terça-feira, 17 de maio de 2022

Por que em nome de Deus?

 

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um pastor exaltando, segundo ele, as qualidades do presidente da República, como se ele fosse urgido com as benesses divinais e tivesse adquirido plenos poderes políticos, além de ter se tornado verdadeiro suprassumo do poder, conforme a mensagem a seguir.

Eis a mensagem do pastor, in verbis: “Pessoal, veja quando a pessoa se dedica a andar pela verdade e a servir a Deus e a defender os princípios de Deus, como a honra de Deus vem sobre a vida dessa pessoa. O presidente Bolsonaro, ele aceitou a servir a Deus, a andar pela verdade, a ser um homem íntegro, um homem honesto. Lembra do livro de Jô? O Deus era com Jô, porque ele era íntegro, honesto e o homem reto. Nós, hoje, temos um presidente com este mesmo perfil. E veja o que Deus fez na vida deste homem. (...) Ele se filiou ao PL, um dos partidos maiores do Brasil: 39 deputados federais. (...) O PL recebeu 79 deputados de nome, deputados que têm votos e aí o Bolsonaro, hoje, tornou o PL no maior partido da história desse país. (...) Agora, ele manda na maior parte desse dinheiro (o pastor se referia ao dinheiro do Fundo Partidário), que vem para o PL e seus candidatos e para o presidente. Então, ele não tinha tempo de TV. Agora, ele também tem o maior tempo de TV da história desse país de um político. Veja o que Deus faz na vida do homem, quando esse homem decide a servir a Deus e andar pelo verdade, andar pela verdade, andar reto. Deus honra. Então, hoje, o presidente  tem o maior partido do país. Ele tem fundo eleitoral para a sua campanha, o maior tempo de TV da história de um político deste país. (...) Ou seja, ele vai mandar no Congresso, no Senado e na Câmara dos deputados. (...) e se algum ministro se meter a besta e querer peitar um homem desse, o que vai acontecer? O presidente vai falar: abre um processo de impeachment aí. Vai ser rápido, fácil, simples. Bolsonaro vai mandar nos quatro cantos deste país, não só no Congresso, não só no Senado, (...) e os principais estados do Brasil vão estar nas mãos do Bolsonaro, ou seja, Bolsonaro, no próximo mandato, ele vai mandar em todos os estados, ele vai mandar no Congresso, no Senado. Ninguém segura o Brasil, nos quatro anos que vem pela frente com Bolsonaro na Presidência. Ninguém segura este país. Este país vai chegar no topo do mundo (...)”.  

É de se ficar perplexo diante de discurso extremamente ufanista como esse, em especial com o emprego de Deus como sendo o inspirador da grandeza do presidente do país, o qual jamais deveria ser invocado, quando o assunto versa sobre política.

Meu Deus, a que ponto chegamos os brasileiros?

Isso tudo não passa de puro fanatismo ideológico ou algo que o valha, porque nada disso pode ser considerado normal, em termos do bom senso e da racionalidade.

A começar, se o Deus da verdade realmente estivesse ao lado desse político, certamente que jamais haveria ter prevalecido o deplorável é desastroso negativismo que grassou nas planícies do Planalto Central, quando foi disseminado o pior do possível sobre o combate à pandemia do coronavírus, que certamente, conforme foi constatado pelos especialistas, contribuiu para a maior incidência de mortalidade de brasileiros, à vista da estrondosa estatística sobre óbitos.

Não obstante, acredita-se que o deus do oportunismo, do aproveitamento político, do fisiologismo e dos interesses escusos estejam não somente ao lado do presidente do país como de todos os asseclas que aderiram à nave dele, por pura conveniência, tendo como verdadeiro propósito o aproveitamento de vantagens as mais diversas possíveis, em especial, derivadas do orçamento secreto, que é uma excrescência criada e mantida por esse governo sem escrúpulo, justamente tendo por finalidade comprar a podre e vulnerável consciência de parlamentares, em troca de apoio ao governo no Congresso Nacional e isso é fato incontestável.

Enfim, uma pessoa que tem Deus verdadeiro consigo, jamais se filiaria a partido que integra o famigerado Centrão, que é símbolo do maquiavelismo e do fisiologismo e isso era intolerável pelo próprio presidente, até tempos atrás, que denominado esse grupo político de velha política, mas terminou ele próprio aderindo ao grupo dos desavergonhados, assim caracterizados por ele.

Todos os políticos que integram o Centrão estão sim ao lado do deus da pior imaginação política, porque os fatos mostram que eles são um bando de aproveitadores, inclusive o líder de todos, que teve a indignidade de se filiar a partido com a pior índole histórica na vida pública, mas a conveniência pessoal falou mais alto e a escolha seria o partido que propiciasse maior vantagem, em termos de recursos, tempo eleitoral na TV e demais benefícios que pudessem saciar a sede do poder pelo poder, em evidente detrimento da defesa do interesse público, que, enfim, é a finalidade das práticas políticas.

É lamentável que os fanáticos apoiadores do presidente da República ainda batam palmas em aplausos à tanta degeneração moral, mas isso é absolutamente normal, no âmbito da ideologia política, onde prevalecem os fins para o atingimento dos meios.

Enfim, como justificar que o Deus da verdade possa ser envolvido no submundo da política, quando se comete desvio de finalidade, como fez o presidente do país, ao se associar a grupo da pior índole política, e ainda alguém tem a indignidade de invocar o seu santo nome em vão, como se isso fosse digno e reto, em nome de visível objetivo pessoal, visando à exclusiva manutenção no poder.     

Que o Deus da verdade e da moralidade se apiede de todos nós pecadores.

Brasília, em 17 de maio de 2022

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