Nos
governos anteriores ao atual, era normal a cleptocracia se sustentar,
basicamente, com o apoio da ganância dos sindicatos, da avidez dos aproveitadores
das inescrupulosas elites empresarial, política, financeira, cultural e
artística, e do quase total servilismo da imprensa, em total desprezo aos anseios
dos eleitores, os mais interessados na participação da gestão pública.
Com a
ascensão à Presidência da República do atual presidente, com os arroubos de
moralidade e mudança de governabilidade, havia esperanças de que aqueças mazelas
na gestão pública, enfim, teriam caídas
em definitiva decadência, uma vez que o neófito poder sinalizava para rumos estrategicamente
diferentes, tendo por base os princípios do liberalismo econômico, que passariam
a ocupar o espaço do deplorável estatismo de estrutura eminentemente cooperativista,
de cunho populista e antidesenvolvimentista.
Havia a compreensão
sobre o vislumbre de outros horizontes para os destinos do Brasil, sob o comando
e a orientação da direita ou, quiçá, de centro-direita, que mandaria para o espaço
sideral as retrógradas e nefastas ideias do socialismo.
Em que
pese a cristalina falta de preparo e capacidade do atual presidente do país, a maioria
esmagadora dos eleitores resolveu acreditar nas suas promessas de campanha, que
aproveitou o ensejo para falar precisamente o melhor do bom moço, tendo
conseguido transmitir as melhores ideias de governo para os brasileiros, já massacrados
pelos abusos e por intermináveis roubalheiras, fisiologismo e insucessos nas
políticas socioeconômicas, à vista dos melancólicos resultados mostrados pelos
índices de desenvolvimento.
Ou seja,
aquelas ideias disseminadas pelo dito “paladino” da moralidade e das mudanças,
que viriam com as múltiplas reformas estruturais e conjunturais do Estado, se
harmonizariam como uma luva com a avidez dos brasileiros, que ansiavam pelo aparecimento
de novos tempos na política e na administração do país, na esperança de que as
mudanças prometidas eram reais e para valer mesmo, mas os fatos mostraram o
completo desvirtuamento das metas de governo, que se transformaram em indiscutível
e criminoso estelionato eleitoral, quando as reformas foram apenas acanhadíssimas,
exemplo da previdenciária, como a mais notável e talvez a única.
Diante
desse novo contexto político, era de se imaginar que os governos anteriores,
que tiveram a prodigalidade de se estruturar, em especial, sobre um mar de
esquemas corruptivos, que chegou a assombrar o mundo civilizado e democrático, mas
apenas na época do auge da Operação da Lava-Jato, seriam varridos da face da
Terra, à vista das maravilhas prometidas, em forma de metas de governo, pelas
audaciosas promessas do novo gerenciamento do país, sob os ares dos princípios
da modernidade, seriedade e moralidade.
Não
obstante, os fatos mostram a realidade nua e crua de muitas mazelas e
precariedades que insistem em permanecer nas entranhas do governo, em especial,
como o vergonhoso fisiologismo, com a entrega da gestão pública para o controle
do famigerado Centrão, que é o símbolo do deplorável esquema conhecido como “toma
lá, dá cá”, que jamais teria acento em governo com o mínimo de seriedade e
honradez, no que se refere à gestão de recursos públicos.
Nessa
linha de decadência moral e administrativa, o governo cuidou de reconduzir o
procurador-geral da República no cargo, que tudo fez para liquidar, em definitivo,
com a competente Operação Lava-Jato, órgão da Justiça que teve papel importantíssimo
contra a criminalidade, a corrupção e a impunidade, na administração pública, cujo
excelente trabalho havia sido reconhecido e elogiado pelo então candidato à
Presidência da República, tanto que, depois de eleito, ele cuidou de nomear o
juiz daquele órgão para o seu ministro da Justiça, como prova da confiança nos
auspiciosos resultados obtidos nas suas investigações e nos seus julgamentos.
Com o
intuito de materializar a verdadeira desmoralização da gestão pública, o
presidente do país houve por bem entregar o seu governo para o gerenciamento do
famigerado Centrão, com a disponibilização para ele de ministérios e bilhões de
reais, sob a forma de emendas parlamentares, além da vexatória instituição do
deplorável “orçamento secreto”, que tem por finalidade a exclusiva compra da consciência
de parlamentares, igualmente inescrupulosos.
Na verdade,
o orçamento secreto constitui expressiva excrescência na gestão pública, por
liberar recursos para aliados do governo, sem a necessidade sequer da indicação
do nome do beneficiário e, por pior, sem a obrigatoriedade da prestação de
contas sobre a aplicação dos recursos pertinentes.
Tal
procedimento mostra, com clareza, a falta de seriedade para com o dinheiro dos contribuintes,
uma vez que isso significa verdadeira farra com o dinheiro público, quando não
há controle, fiscalização nem indicação sobre a sua aplicação, ou seja, o
atendimento da satisfação de necessidades públicas.
Agora, há
o registro de fato bastante marcante do governo, que diz, precisamente, com o
combate à pandemia do coronavírus, com o envolvimento direto das vidas humanas,
em que o presidente do país se tornou o símbolo do negativismo e fez tudo para
dificultar a compra das vacinas, permitindo que houvesse injustificável atraso
na imunização, de quase um mês, além de ter colocado pessoa absolutamente
despreparada e sem conhecimentos de medicina nem de sanitarismo à frente do
Ministério da Saúde, que é o principal órgão incumbido de executar as políticas
de saúde pública, com vistas à proteção dos brasileiros contra as doenças.
Na
verdade, foi constatado que o combate ao coronavírus se caracterizou pela cristalina
demonstração de insensibilidade humana perante a pior crise da saúde pública
brasileira, fato que pode ter contribuído para potencializar a quantidade de
mortes pela Covid-19, cujo total de óbitos ascende a mais de 660 mil.
O certo
mesmo é que a tão ansiada melhoria na prestação dos serviços de incumbência
constitucional do Estado ainda continua pendente de implementação, a par da notória
falta das reformas estruturais e conjunturais da máquina pública, que sequer
foram ventiladas e nem houve interesse nesse sentido, dando a clara impressão
de que tudo ficou na base da mera experimentação para possível execução em oportunidade
futura, a depender das circunstâncias e, evidentemente, das conveniências
pessoais, com vistas à manutenção no poder.
Urge que
os brasileiros se conscientizem sobre a conveniência de se exigir dos candidatos
integral rigor no cumprimento das metas de trabalho apresentadas na campanha
eleitoral, como forma de moralização do planejamento de governo, uma vez que o
afastamento das promessas feitas aos eleitores constitui inaceitável quebra da
palavra, com o contorno próprio de estelionato eleitoral, que não condiz com a
seriedade e a dignidade ínsitas das pessoas públicas.
Brasília,
em 24 de maio de 2022
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