sexta-feira, 13 de maio de 2022

Notícia enganosa?

 

Mensagem que vem circulando nas redes sociais noticia, de forma equivocada, que um “Major do Exército brasileiro é preso no Piauí, por defender Bolsonaro, no Instagram. Vejam as publicações e tirem suas conclusões. Todo meu apoio ao Major Costa Araújo e a todos que lutam por liberdade”.

Por eu ter certa experiência da vida militar, fiquei apreensivo e sob espanto com a aludida mensagem, e concluí que, ao ler o texto, será se foram só elogios ao presidente do país, sem a existência de outra avaliação de natureza política agressiva contra alguém, que tivesse motivada a ação judicial pertinente?

Não estou fazendo coro contrário ao militar, mas seria interessante se saber exatamente os termos dos elogios por ele proferidos ao presidente do país, para ser punido, de modo a se puder melhor avaliar se ele realmente teria sido injustiçado.

Na minha pesquisa, foi verificado que o mencionado major foi preso depois de desobedecer à recomendação da Procuradoria de Justiça Militar e se manifestar publicamente sobre sua posição política.

Na verdade, o militar foi preso por ter sido incurso no crime de desobediência, na forma da decisão da lavra de juiz federal da Auditoria da 10ª Circunscrição Judiciária Militar, com sede em Fortaleza (CE), tudo conforme o figurino militar.

O juiz ressaltou que o major usou seu perfil, nas redes sociais, para fazer política e participar de manifestações, em apoio ao presidente da República, que é algo não permitido para o militar da ativa, nos termos do Regulamento Disciplinar do Exército.

Em um vídeo que circula na internet, uma pessoa disse que “a prisão do major Costa Araújo é totalmente abusiva. Infelizmente ele está preso, tem uma filha pequena, criança,  seu casamento está marcado para o próximo sábado e ele está vivendo essa situação constrangedora porque fez publicações favoráveis ao presidente Bolsonaro. Todos os membros das forças armadas, pelo amor de Deus parem com isso! Até quando? Será se ele tivesse elogiado o Lula, ele estaria preso? Acredito que não".

Há informação de que o militar preso é pré-candidato a deputado federal, cuja prisão tem por base o disposto no art. 163 do Código Penal Militar, que determina prisão do militar que se recusar a obedecer a ordem do superior, que parece ser o caso.

Na sentença, o juiz afirmou que o militar desobedeceu à Procuradoria Geral de Justiça Militar, que teria recomendado que ele se abstenha de fazer postagem política e participar de atos políticos e de manifestações, porque isso é contrário à disciplina militar.

No perfil do major, no Instagram, realmente tem várias publicações em manifestação de apoio e elogios ao presidente da República, que certamente vem servindo como instrumento de plataforma à sua campanha à Câmara dos Deputados, fato que não condiz com as atividades militares, quanto mais tendo ele sido orientado para não as postar.

          A defesa do militar entende que se trata de prisão como “uma decisão mais política que de cunho efetivamente disciplinar”.

Sem entrar no mérito da questão, em se tratando de regime militar, a manchete mais apropriada para o caso em apreço melhor seria: Major é preso por desobedecer a regulamento do Exército e jamais por fazer elogios aos presidente do país.

O certo é que o major fazia campanha política sendo militar trabalhando no quartel, mostrando resultados das políticas executadas pelo governo federal, já na qualidade de candidato a deputado federal, tendo se recusado "a obedecer a ordem superior”.

A sentença do juiz é bastante clara, tendo ele sublinhado que o militar desobedeceu à Procuradoria Geral da Justiça Militar, que teria recomendado que o major se abstivesse de fazer postagens de natureza política.

Ou seja, não se trata apenas de elogios ao presidente do país, o motivo da punição ao militar, mas sim da prática de atividade política no exercício do cargo de militar, mesmo tendo sido admoestado por quem de direito.

O certo é que, ante o regulamento militar, não há qualquer possibilidade para a existência de regime funcional misto na caserna, como as funções concomitantes de militar e político, ou seja, o militar não pode fazer política no quartel, à vista da exclusividade do seu compromisso com a farda.

Com isso, pode-se dizer que a prisão é visivelmente disciplinar e não política, eis que o major conhece muito bem o regulamento militar e sabe perfeitamente que ele, estando no serviço militar, não pode tratar de política no quartel.

Agora, é muito estranho que pessoas esclarecidas e inteligentes fiquem aproveitando a situação de fato como esse para distorcer a verdade, inventando que o militar teria sido punido por defender o presidente do país e muita gente termina acreditando nessa mentira, chegando a declinar apoio ao militar, como se ele realmente fosse vítima, quando ele se tornou contumaz indisciplinado, em não acatar determinação superior, conforme consta da decisão judicial em apreço.  

Diante disso, é importante que a punição ao militar seja difundida como ato decorrente do descumprimento da disciplina militar e não por causa de repressão à liberdade de expressão, como chegou a ser disseminado, uma vez que os fatos mostram que ele pretende se candidatar a cargo público eletivo e já fazia campanha eleitoral estando na ativa, antes do tempo, com infringência à legislação de regência, e em local proibido para a prática política.   

Brasília, em 13 de maio de 2022

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