O
presidente da República discursou no encontro nacional do PL, que é o partido
dele, tendo afirmado que a disputa política no país não é da esquerda contra a
direita, mas sim do "bem contra o mal", evidentemente dando a
entender que ele é o bem e o seu principal opositor é o mal.
O
presidente declarou que "O nosso inimigo não é externo, é interno. Não
é luta da esquerda contra a direita. É luta do bem contra o mal. O que
nós queremos, juntamente com muitos que estão aqui, é deixar e entregar o
comando deste país lá na frente, bem lá na frente, por um critério democrático,
transparente. (Entregar) o país bem melhor do que recebi em 2019".
Ele se
referiu às pesquisas de intenção de votos, tendo desacredito, sem provas, os
levantamentos e sentenciado: "Uma pesquisa mentirosa publicada mil
vezes não fará um presidente da República.".
O
presidente repetiu ideias e princípios que agradam aos seus eleitores mais
fiéis e que fazem parte do bolsonarismo radical, tendo ressaltado as suas ações
ao longo do mandato, como o acesso às armas de fogo e munições, que, segundo
ele, facilitaram a defesa da população civil, além de ressaltar que a sociedade
armada evita golpes por parte dos governos, embora especialistas em segurança
pública garantam que, na verdade, mais armas em circulação pode contribuir para
aumentar a violência e a criminalidade.
O
presidente disse que "Geralmente as ditaduras começam dentro do Executivo.
Eu nunca vi o legislativo dar golpe, o Judiciário dar o golpe. E primeiro se
desarma a população de bem. O nosso governo age na contramão disso. Não tem
nada para acusar o governo de que nós estaríamos buscando censurar o nosso povo
ou censurar a mídia brasileira".
O
presidente garantiu que tudo fará para defender a liberdade e a democracia e
adotará as medidas necessárias "Para defender a nossa liberdade, para
defender a nossa democracia, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja. E
a certeza do sucesso é que eu tenho um exército ao meu lado. E esse exército é
composto de cada um de vocês", não tendo esclarecido a quem ele estava
se referindo especificamente como inimigo.
Sem
apresentar provas, o presidente novamente levantou suspeitas sobre o sistema eleitoral
brasileiro, pondo sob suspeita a contagem de votos pelo Tribunal Superior
Eleitoral, em clara demonstração de generalizado inconformismo que nega até
mesmo a validade da sua eleição, em 2018.
Se
referindo à corrupção, o presidente não mencionou nenhum caso especificamente,
mas fez questão de reclamar que o "sistema", "pessoas
conhecidas" e "setores da imprensa" buscam incriminar
o seu governo com "qualquer coisa, qualquer gota d'água, para
transformar em uma tsunami".
Ele
apenas tentou minimizar a pressão sobre a demissão do ministro da Educação, tendo
afirmado que todos os humanos erram e merecem uma segunda chance.
O
presidente declarou que "Todos sabem como nos portamos, três anos e
três meses em paz nessas questões (de corrupção). Se aparecer (corrupção
no governo), nós colaboraremos para que os fatos sejam elucidados. Todos nós
somos humanos, podemos errar. Quem nunca errou e está nessa plataforma no momento?
E podemos ter, e devemos ter uma segunda chance para voltarmos a ser úteis para
a sociedade.".
As
afirmações do presidente do país, na tentativa de pôr panos quentes nas denúncias
reveladas sobre possíveis práticas irregulares no Ministério da Educação, são
absolutamente equivocadas, porque ele preferiu se omitir, de forma extremamente
inaceitável, diante de fatos alarmantes no seu governo, que exigiam o imediato
afastamento do ministro e a precisa apuração, na forma da lei, para a devida avaliação
sobre o que realmente teria acontecido com a participação de dois pastores
estranhos ao serviço público.
