quinta-feira, 3 de março de 2022

Ponto fora da curva

O ex-chanceler do atual governo fez duras críticas à postura do presidente da República, com relação à posição dele diante da guerra na Ucrânia, tendo afirmado que o mandatário está reproduzindo “desinformação russa”.

         Em vídeo publicado em seu canal no YouTube, o ex-ministro disse que a posição de suposta “neutralidade” defendida pelo chefe do Executivo transmite, na verdade, nítida preferência pela Rússia, país do declarado amigão comunista dele.

O ex-chanceler afirmou que “Me parece que a posição correta do Brasil, compatível com nossos valores morais e interesses materiais, seria um apoio à Ucrânia, junto com as grandes democracias ocidentais”.

O ex-ministro aproveitou para também criticar a desastrada visita do presidente brasileiro à Rússia, no momento de extrema tensão entre os dois países, cuja escalada prenunciava o conflito iminente, fato que, no entendimento dele, contradiz a posição de neutralidade que o presidente diz que vem defendendo.

O ex-chanceler esclarece que o presidente do país também validou a narrativa russa, ao se referir, de forma pejorativa, ao presidente da Ucrânia, como ator “comediante” e acrescenta que “A ilação que o presidente está fazendo é que o povo ucraniano entregou o seu destino a alguém que não tinha capacidade de conduzi-lo e agora está sofrendo as consequências disso. Isso é pura propaganda russa”, embora ele entenda que não é demérito algum que o líder ucraniano tenha sido comediante.

A propósito, o antigo fiel aliado do presidente do país, o ex-chanceler, tem feito reiteradas críticas ao ex-chefe, como a recente acusação ao mandatário de ele estar favorecendo política “pró-China”, com respaldo da espúria aliança dele com o famigerado Centrão.

Na opinião do ex-ministro, o mencionado bloco fisiológico teria passado a pautar a gestão federal conforme os interesses do país asiático,  em detrimento das causas brasileiras.

As críticas do ex-chanceler evidenciam verdadeira dissonância de pensamento entre os bolsonaristas, com prenúncio de racha na base de apoiadores do governo, em especial sobre a forma como o Brasil deva se posicionar perante a invasão da Ucrânia.

A verdade é que esse conflito suscitou diferenças de interpretação quanto ao posicionamento brasileiro e expôs visíveis dissonâncias no seio dos fiéis aliados do presidente do país, mas com tendência de união com grupos de oposição, em defesa, pasmem, logo do ditador-presidente da Rússia, que dissente da ideologia de direita, dando a entender que há, nessa história, forte influência de fatores inconfessáveis do presidente brasileiro.

É evidente que, com o pronunciamento dissidente do ex-chanceler, expressiva parcela de bolsonaristas optou, de forma declarada, por condenar a ofensiva russa e defender a Ucrânia, ficando clara a divisão no âmbito da ala ideológica da direita, liderada pelo presidente do país.

É extremamente deplorável que, em situação da maior gravidade que representa a guerra, ainda coexista a alimentação de ideologia para se posicionar acerca de qual país deva se tomar partido, quando o que importa nesse caso é a defesa da humanidade, que precisa ser defendida sobre quaisquer outros interesses.

Isso vale dizer que o Brasil precisa se conscientizar de que a guerra compreende o recurso bestial dos brutos, dos selvagens e dos ditadores, com notória índole cruel e desumana, diante da compreensão de que, havendo boa vontade, bom senso, tolerância, racionalidade, é possível a negociação da paz, em nome da preservação de vidas humanas e patrimônio.

No caso do governo brasileiro, não há a menor dúvida de que realmente não existe neutralidade coisa alguma, porque o seu presidente tomou partido pelo amigão comunista, tendo como principal argumento o fornecimento de fertilizantes para o agronegócio brasileiro, que são vitais para o cultivo agrícola brasileira, mas a continuidade dos conflito pode perfeitamente prejudicar a normal importação desses produtos.

Em nome do bom senso e em defesas dos princípios humanitários, o presidente brasileiro precisava condenar, com veemência, a estupidez da guerra, dizendo com muita clareza não a posição insensata da imparcialidade, motivada, como visto, exclusivamente por finalidade econômica, no sentido de que não se pode censurar a Rússia, por sua monstruosidade, justamente porque, se o fizer, corre-se o risco de ficar sem o precioso fertilizante, em clara demonstração de que, mais uma vez, elege-se a economia, em detrimento da vida humana, como aconteceu no combate à pandemia do coronavírus.

Infelizmente, essa é a verdadeira história do país com a grandeza do Brasil, que não teria condições nem poder para interferir no curso da terrível e infernal guerra, mas poderia muito bem, ante os princípios humanitário e de racionalidade, se manifestar com a mais sublime posição de condenação aos bestiais conflitos, mostrando o seu interesse pelas negociações com vistas à assinatura dos termos da paz.      

          Brasília, em 3 de março de 2022 

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