O presidente República vetou
o projeto que autorizava a inscrição da médica psiquiatra Nise da Silveira no
livro dos “Heróis e Heroínas” da Pátria.
A médica teve atuação na
área da psiquiatria na década de 1940 e se notabilizou por ter sido uma das
pioneiras do movimento contra métodos agressivos e violentos aplicados, à época,
a internados com transtornos mentais.
Em 1936, a médica foi
presa depois de ter sido denunciada por envolvimento com líderes do comunismo,
no Brasil.
A homenagem, post-mortem,
havia sido aprovada pelo Senado Federal, como forma de reconhecimento da sua importante
obra humanitária, mas não foi possível a
sua efetivação, uma vez que o presidente do país conseguiu encontrar justificativa
fajuta para o veto do nome dela, alegando, pasmem, que "não é possível
avaliar a envergadura dos feitos da médica Nise Magalhães da Silveira e o
impacto destes no desenvolvimento da Nação, a despeito de sua contribuição para
a área da terapia ocupacional".
Acontece que a médica
Nise Silveira ficou conhecida mundialmente por ter sido crítica de tratamentos à
base de “eletrochoque, lobotomia, camisa de força e o isolamento em
hospícios”, que são métodos absurdamente desumanos.
Como defensora de
métodos mais humanizados, a médica inseriu a interação com a arte,
especialmente a pintura, como forma de tratamento dos transtornos mentais, com
efetiva capacidade de recuperação de doentes.
Como resultado desse
tratamento, além de minimizar, de maneira significativa, o sofrimento dos
doentes, muitas obras de seus pacientes ainda estão em exposições pelo país e
já chegaram a ser expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
O exemplar e a excelência
desse trabalho, de notórios cunho humanista, ganhou projeção mundial e teve a
obra dela reconhecida por psiquiatras de renome internacional, inclusive o
famoso suíço Carl Jung.
Não obstante, verifica-se
que, muito estranhamente, o presidente do país houve por bem discordar da
iniciativa do Senado Federal, em homenageá-la, com o devido mérito, tendo alegado,
para tanto: "Ademais, prioriza-se que personalidades da história do
país sejam homenageadas em âmbito nacional, desde que a homenagem não seja
inspirada por ideais dissonantes das projeções do estado democrático".
A senadora-relatora do
projeto defendeu a brilhante trajetória da psiquiatra, tendo por base que "A
doutora Nise foi uma extraordinária psiquiatra, que implantou tratamentos
humanizados para transtornos mentais e criou um novo momento em relação a esses
tratamentos na nossa sociedade brasileira. Estar no livro de Heróis e Heroínas
da Pátria é, sobretudo, um reconhecimento ao trabalho que essa mulher fez para
o Brasil".
Eis aqui mais uma tremenda
e absurda confusão mental, quando se quis confundir, de propósito, trabalho
profissional de altíssima qualidade com questões político-ideológicas, quando
fica muito claro que uma coisa não tem absolutamente nada com a outra, o que só
demonstra indiscutível sentimento de ódio e vingança, na tentativa de se querer
fazer justiça com as próprias mãos, quando se nega, por meio de justificativas
sem a menor plausibilidade, a concessão do justo direito ao reconhecimento da
competência distinguida em benefício da sociedade e digna sim do título
honorário à altura da homenageada, que muito fez pelas ciência e humanidade.
Não há a menor dúvida de
que nada justifica o veto presidencial à grandeza dessa excelente profissional
da medicina, que foi inovadora em métodos de tratamento humanizado, dignos por
todos os governos imbuídos da seriedade e do respeito à competência e à
sensibilidade em harmonia com os princípios humanos, exatamente na maneira pioneira
e vanguardista da doutora Nise Silveira, expoente dos estudos da psiquiatria
nacional, que foi, sem dúvida alguma exemplo para o mundo, sendo merecedora dos
maiores títulos honorários conferidos aos brasileiros do quilate dela.
É muito triste que o
presidente da República não tenha a grandeza de sentimento humano para
reconhecer a magnífica obra da médica brasileira que teve o elevado reconhecimento
precisamente dos entendidos da psiquiatria, que elogiaram o importante feito
das descoberta da doutora Nise Silveira, que são realmente notórios.
A despeito disso, o
mandatário da nação, visivelmente sob o pretexto de cunho eminentemente ideológico,
já que ela se envolveu em causa política, que não se confunde com a área psiquiátrica,
achou por bem de entender o absurdo do contrário, ao afirmar, pasmem: “não é
possível avaliar a envergadura dos feitos da médica Nise Magalhães da Silveira
e o impacto destes no desenvolvimento da Nação, a despeito de sua contribuição
para a área da terapia ocupacional.”, que não passam de declarações fora da
realidade do que exatamente foi feito pela psiquiatra, conforme mostram os
fatos, que são vistos à luz solar, que não pode ser vista pela insensibilidade
humana.
A aludida assertiva é
tão ridícula e estapafúrdia que os excelentes resultados produzidos com o
método inventado pela médica foram extraordinários, à vista da valorização dos
princípios humanitários, com a eliminação de tratamento cruéis e desumanos e a introdução
de terapia à base da arte, em forma de socialização progressiva da familiarização
do paciente com métodos de racionalização à moderna humanização dos doentes.
A verdade é que, nem
mesmo a visível insensibilidade dos homens, felizmente, consegue deslustrar a
grandeza e a excepcionalidade de quem realmente se tornou digno de aplausos,
cujos louros lhe são devidos e atribuídos pela marca indelével da sua fantástica
obra, que é tão expressiva que tem o poder de se eternizar na história
brasileira e servir de modelo para gerações, ante a sua representatividade em
forma de dedicação e amor ao ser humano.
O presidente da República
perde excelente oportunidade para mostrar um pouco do seu sentimento de sensibilidade
ao trabalho de muita grandeza e valorização aos princípios humanitários, como o
que foi feito pela médica psiquiatra Nise da Silveira, que merece sim que o seu
nome seja inscrito no rol dos heróis e heroínas nacionais, para que o seu importantíssimo
legado perpetue na história e na lembrança dos brasileiros.
Brasília,
em 28 de maio de 2022
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