O simples
fato de o presidente alegar “Quem nunca errou” já se confirma o seu
entendimento de que houve a materialidade de atos irregulares e isso seria mais
do que suficiente para a adoção de medidas saneadoras da sua competência, mas a
sua insensibilidade para a administração da coisa pública, o aconselhou a apenas
contemporizar as denúncias, em se tratando que o erro é humano, evidentemente no
entendimento dele, conquanto isso somente conspira contra o seu governo.
Entrementes,
o certo é que o presidente do país se antecipou aos demais candidatos e foi o
primeiro a lançar a sua candidatura à reeleição, mostrando, nos termos do seu
discurso, muita disposição para travar a que será a mais renhida disputa
eleitoral de todos os tempos, diante do quadro muito propício para o lançamento
de torpedos entre os principais candidatos já definidos por ele, como sendo um
do “bem” e o outro do “mal”.
Quem viver,
verá que o presidente deverá partir para cima do seu principal adversário, com
unhas e dentes, principalmente para tentar mostrar que ele tem sido grande defensor
dos princípios da ética e da moralidade na gestão pública.
Pois bem,
nesse ponto, o presidente do país certamente terá enormes dificuldades para
definir exatamente a interpretação dele para o importante princípio da moralidade,
quando ele se elege o candidato do bem, que naturalmente tem como sentimento o
que ele entende que seja algo efetivamente do bem, cujo verbete significa um
conjunto ações benéficas capazes do reconhecimento e da aprovação da sociedade
como somente práticas saudáveis, será isso o que ele quis dizer?
Vejam
que, como estratégia vencedora, na campanha de 2018, o presidente do país foi
brilhante, ao conseguir seguir religiosamente a melhor cartilha elaborada para
disseminar o sentido definido da ética e da moralização dos atos públicos,
tanto que muitos eleitores decidiram votar nele, em razão disso, e isso é pura
verdade.
Ou seja,
ele mostrava aos eleitores que seria o paladino das mudanças necessárias na
administração pública, dando o melhor exemplo das práticas político-administrativas
sob o enaltecimento da ética e da moralidade, a tanto colocadas à margem pelos
governos anteriores.
Não
obstante, a firmeza dessa expressiva ideia começou a se derreter quando ele percebeu
que poderia perder o cargo, por meio de processo de impeachment, diante da sua
fragilidade de apoio político no Congresso Nacional.
Diante
disso, mais do que imediatamente, o presidente do país providenciou a sua
magistral atração do pior grupo político para junto do seio do seu governo, de
modo a propiciar, em troca, cargos importantes e liberação de emendas parlamentares,
tudo em consonância com as mesmas práticas inescrupulosas próprias do
desmoralizado e indecente sistema fisiológico conhecido como o toma lá, dá cá,
tendo como propósito a garantia da continuidade do seu mandato.
Esse
processo de visível depravação moral, que tanto era criticado pelo presidente
do país, na sua campanha eleitoral, caracteriza, sem dúvida, verdadeira prostituição
do seu governo, que foi ainda mais intensificada, porque o Centrão conseguiu,
pasmem, ter maior controle das ações político-administrativas, por passar a ser
o verdadeiro dono da chave do Tesouro Nacional, uma vez que o seu grupo comanda
o Orçamento da União, além de ter criado o famigerado e recriminável “orçamento
secreto”, que formaliza e integra toda forma de mediocridade administrativa, absolutamente
inovadora, porque ela inexistia nos piores governos da história do Brasil.
Para selar
o sentimento de puro sangue de integrante do Centrão, o presidente do país ainda
se dignou a se filiar ao principal partido que dá sustentação a esse deplorável
e abominável grupo político, o que significa que poderá ser ampliada a margem
de dominação político-administrativa no governo desse desprezível grupo político,
que é certamente algo que não condiz com o “bem” de uma nação, salvo para
mentes poluídas que imaginam que bem é o sentimento que satisfaz apenas as suas
metas e os seus objetivos políticos de poder.
Ainda sob
a invocação do bem, em boa e apropriado momento da lançadura da candidatura à reeleição,
convém que se remonte, agora, a desgraça que se abateu sobre os brasileiros,
com a incidência da terrível pandemia do novo coronavírus, cujo rastro de
mortalidade vai muito além de 650 mil pessoas.
