sábado, 7 de maio de 2022

Lucro criminoso?

 

Circula vídeo pelas redes sociais em que o presidente da República faz severas e agressivas críticas aos lucros da Petrobras, além de veemente apelo à empresa para não aumentar os preços dos combustíveis, alegando a quebra do Brasil, nos termos do texto a seguir, pronunciado em live.

Assim se pronunciou o presidente do país, ipsis litteris: Petrobras. Eu não mando na Petrobras, deixo bem claro. Tem uma pesquisa  dizendo que 70% é favorável (sic) ao governo decidir na Petrobras. Isso é irresponsabilidade. No passado, isso já foi feito, no governo de Dilma, em especial, e de Lula também e ocasional o endividamento de 900 bilhões de reais na Petrobras. Sentiu? 900 bilhões de reais de endividamento por interferência no preço do combustível, entre outras ações voltadas para a corrupção na Petrobras. Tá certo? Então está descartado intervenção na Petrobras, mas, por outro lado, eu não posso entender, possa ser que esteja equivocado, deixar bem claro. A Petrobras, durante a crise da pandemia e guerra lá fora, a Petrobras faturar horrores. O lucro da Petrobras é maior com a crise. Isso é um crime, é inadmissível. Eu possa estar equivocado, mas não posso entender. Por exemplo, fontes agora dizem que o lucro da Petrobras, para este trimestre de janeiro, fevereiro e março, poderá chegar a 40 bilhões de reais. Nessa balada, terá um lucro de 120 bilhões de reais. Eu não consigo entender. Por que eu falo isso? Outras petroleiras, mundo afora, como, por exemplo, a ABP, a Shell, a Total, elas têm lucro da casa de 10% a 15% e a Petrobras tem o lucro de 30%. Agora, quem paga a conta desse lucro é a população brasileira e você não tem como interferir legalmente na Petrobras? (...) Muitas petrolíferas, mundo afora, reduziram o preço, baixaram a margem de lucro nas suas empresas, para que isso? Para ajudar o seu país não quebrar. O Brasil tiver mais um aumento do combustível pode quebrar o Brasil e o pessoal da Petrobras não entende ou não quer entender ou estão de olho no lucro. Sei que tem lei, né, sei lá, legislação que vem do conselho etc., mas os tempos são de guerra. A gente apela à Petrobras: não reajuste os preços dos combustíveis. Vocês estão tendo lucro absurdos. Se continuar tendo lucro dessa forma e aumentar os preços dos combustíveis, vai quebrar o Brasil. (...). Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de você é um estupro, é um absurdo. (...)”.

Em que pesem as fortes, agressivas e injustificáveis críticas do presidente do país à Petrobras, o presidente dessa empresa disse que a estatal vai manter a política de preços de mercado para calcular o valor dos combustíveis vendidos aos brasileiros.

A estatal anunciou que seu lucro, no primeiro trimestre deste ano, foi do montante de 44,65 bilhões de reais, algo realmente extraordinário, como resultado operacional.

O presidente da petrolífera defendeu a política de preços da empresa, dizendo que “Não é só preço do barril. É uma gestão responsável que tem sido feita nos últimos anos, com redução de custos e endividamento. Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado. É uma condução necessária para geração de riqueza, não só para a empresa, mas para toda a sociedade brasileira, fundamental para a atração de investimentos ao país e para garantir o suprimento dos derivados que o Brasil precisa importar.”.  

O presidente da Petrobras ressaltou que 80% dos ganhos do primeiro trimestre são originários da atividade de exploração e produção de petróleo, e 20% dos demais segmentos.

Ele frisou que, no período, a Petrobras pagou R$ 70 bilhões de tributos para a União, os estados e municípios, mais de uma vez e maia do valor líquido do lucro, evidentemente fora o suntuoso valor dos dividendos que são repassados à União, em razão da sua participação acionária na empresa.

O presidente da petrolífera declarou que “Um bom resultado da Petrobras repercute também para a sociedade como um todo. Isso gera investimentos em saúde, saneamento, transporte  e uma série de outros investimentos importantes.”.

A verdade é que a decisão sobre aumento ou não dos preços dos combustíveis está vinculada à volatilidade do petróleo no mercado internacional, medida esta que não depende da vontade ou da gestão direta da Petrobras.  

Não há a menor dúvida de que o apelo do presidente do país é patético, porque ele fica falando aos ventos, quando, na qualidade de principal autoridade do país, que parece ter consciência do momento de maior dificuldade nas políticas de preços dos combustíveis, os princípios da racionalidade e do bom senso aconselham que o mais correto seria a formação de grupo de trabalho ou algo que o valha, tendo por finalidade debater as causas que contribuem para que a Petrobras venha acumulando lucros extraordinários, que são fruto das políticas estratégicas estabelecidas pela empresa, de modo a se levantarem vetores passíveis de ajustamentos de preços compatíveis com os interesses da sociedade, dos investidores e da empresa.

Isso vale dizer que não tem o menor cabimento o presidente do país vir a público, para descer o malho nas políticas adotadas pela Petrobras, que apenas seguem o figurino operacional traçado na distribuição dos combustíveis, que felizmente vêm propiciando excelentes lucros.

