica.

Isso mostra a exploração indevida dos animais e a colocação de pessoas ao risco de morte, como vem acontecendo, nos últimos tempos, porque a lei em si não consegue oferecer mecanismo eficiente para se evitar a ocorrência de  acidentes nem de mortes.

É muito triste que a evolução da humanidade não tenha sido capaz de mostrar ao bicho homem que ele pode imaginar outras formas saudáveis de diversão, fazendo uso da modernidade para tanto, sem pôr em risco a vida das pessoas e dos animais, porque existem muitas alternativas de diversão segura e alegre, sem pôr em menor risco à vida.

Compreende-se que o homem moderno tem muito espaço para evoluir, na busca do seu aperfeiçoamento, em termos de sensibilidade, no sentido de compreender que não faz o menor sentido se aproveitar da instrumentalização de normas jurídicas e desarrazoados sentimentos pessoais inerentes ao culto às tradições importantes para justificar a realização de eventos que têm sido causa de morte de seres humanos e sacrifício de animais.

É preciso que o homem pense racionalmente na grandeza da vida do seu semelhante e possa entender que não compensa a continuidade de eventos de risco, como muitos que a lei permite, mesmo que a diversão seja linda e maravilhosa, sob a nostalgia em nome da tradição, mas muito mais importante é o respeito à preservação da vida, tanto do homem como dos animais.

Com o lamento diante da morte do peão, concito aos homens de boa vontade que se interessem pela realização de diversão cultural e expressão artística, de modo que as vidas humanas e animais tenham prioridade de preservação, tendo em vista que não tem a menor valia que os eventos dessa natureza facilitem a morte de seus participantes e nada se faz para se evitar  mais desastres, mesmo porque eles são absolutamente inevitáveis.      

Brasília, em 21 de março de 2022

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