Um ministro do Supremo Tribunal
Federal determinou, a pedido da Polícia Federal, o bloqueio do aplicativo
Telegram, no Brasil, de modo que os provedores de internet e as plataformas
digitais ficam obrigados a “inviabilizar a utilização do aplicativo”,
sob pena de sanção pecuniária.
Noticia-se que a Polícia Federal
informou ao Supremo que “o aplicativo Telegram é notoriamente conhecido por
sua postura de não cooperar com autoridades judiciais e policiais de diversos
países, inclusive colocando essa atitude não colaborativa como uma vantagem em
relação a outros aplicativos de comunicação, o que o torna um terreno livre
para proliferação de diversos conteúdos, inclusive com repercussão na área
criminal”.
Ao que se sabe, a questão com o
Telegram vem se arrastando desde alguns meses e se acentuou com a aproximação
das eleições presidenciais de outubro vindouro.
Por seu turno, com a finalidade
de tentar combater a disseminação de notícias falsas, as conhecidas fakes news,
o Tribunal Superior Eleitoral convocou as plataformas e as mídias sociais para
fazerem parcerias, mas a Telegram nunca respondeu aos contatos formulados,
preferindo ficar à margem do aperfeiçoamento democrático.
Além disso, o Supremo determinou
que a Telegram providenciasse a exclusão de três perfis da rede social que
divulgavam informações falsas, sem que isso tivesse sido atendido, até o momento,
ainda que após quatro tentativas com os gestores das redes sociais, segundo informações
prestadas pela Polícia Federal.
Diante desse bloqueio, o presidente da República
classificou de "inadmissível" a decisão em apreço, tendo
declarado que teria tido conhecimento de “notícia no mínimo triste. A
decisão de um ministro de simplesmente banir do Brasil o aplicativo Telegram".
O presidente do pais disse que "É inadmissível uma
decisão dessa natureza. Porque não conseguiu atingir duas ou três pessoas que
na cabeça dele deveriam ser banidos do Telegram, ele atinge 70 milhões de
pessoas".
O mandatário brasileiro ainda afirmou, no alto da sua criativa
imaginação, que a aludida medida pode "causar óbitos por falta de um
contato paciente-médico", ou seja, essa ilação não faz o menor sentido.
Na decisão, o ministro afirmou que o aplicativo, "em
todas essas oportunidades, deixou de atender ao comando judicial, em total
desprezo à Justiça Brasileira", fato este que, segundo ele, caracteriza
desrespeito às leis brasileiras, por parte do aplicativo, com ferimento à Constituição
Federal.
Por seu turno, o fundador do Telegram disse que um problema
com o e-mail impediu a plataforma de receber as determinações judiciais
brasileiras, tendo ele declarado que, "Em nome de nossa equipe, peço
desculpas ao Supremo Tribunal Federal, por nossa negligência. Definitivamente,
poderíamos ter feito um trabalho melhor".
Decorrentemente, desde 2021, o presidente do país e seus
filhos, ministros e assessores vêm utilizando as plataformas do Telegram para
divulgar conteúdo de seus interesses, por considerarem que a rede é "livre
de censura" e, por isso, a utilizam para a disseminação de textos e
vídeos, muitos dos quais com desinformação que poderia ser barrada em outras
plataformas, que cuidam e zelam pelo respeito à disseminação de conteúdos sérios
e verdadeiros.
Enfim, por se tratar de decisão que envolve plataforma de
prestação de serviços abrangendo a ordem social, sem nenhuma vinculação com o
governo, constitui erro crasso do presidente do país ficar opinando ou
criticando a decisão judicial que tem por finalidade, em princípio, o
aprimoramento do funcionamento dele, em termos de respeito aos princípios
legais.
Isso vale dizer, nesse caso, que o mandatário do país confunde
os interesses privados com os assuntos do Estado e isso não é bom para a sua
imagem, uma vez que ele precisa se esforçar para defender apenas causas de
interesse público.
Impende
se esclarecer que, ao que tudo indica, a reversão do bloqueio em causa somente
será possível depois do cumprimento de uma série de decisões proferidas pelo Supremo,
que foram ignoradas pela plataforma.
Além
do bloqueio das contas de um blogueiro bolsonarista, há a determinação para a exclusão
de uma publicação do presidente do país, em que ele ataca as urnas eletrônicas com
alegações falsas e sem provas quanto às supostas fraudes.
A empresa também precisará pagar as multas fixadas nas
respectivas decisões judiciais não cumpridas, além de ser abrigada a indicar representação
oficial, no Brasil, em consonância com exigência legal, que é algo que as
demais plataformas já fizeram, com relação à normalização da sua sede no país.
É evidente que o presidente do país tem motivos mais do que
suficientes para considerar “inadmissível” a decisão em comento, porque os
fatos mostram que o seu grupo vem se beneficiando do Telegram para a disseminação
de notícias que não seriam aceitas facilmente por outras plataformas, conforme
narrativa acima, sobre a falta de zelo à fidelidade à verdade.
Esse fato, em princípio, denota pouco sentimento com os
princípios da transparência e da civilidade, porque isso é o mesmo que se dizer
que, no Telegram, é possível o emprego do medonho jeitinho brasileiro, que
seria dificultado em outros grupos, porque eles primam pela seriedade e isso
não é bom para a imagem do governo, que precisa ser o mais transparente
possível com os seus atos.
Não tem o menor cabimento o presidente do país sair em defesa
do Telegram, quando o assunto que deu origem à decisão do bloqueio, consistente
na falta de cumprimento de determinação judicial, cinge-se à incumbência privativa
do poder Judiciário, quando ele precisa opinar exclusiva e apenas quando for
necessário sobre os assuntos de interesse do Executivo.
Ou seja, o presidente brasileiro perde excelente oportunidade
para ficar calado, porque a matéria em causa reforge à sua competência
institucional e criticar decisão do Supremo, por mais errada que ela seja, não
é de bom tom para o governo, tendo em vista que é preciso que haja respeito à
autonomia dos poderes da República, conquanto competem somente às partes envolvidas
resolverem as demandas judiciais.
Por sua vez, há pessoas que criticam no sentido de que o
Brasil é um dos poucos países que têm o Telegram bloqueado, sem sequer eles atentarem
quanto ao porquê da medida, que teria sido em razão de descaso da administração
dessa plataforma, ao deixar de cumprir determinações do Supremo e isso é motivo
suficiente para a proibição do seu funcionamento no país, exatamente para
mostrar a necessidade do respeito à legislação pátria, inclusive às decisões
judiciais.
Em se tratando de prestação de serviços de natureza da
ordem social, os brasileiros anseiam por que as tratativas empreendidas possam
levar à imediata regularização das pendências demandadas, de modo que seja
respeitada a legislação que rege o funcionamento da plataforma em questão, em
estrita sintonia com os princípios civilizatórios, tão necessários ao bem comum
da sociedade.
Brasília,
em 19 de março de 2022
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