Isso, na realidade, não é nenhum demérito nem muito menos crime, dessa maneira afirmado pelo presidente do país, que considera inadmissíveis os lucros obtidos pela Petrobras, como se, no capitalismo, agora fosse tragédia nacional, como assim afirmado como absurdo pelo presidente brasileiro, sob o histerismo, de que o reajuste de preços é crime e os lucros são estupro, quando, na verdade, conforme as explicações do presidente da petrolífera, somente parte dos 20% dos lucros vem dos preços dos combustíveis, o que demonstra enorme irresponsabilidade por parte de quem faz afirmações sem ter efetivo conhecimento sobre a realidade dos negócios da Petrobras.

Se o presidente do país tivesse algum interesse nessa questão da política de preços dos combustíveis, tratava o assunto em forma de estudos, contando com opções estratégicas, entre o governo e a estatal, com o exclusivo objetivo de se buscar a melhor solução possível, sem necessidade do espalhafato protagonizado por ele, que somente mostra desconhecimento sobre as políticas gerenciais da empresa, ao querer resolver assunto da maior relevância apenas na base do grito, por meio de críticas e de apelo praticamente aos ventos, de forma empírica, quando a seriedade do assunto exige discrição, competência, diálogo e eficiência.          

Não se pode afirmar que falta parafuso na cabeça de ninguém, mas a interpretação sobre os lucros de qualquer empresa, seja pública ou privada, depende exclusivamente das políticas empresárias próprias do mercado, em consonância com os seus estatutos e outros fatores inerentes aos negócios.

Ou seja,  os lucros astronômicos da Petrobras estão em estrita harmonia com os mercados e as políticas estratégicas estabelecidas para o seu funcionamento, que, como visto, contribuíram para os lucros espetaculares, o que satisfaz às políticas na gestão da área petrolífera.

Se alguém tem o poder e já demonstrou que está loucamente insatisfeito com o sucesso da principal empresa brasileira, não adianta ficar tentando se passar por bonzinho, porque isso tem como estratégia fins exclusivamente eleitoreiros, ao se dispor a opinar de forma alheatória e sem conhecimento de causa, que parece ser o caso em comento, à vista dos esclarecimentos técnicos e gerenciais prestados pelo presidente da empresa, a quem o mandatário poderia ter pedido prévias informações sobre os lucros da empresa, fato este que teria evitado que ele terminasse sendo rude, tão estúpido e insensato, fazendo ilações indevidas e desnecessárias, logo com a principal estatal do seu governo, que é modelo de eficiência e de zelo do patrimônio dos brasileiros.

Se o presidente do país realmente pretendesse mostrar competência gerencial e mercadológica, que não é o caso dele, teria por finalidade atender outros interesses que não mais especificamente eleitoreiro, optando por caminho correto de mudança das estratégias operações da Petrobras, quanto às políticas desejadas para os resultados financeiros da empresa, que até poderiam desaguar em prejuízos.

É muito importante que se defina o que se pretende para os rumos da Petrobras, porque é exatamente o que se procede quem tem competência e assume também os riscos decorrentes, uma vez que a falta de lucro pode contribuir para o desabastecimento de combustíveis, cujos resultados seriam extremamente desastrosos para os interesses do país, diante da possibilidade de paralisação das atividades produtivas, comerciais e de consumo, com enorme reflexo na arrecadação da União, dos estados e municípios, causado verdadeiro colapso à economia brasileira.

Agora, não há o menor cabimento a principal autoridade do país ficar, a todo instante, criticando os excelentes resultados financeiros, em especial diante da incerteza se o resultado for contrário ao lucro, ou seja, no caso de prejuízo, se haveria combustível suficiente e disponível para os brasileiros, uma vez que, na Argentina, o preço da gasolina é verdadeiro milagre de baixo e isso, comparavelmente com o preço praticado no Brasil, é fantástico, mas, infelizmente, não existe o produto para o consumo, cujas consequências são as piores possíveis para a sociedade.

Daí se entende que as críticas presidenciais são inoportunas, ingênuas, injustificáveis e desnecessárias, porque elas partem de premissas meramente eleitoreiras, sem qualquer sentimento sério de competência e eficiência vinculadas às questões de natureza técnico-operacional vinculada às atividades mercadológica da petrolífera.  

Espera-se que o parafuso que falta em alguém seja logo encontrado e que a sua reposição seja feita o mais imediatamente possível no lugar onde ele está faltando, de modo que a sensatez e a racionalidade administrativas possam imperar normalmente, para o bem dos interesses dos brasileiros.

Enfim, à toda evidência, a injustificável estupidez do presidente do país, à vista dos lúcidos e completos esclarecimentos da lavra do presidente da Petrobras, constitui crime de lesa-pátria, quando ele condena de forma ríspida os lucros da estatal e defende, com denodo, a política de não reajustamento dos preços dos combustíveis, sem nenhuma base científica ou técnica, com grande possibilidade de que a sua precipitada atitude tem fim meramente eleitoreiro, à vista de se tentar agradar à população, quando, à toda evidência, os lucros em causa estarem sendo contabilizados em estrito amparo no regramento jurídico aplicável às operações comerciais da Petrobras.  

Brasília, em 7 de maio de 2022

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