sexta-feira, 13 de maio de 2022

O lindo açude do sítio Canadá

            Recebi da querida irmã Vandali duas fotografias que mostram o esplendor da visão panorâmica do sítio Canadá, em Uiraúna, Paraíba, sobressaindo as águas do velho açude dos encantos da minha belíssima infância.

Vendo a placidez das águas de tão formoso açude, me volto, mais que impositivamente, aos longínquos e saudosos tempos da minha fantástica infância, quando ele era a minha “praia”, por grande parte dos meus dias, em especial, no banho, que era infalível.

Ao vislumbrar o meu encantado "mar" de água doce, veio à minha mente a presença de memoráveis lembranças de tudo que me proporcionava completo prazer, ao meu alcance, nesse particular.

Foi nessa água cristalina e saudável que aprendi a nadar, indo às lonjuras, chegando a atingir as margens opostas, em verdadeiro ato de heroísmo, para a minha pequenez, que amarava superar os obstáculos à minha frente, ainda na minha ingênua criancice, os quais eram vencidos depois de cuidadosas avaliações sobre os riscos que nem sempre constituíam empecilho insuperável, conforme tantos sucessos colecionados nas aventuras, em todas as boas experiências vividas, na mansidão das águas acolhedoras e refrescantes.

Naqueles tempos, me impressionava muito a enorme quantidade de piabinhas, que ficavam ao redor de mim, em costumeiro e gostoso ritual de picar minhas pernas, em rebanho, como forma de interessante e relaxante massagem, altamente benéfica à circulação sanguínea, imagino.

O que se imaginar dos sonhadores passeios de canoa, feita com capricho e esmero pelo “capitão” e cuidador das águas desse maravilhoso açude, na pessoa do querido e inesquecível primo Zuza Fernandes, a quem presto minhas homenagens, por tê-lo como pessoa exemplo do Bom Samaritano, que sabia valorizar o amor às pessoas?

Sobre as águas serenas, eu passava todo tempo do mundo manejando os pesados remos, que eram apropriados para adultos, mas as crianças se aventuravam como velhos "açudeiros", em substituição à expressão de os "velhos marinheiros".

As canoas serviam mais especificamente para a pesca dos adultos, que as enchiam de peixes, em especial, enormes e gordas curimatãs, que se procriavam aos montões, com o aproveitamento dos seus riscos nutrientes.

Lembro-me, com muita nitidez e imensurável saudade, da época da pescaria anual, na qual participaram os pescadores da redondeza e todos voltavam das águas, à tardinha, conduzindo suas canoas cheias de peixes, que eram repartidos em quantidades iguais, na beira do açude, em  ato carregado de expectativas pela maior qualidade de peixes pescados e quem teria conseguido trazer o maior peixe.

Na verdade, o evento era bastante interessante, porque as famílias da redondeza participavam dele e todo mundo levava peixes para as suas casas.

Embora o querido e saudoso vovô Juvino não participasse da pescaria, de forma direta e efetiva, ele liderava a animação do evento no qual ele tinha enorme interesse no seu resultado, que ele fosse o melhor possível, porquanto a maior parte do açude pertencia a ele e os peixes que cabiam aos donos eram divididos proporcionalmente de acordo com as suas propriedades.

Enfim, a pescaria se transformava em verdadeira e animada festa e todos se divertiam com a fartura de peixes.

Como não me lembrar também, com enorme saudade, da magia do evento sempre de maior relevância representado pela existência do açude de encantos mil, que diz com a alegria proporcionada pelo momento da sua sangria, que se traduz no transbordo da água para fora dele.

Ela normalmente acontecia no auge das chuvas, a começar pelas expectativas da proximidade das águas chegando no nivelamento da base da parede e depois com a festa da transposição, quando a animação se completava em pura magia da natureza, com a certeza do enchimento do açude.

Da base por onde passava a água, a meninada se jogava nas águas, com a alegria que combinava com a velocidade delas ganhando destino para novos açudes.

Em muito pouco tempo, quando as suas águas chegavam no açude de Pilões, ele agradecia em generosa forma de retribuição, mandando peixes em abundância, de muitas espécies, que subiam animadamente, em forma de cardumes, em busca frenética para a desova, que constituía encantador espetáculo, próprio da exuberância da natureza aquática.

A quantidade de peixes era tão grande que eu pegava as chamadas “branquinhas”, tipo de sardinha, só com as mãos, quando elas pulavam no ar, na ânsia de ultrapassar obstáculos no seu caminho até atingir o açude, que era o seu objetivo final.

Enfim, como se vê, ainda são férteis e ricas as atuais lembranças que afloram em mim sobre tão delicioso e amável açude e trazem à mente vivas e maravilhosas passagens sobre experiências da minha vida, que apenas se reportam ao divino depositário de água que tanto bem me fez, por fazer parte da intimidade da espetacular infância vivida por este eterno e saudoso menino de engenho.

Tenho verdadeiro preito de agradecimento e gratidão a Deus, pelo merecimento das dádivas celestiais de ter nascido e vivido boa parte da minha infância nesse verdadeiro paraíso terrestre, chamado sítio Canadá, que não dava somente cana, mas muitas outras infinitas formas de felicidade.

Muito obrigado, Senhor!  

          Brasília, em 13 de maio de 2022

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