O
presidente da República participou da
reunião de apoiadores, no último domingo, na Esplanada dos Ministérios, em
frente ao Congresso Nacional, em Brasília, que seria em comemoração ao Dia do
Trabalhador, mas foi aproveitado mesmo para protestos, em especial, contra o
Supremo Tribunal Federal.
O presidente
do país evitou fazer discurso, o que, por via de consequência, não houve as
suas costumeiras e agressivas críticas àquela corte e isso, surpreendentemente,
contribuiu para agradar a cúpula do Centrão, que o apoia no Congresso Nacional
e faz parte do seu governo.
Na
verdade, aliados do presidente do país temiam que ele, ao comparecer às
manifestações, fizesse acalorado discurso junto aos seus idólatras apoiadores, com
o propósito de agradá-los, mas isso poderia contribuir para aumentar a tensão
com o poder Judiciário, que já conseguiu atingir nível insuportável, nos últimos
dias.
Os
líderes do Centrão, base de sustentação do governo no Congresso, prefeririam, antes
de tudo, que o presidente do país nem tivesse comparecido aos aludidos atos,
mas ele não resistiu ao anseio de se mostrar em público, em momento especial e
se fez presente, para estar, como fez questão de enfatizar, ao lado de seus fiéis
apoiadores, mesmo tendo perdida excelente oportunidade para descer o malho nos
seus preferidos adversários: o Supremo e o Tribunal Superior Eleitoral, com o
emprego das suas costumeiras agressivas e desnecessárias críticas.
Ressalte-se
que, no ato que o presidente do país compareceu, em Brasília, havia cartazes e
falas em carros de som pedindo intervenção militar e fazendo reiterados ataques
à corte suprema do país, lembrando que esses inconvenientes apelos contra os
poderes da República são consideradas medidas inconstitucionais e
antidemocráticas.
Na
verdade, o temor do Centrão era que, com críticas em tom sempre autoritário ao
Supremo, o presidente do país contribuísse para a perda de apoio entre
eleitores de centro, que não aprovam esse tipo de comportamento nada
presidencial, exatamente porque o seu resultado também tende a tensionar ainda
mais as relações entre os poderes Executivo e Judiciário.
A
evidência de analistas é a de que tem sim muito peso, no cálculo eleitoral, a
forma agressiva demandada pelo presidente do país sobre a atuação de membros do
Supremo, convindo seguir com cautela sobre os alertas feitos a ele acerca da imperiosa
necessidade de parar com os ataques e as críticas ao tribunal.
Há o
entendimento que isso resulta em efeito bastante negativo, em forma do movimento
bumerangue, em que as falas agressivas voltam em prejuízo à reeleição, diante
da desaprovação por parte de muitos eleitores, que entendem que isso é estilo
de enorme desgaste político, conquanto possa agradar os apoiadores fanatizados,
que não mudam de sentimento por nada que o mandatário fizer ou deixar de fazer,
mesmo que seja de inconveniência, em termos político-administrativos.
Mesmo que
o presidente do país não tenha discursado no citado evento, em momento tão
oportuno, o sentimento predominante, motivado por avaliação segura entre os
aliados dele, é que não dá para se afirmar, com absoluta certeza, que ele vá realmente
se conformar em minimizar o tom de descontrole na relação com o Judiciário, à
vista de vasta experiência de outras
ocasiões.
Nessas
oportunidades, já houve recuo estratégico e momentâneo dele, mas depois toda
carga de críticas agressivas voltou com muito mais poder destruidor contra os
preferidos e declarados inimigos, nas figuras do Supremo e do Tribunal Superior
Eleitoral, que estão permanentemente na mira da sua metralhadora giratória,
cujo resultado termina sendo prejudicial aos seus objetivos políticos, conforme
mostram as avaliações.
À toda
evidência, a maneira doentia e insana escolhida pelo presidente do país, para
se relacionar com membros da Excelsa Corte do país, mesmo que ela possa ser de
fato desprezível, na avaliação dele, não condiz, em absoluto, com a liturgia do
verdadeiro estadista, que precisa ser respeitado, ante a relevância do cargo exercido
por ele.
Ao que
tudo indica, o presidente do país deixa transparecer que não faz a menor ideia
sobre a importância disso, segundo o seu comportamento de completo alheamento
às funções presidenciais, que devem ser pautadas sob o regramento civilizado e
democrático do equilíbrio, da tolerância, do diálogo, da convergência e, enfim,
dos elevados princípios inerentes ao verdadeiro estadista, que estão muito
acima da compreensão de pura desarmonia mantida entre importantes poderes da
República, como ele vem fazendo com incontida incompetência.
É
bastante lamentável que o presidente da República tenha elegido a pior via para
a se conduzir na busca da sua reeleição, procurando mostrar apenas para os seus
fanatizados apoiadores, de forma visivelmente obcecada, forma diferente da
normalidade político-democrática.
O certo é
que o verdadeiro estadista precisa se comportar em estrito respeito ao regramento
próprio estabelecido para o exercício do mais relevante cargo do país, que tem
por padronização o acatamento retilíneo aos princípios republicano e
democrático, apenas em defesa dos interesses públicos, com embargo das metas
políticas pessoais, conforme é o caso do presidente do país, que já faz
campanha política há bastante tempo, aproveitando os especiais atributos do
cargo, conforme os seus pronunciamentos indiscutivelmente eleitoreiros.
Urge que
o presidente da República, independentemente de interesses políticos, resolva
exercer o relevante mandato em estrita observância aos princípios demandados em
elevada padronização do verdadeiro estadista, sob o respeito às éticas republicana
e civilizatória, na forma do moderno figurino aplicável à administração pública
de competência e eficiência.
Brasília,
em 3 de maio de 2022
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