sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A explícita inutilidade do Parlamento

A Câmara Municipal de Jericó, no Sertão da Paraíba, aprovou resolução determinando que os vereadores passem a usufruir seis meses de recesso parlamentar por ano. A medida, que alterou o Regimento Interno da Casa, estabelece que, no período de “trabalho”, os vereadores se reunirão apenas uma vez por semana. Nos termos do novel normativo, os vereadores deverão se reunir, ordinariamente, em dois períodos do ano, sendo o primeiro de 1º de março a 31 de maio e o segundo de 1º de setembro a 30 de novembro, com sessões estabelecidas apenas às sextas-feiras, totalizando 24 dias por ano de trabalho considerado “efetivo”. Os nove vereadores da cidade se posicionaram por unanimidade a favor do inédito e vergonhoso privilégio, que foi aprovado não tendo por base qualquer justificativa nem amparo legal, a não ser a efetiva falta do que efetivamente realizar em benefício da população. Como os “nobres” vereadores têm remuneração individual de R$ 2 mil, cada sessão terá o custo de R$ 500,00. Não obstante, a medida que aprovou o recesso dos “trabalhos” legislativos não suspende os vencimentos dos vereadores e servidores da Câmara no período da sua inatividade, constituindo verdadeiro contrassenso e apropriação indébita de recursos públicos. Sem a contraprestação de trabalho ou serviços, o pagamento dos vencimentos e das vantagens a qualquer título é considerado ilegal, sendo cabível responsabilização àqueles que venham a se beneficiar indevidamente dessa ilegalidade e imoralidade. Essa deprimente atitude oriunda de pequena cidade paraibana demonstra a real cara e o fiel retrato da quase totalidade do Parlamento brasileiro, que existe com a exclusiva finalidade de beneficiar injustificadamente multidão de políticos inescrupulosos e desonestos, que estão na vida pública para se arranjar à custa dos bestas dos contribuintes, que não têm a dignidade de se rebelar contra essa deslavada forma de desviar recursos públicos. Trata-se da evidente e absoluta realidade brasileira, de uma forma muito ingênua, que a sociedade tem o dever de não aceitá-la, recusando a sustentar o Poder Legislativo inútil, dispensável e extremamente oneroso, que tem servido para atrair o interesse de pessoas sem compromisso com as verdadeiras finalidades para as quais elas são eleitas, quais sejam, exercer o mandato e trabalhar em prol da representação condignamente emanada pelo povo brasileiro. O recesso em apreço tem o condão de confirmar a dispensabilidade de vereadores remunerados, que podem ser substituídos por pessoas de caráter e imunes às facilitações e aos oportunismos das benesses e dos absurdos remuneratórios e vantajosos criados a bel-prazer do corporativismo existente no Parlamento, que vem envergonhando o povo brasileiro, por sua atuação contrária aos princípios da ética, do decoro e da dignidade do serviço público, a exemplo da recente absolvição de deputado condenado por crime de peculato, em demonstração de leniência com os fatos delituosos por ele protagonizados. Caso o recesso em causa incluísse a suspensão dos vencimentos dos vereadores e dos servidores da câmara, poderia muito bem servir de paradigma para as demais casas semelhantes, com extensão, de forma salutar, para o Congresso Nacional, que poderia prestar expressiva contribuição não somente ao efetivo esforço do povo brasileiro para a contenção de gastos públicos, mas especialmente quanto à possibilidade de, nos períodos de recesso, os congressistas terem a oportunidade de refletir sobre as reais atribuições e funções inerentes ao seu mandato, de modo que a instituição Parlamento possa desempenhar seu nobre papel somente no trabalho em atendimento às finalidades públicas, com embargo da politicagem, do fisiologismo e das falcatruas próprias do sistema político vigente. Esse episódio é a síntese da irretocável ruindade da politicagem tupiniquim, cujos protagonistas não se envergonham de se beneficiar indevidamente de recursos públicos, conquanto sua produtividade legislativa, em prol da sociedade, é infinitamente incompatível com os dispêndios para a manutenção dos Parlamentos. A sociedade anseia por que o recesso aprovado na cidadezinha da Paraíba sirva de reflexão para os políticos brasileiros se conscientizarem sobre a real necessidade de haver urgente moralização do Parlamento, de modo que a sua atuação tenha por principal escopo a satisfação dos interesses nacionais, levando-se em conta a realidade socioeconômica do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 19 de setembro de 2013

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