Com
absoluta certeza, se o combate a essa tragédia tivesse sido feito por meio de
medidas muito mais relacionadas ao “bem”, essa dramática quantidade de mortes
jamais teria atingido patamar tão exagerado, na compreensão de que o sentimento
da sensatez teria prevalecido sobre o negativismo, com acenos de medidas administrativas
apenas de cunho humanitário, em que a vida dos brasileiros teriam merecido
tratamento prioritário, em especial partindo da principal autoridade da nação,
que se mostrou contrária às comezinhas orientações de natureza profilática e
sanitária, conforme confirmam os fatos.
Certamente
que o governo do “bem” teria competência para ter sob o seu comando a melhor
equipe de especialistas em saúde pública e sanitarismo, de modo que o principal
órgão incumbido do combate à pandemia fosse comandado não apenas por
estrategista de suprimento militar, mas sim por especialista da melhor
competência e domínio sobre as questões inerentes à saúde pública, que também poderia
ter criado comissão estratégica de governo, composta por gente de altíssimo nível
de especialização e entendimento em sanitarismo, para atuar em âmbito nacional,
evidentemente tendo a participação de pessoas igualmente competentes dos
estados da federação.
O certo
mesmo é que o governo considerado do “bem” poderia ter aproveitado a
precariedade e as mazelas da pandemia para mostrar competência e responsabilidade
em que tudo que estivesse sob a sua incumbência constitucional, que é cuidar,
da melhor maneira possível, da vida dos brasileiros.
A verdade
é que houve vacilo e negligência na compra das vacinas, que contribuiu para o atraso
da vacinação em quase um mês, cuja incompetência resultou certamente em
milhares de mortes, além da disseminação de atitudes negacionistas que somente demonstravam
desprezo a vida humana.
É
evidente que mesmo sendo contrário às medidas sanitaristas, a principal autoridade
do país poderia ter sido verdadeiro agente do “bem” se tivesse demonstrado
empenho no combate à pandemia, ao contrário de ter sido ferrenho crítico do
isolamento social, do uso de máscaras, além de discordar das vacinas, que sequer
se dignou a ser vacinado, como demonstração inequívoca do seu desprezo à imunização.
É terrível
ser preciso levantar fatos que realmente aconteceram no governo, mas que são
simplesmente esquecidos, como se seus malefícios fossem normais, quando não são,
diante dos prejuízos resultantes à sociedade.
Convém lembrar
que o bem não comunga com nada que seja contrário aos princípios do bom senso e
da racionalidade, porque o seu princípio é o de somente se harmonizar com as
verdadeiras práticas necessárias à satisfação das necessidades da sociedade,
inclusive no que diz respeito, em especial, à excelência dos cuidados da saúde
pública, que foi extremamente prejudicada por atos de negligência, conforme
mostram os fatos.
Acredita-se
que o presidente do país poderá ser severamente desacreditado, na campanha
eleitoral da reeleição, se ele sequer fizer menção a sentimentos de moralidade
e sensibilidade humana, diante das suas nada exemplares atitudes de confissão
de amor ao Centrão, que é o símbolo do fisiologismo e ele não tem como despistar
esse terrível fato, porque o seu nome estará vinculado ao número do partido que
o integra, e de negacionismo à existência do coronavírus, quando faltaram medidas
abrangentes ao seu efetivo e eficiente combate, à vista do resultado da
Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, realizada no Senado Federal.
Enfim, o
presidente da República pode até ter razão em invocar o adjetivo do mal para o
seu principal adversário político, por ele ter forte ligação com os escândalos
de corrupção retratados no mensalão e no petrolão, fato que realmente tem muito
peso na decisão para se escolher o ideal presidente do Brasil, mas o bom senso
aconselha que ele não terá facilidade para se considerar o candidato do bem,
diante de reprováveis exemplos no seu governo, conforme os fatos indicados
acima.
Brasília,
em 28 de março de 2022
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