quinta-feira, 10 de março de 2022

Oportunismo político?

O ex-governador tucano de São Paulo acertou sua filiação ao PSB, com o intuito de ser o candidato a vice-presidente da República, na chapa do ex-presidente da República petista, em que pese o seu partido e o PT não terem ainda acertado a formação de federação para as eleições deste ano.

De acordo com um deputado do PSB, ficou acertada, em reunião, a aludida filiação, em ato partidário para selar a adesão do ex-governador paulista, depois de a direção do partido ter a confirmação do acerto do convite, por parte do petista-mor, para que o ex-tucano seja seu companheiro de chapa, embora o modelo dessa aliança ainda não esteja definido.

Independentemente de federação ou coligação entre os dois partidos, é fato que o ex-tucano deverá ser mesmo o vice na chapa petista, porque as negociações nesse sentido já foram seladas.

A propósito dessa importante aliança política, convém se reportar ao passado não muito distante em que o ex-tucano se manifestava contrariamente à índole do seu par de chapa, quando ele, com muita eloquência, mostrou, com ênfase e precisão, o que ele representava na vida pública brasileira, que tem ligação com fatos que permanecem intactos, uma vez que remanescem vigentes as mesmas ocorrências delitivas por meio das quais ele teria se respaldado para o seu importante discurso político.

Esse pronunciamento se tornou histórico, porque o seu conteúdo simboliza a marca de político em completa decadência moral, à vista dos fatos deploráveis atribuídos a ele, sob a afirmação de que o seu legado seria julgado pelas urnas, merecendo a condenação dos verdadeiros brasileiros, na acepção de que ele seria indigno da grandeza do Brasil e jamais poderia retornar ao poder, para comandá-lo, com o peso de tantas maldades protagonizadas contra o povo, com marcas profundas no gerenciamento dos recursos públicos.

Em vídeo que circula nas redes sociais, o ex-tucano afirmou, com bastante  lucidez e disposição, a seguinte mensagem, ipsis litteris:Brasileiros não são tolos e estão vacinados contra o modelo lulupetista de confundir para dividir, de iludir, para reinar. Mas vejam a audácia dessa turma. Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz quer voltar ao poder. Ou seja, meus amigos, eles querem voltar à cena do crime. Será que os petistas merecem uma nova oportunidade? Fiquem certos de uma coisa: nós os derrotaremos nas urnas. Lula será condenado nas urnas pela maior recessão da nossa história. As urnas os condenarão pelos quinze milhões de empregos perdidos, pelas milhares de empresas fechadas, pelos sonhos desfeitos, pelos negócios falidos, por ter sucateado a nossa saúde, atentado contra a saúde dos brasileiros. As urnas os condenarão pelo desgoverno, pela destruição da Petrobras, por obras inacabadas e abandonadas, por jogar brasileiros contra brasileiros.”.

À toda evidência, o supracitado pronunciamento é o retrato fiel e irretocável de político simplesmente horroroso e desastrado, que nem as piores republiquetas o merecem, exatamente porque os seus atributos mostram as inferiores qualidades atribuídas ao homem público, que não teria a mínima condição para o exercício de cargo público, segundo o entendimento do ex-tucano, dando a entender que ele representaria verdadeira chaga para os interesses da sociedade, por já ter protagonizado tudo de ruim que se possa imaginar contra os princípios republicano e administrativo.

Diante disso, causa enorme perplexidade que o mesmo ex-tucano se digne a formalizar aliança exatamente com o político que, até há poucos dias, o considerava o pior homem público da face da Terra, na forma do seu elucidativo pronunciamento, conforme transcrito acima.

É evidente que, em se tratando de políticos brasileiros, isso não deveria causar surpresa alguma, porque essa maneira de comportamento na esculhambada vida pública se compatibiliza perfeitamente com o arraigado sentimento prevalente na vocação oportunista de muitos eles, que estão muito acima das causas nacionais e dos princípios e das condutas salutares que deveriam ser observados rigorosamente como regras em estrita defesa dos interesses do Brasil e do seu povo.

Na verdade, essa clara forma debochada e desmoralizante aos princípios republicanos não é culpa de políticos destituídos princípios, em absoluto, exatamente porque eles não têm a mínima condição se eleger por vontade própria, somente com o próprio voto, ou seja, o voto dele é absolutamente incapaz de elegê-lo.

A verdadeira culpa pela existência de políticos sem caráter, sem dignidade e sem condições morais para representar os brasileiros honrados e dignos é exclusivamente dos eleitores, que ainda se curvam a elegê-los seguidamente, contribuindo continuamente para que a representação política brasileira seja a pior e mais desgraçada dos mundos, à vista da existência de homem público que reconhece a inutilidade de alguém, mas, de forma torpe, porque nada de novo ocorreu com relação à análise dos mesmos fatos, se digna a formar aliança com ele, com a cara mais lisa e desavergonhada de quem jamais o criticara com palavras e acusações severas, o que só evidencia o nível da sua indignidade política, que não merece senão desprezo, em termos de urnas, que merecem muito respeito, em termos de cidadania e civismo, como formas de se honrar o verdadeiro sentimento de brasilidade.

Cabe lembrar o ditado popular que sentencia que o povo tem o governo que merece, exatamente porque o presidente da República e, de modo geral, os representantes políticos são eleitos pelo povo e somente se elege aquele para quem o eleitor decidir depositar o seu voto na urna, de forma soberana.

Com isso, não será novidade alguma se político que, em determinado momento, se digna a mostrar os podres de seu adversário, mas em seguida, por visível conveniência carreirista e oportunista, ou seja, por puro interesse pessoal e não em defesa do povo, fecha os olhos para tudo o que disse antes, sem que tivesse acontecido nada de novo, se eleja a cargo público eletivo, exatamente sob a ótica magnânima do povo, que compreende que deve ser governado por políticos sem caráter e notoriamente indignos de exercerem cargos públicos.   

Enfim, a partir de abalizadas e bem fundamentadas avaliações acerca dos atributos do principal líder da oposição, que tiveram por base fatos que permanecem intatos, desde então, feitas por seu par de chapa presidencial, pode-se inferir que o ex-tucano, ao se associar politicamente a ele, deve merecer igualzinho tratamento por ele vaticinado no seu preciso discurso, no sentido de que as urnas precisam, agora, condená-los pelos mesmos motivos reprovados no pronunciamento lapidar, acima transcrito, uma vez que ele passa a assumir as mesmas premissas ali elencadas, em razão da sua composição com quem ele condenava sumariamente, com base em argumentos que não se alteraram, ao longo do tempo.

Ante o exposto, urge que os brasileiros criem gosto pela política, procurando se conscientizar sobre a necessidade de somente votar em homem público que demonstre firmeza de caráter, zelo pelo patrimônio público e retilineidade de respeito aos princípios fundamentais da administração pública, quanto aos requisitos da moralidade, da dignidade, do decoro, da competência, da economicidade, da eficiência e das demais condutas que se compatibilizem com os sublimes interesses da sociedade.        

          Brasília, em 10 de março de 2022 

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