Recebi da querida irmã Vandali duas fotografias que mostram o esplendor da visão panorâmica do sítio Canadá, em Uiraúna, Paraíba, sobressaindo as águas do velho açude dos encantos da minha belíssima infância.
Vendo
a placidez das águas de tão formoso açude, me volto, mais que impositivamente, aos
longínquos e saudosos tempos da minha fantástica infância, quando ele era a
minha “praia”, por grande parte dos meus dias, em especial, no banho, que era
infalível.
Ao
vislumbrar o meu encantado "mar" de água doce, veio à minha mente a presença
de memoráveis lembranças de tudo que me proporcionava completo prazer, ao meu
alcance, nesse particular.
Foi
nessa água cristalina e saudável que aprendi a nadar, indo às lonjuras,
chegando a atingir as margens opostas, em verdadeiro ato de heroísmo, para a
minha pequenez, que amarava superar os obstáculos à minha frente, ainda na
minha ingênua criancice, os quais eram vencidos depois de cuidadosas avaliações
sobre os riscos que nem sempre constituíam empecilho insuperável, conforme
tantos sucessos colecionados nas aventuras, em todas as boas experiências
vividas, na mansidão das águas acolhedoras e refrescantes.
Naqueles
tempos, me impressionava muito a enorme quantidade de piabinhas, que ficavam ao
redor de mim, em costumeiro e gostoso ritual de picar minhas pernas, em
rebanho, como forma de interessante e relaxante massagem, altamente benéfica à
circulação sanguínea, imagino.
O
que se imaginar dos sonhadores passeios de canoa, feita com capricho e esmero
pelo “capitão” e cuidador das águas desse maravilhoso açude, na pessoa do
querido e inesquecível primo Zuza Fernandes, a quem presto minhas homenagens,
por tê-lo como pessoa exemplo do Bom Samaritano, que sabia valorizar o amor às
pessoas?
Sobre
as águas serenas, eu passava todo tempo do mundo manejando os pesados remos,
que eram apropriados para adultos, mas as crianças se aventuravam como velhos
"açudeiros", em substituição à expressão de os "velhos marinheiros".
As
canoas serviam mais especificamente para a pesca dos adultos, que as enchiam de
peixes, em especial, enormes e gordas curimatãs, que se procriavam aos montões,
com o aproveitamento dos seus riscos nutrientes.
Lembro-me,
com muita nitidez e imensurável saudade, da época da pescaria anual, na qual
participaram os pescadores da redondeza e todos voltavam das águas, à tardinha,
conduzindo suas canoas cheias de peixes, que eram repartidos em quantidades
iguais, na beira do açude, em ato carregado de expectativas pela maior
qualidade de peixes pescados e quem teria conseguido trazer o maior peixe.
Na
verdade, o evento era bastante interessante, porque as famílias da redondeza
participavam dele e todo mundo levava peixes para as suas casas.
Embora
o querido e saudoso vovô Juvino não participasse da pescaria, de forma direta e
efetiva, ele liderava a animação do evento no qual ele tinha enorme interesse no
seu resultado, que ele fosse o melhor possível, porquanto a maior parte do
açude pertencia a ele e os peixes que cabiam aos donos eram divididos
proporcionalmente de acordo com as suas propriedades.
Enfim,
a pescaria se transformava em verdadeira e animada festa e todos se divertiam
com a fartura de peixes.
Como
não me lembrar também, com enorme saudade, da magia do evento sempre de maior
relevância representado pela existência do açude de encantos mil, que diz com a
alegria proporcionada pelo momento da sua sangria, que se traduz no transbordo
da água para fora dele.
Ela
normalmente acontecia no auge das chuvas, a começar pelas expectativas da
proximidade das águas chegando no nivelamento da base da parede e depois com a
festa da transposição, quando a animação se completava em pura magia da
natureza, com a certeza do enchimento do açude.
Da
base por onde passava a água, a meninada se jogava nas águas, com a alegria que
combinava com a velocidade delas ganhando destino para novos açudes.
Em
muito pouco tempo, quando as suas águas chegavam no açude de Pilões, ele
agradecia em generosa forma de retribuição, mandando peixes em abundância, de
muitas espécies, que subiam animadamente, em forma de cardumes, em busca frenética
para a desova, que constituía encantador espetáculo, próprio da exuberância da
natureza aquática.
A
quantidade de peixes era tão grande que eu pegava as chamadas “branquinhas”,
tipo de sardinha, só com as mãos, quando elas pulavam no ar, na ânsia de
ultrapassar obstáculos no seu caminho até atingir o açude, que era o seu
objetivo final.
Enfim,
como se vê, ainda são férteis e ricas as atuais lembranças que afloram em mim sobre
tão delicioso e amável açude e trazem à mente vivas e maravilhosas passagens sobre
experiências da minha vida, que apenas se reportam ao divino depositário de
água que tanto bem me fez, por fazer parte da intimidade da espetacular
infância vivida por este eterno e saudoso menino de engenho.
Tenho
verdadeiro preito de agradecimento e gratidão a Deus, pelo merecimento das dádivas
celestiais de ter nascido e vivido boa parte da minha infância nesse verdadeiro
paraíso terrestre, chamado sítio Canadá, que não dava somente cana, mas muitas
outras infinitas formas de felicidade.
Muito
obrigado, Senhor!
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