segunda-feira, 30 de setembro de 2013

As injustificáveis contratações de pessoal

Por intermédio da indicação de influente autoridade, a namorada do ex-chefe da Casa Civil da Presidência da República foi admitida no Senado Federal, no cargo em comissão de recepcionista, com lotação no Instituto Legislativo Brasileiro, embolsando a remuneração de R$ 12,8 mil mensais, tendo como suporte sua habilitação em marketing de relacionamento. Segundo apurado pela mídia, ela foi apresentada aos colegas de serviço pelo diretor-geral do Senado. Também foi constatado que o expediente dela é bem flexível, começando por volta de 11h, com saída ao meio-dia, para o almoço e retorna às 15h30, que vai até às 17h. Todavia, nesses interregnos, ela tem conseguido se ocupar muito à vontade do que mais gosta, que é trocar mensagens pelo celular e passear pela internet. Indagada quem foi seu padrinho para conseguir essa “boquinha”, ela respondeu: “Procura na internet que você vai ver...”. Após ser abordagem pela curiosidade, a servidora foi chamada pelo presidente do Senado para conversa não revelada. Em resposta à indagação quem a teria indicado, ele respondeu: “Não sei quem foi, mas vou procurar descobrir”. Por sua vez, o diretor-geral disse: “Não sei nada sobre isso. Nem sei quem é ela.”. É vergonhoso se perceber que os gestores de recursos públicos do Senado, que assinaram o ato de nomeação da servidora, não terem a dignidade para assumi-lo, talvez pelo eive de irregularidade. Esse episódio é o fiel retrato do que acontece nos poderes republicanos, que serve para justificar, na forma negativa, a gastança desenfreada na administração pública, a impor carga tributária extorsiva aos bestas dos contribuintes, para que as despesas públicas, no pertinente a pessoal, sejam realizadas ao sabor das maracutaias e dos compadrios, como no caso em comento, que representa apenas minúscula amostra da sujeira e da pouca-vergonha do funcionamento de muitos órgãos públicos, com destaque para o Congresso Nacional, que tem função política e por isso está sempre aberto a arranjos e atendimento de pedidos de correligionários, mediante procedimentos duvidosos próprios da politicagem, em benefício de poucos que se aventuram na vida pública, atraída pelas facilidades e benesses consolidadas e sustentadas à custa de recursos públicos, que são pessimamente aplicados e pior ainda não controlados e muito menos fiscalizados, a par de inexistir priorização para coisa alguma, ficando em planos secundários a solução das graves causas nacionais, a exemplo da terrível seca do Nordeste e das demais mazelas que infernizam a vida do povo. O Congresso Nacional é exemplo do enorme desperdício de verbas públicas, por manter, pasmem, contingente de servidores para mais de vinte mil no seu quadro de pessoal, na absoluta maioria fruto de indicações políticas, pagamentos de promessas de campanha, compensação de favores e outras tantas indecências que não encontram justificativas para as atividades da administração pública, que deveria se assentar primordialmente nos princípios basilares da moralidade, economicidade, eficiência, impessoalidade, transparência e legalidade, notadamente no que diz respeito à imperiosa obrigação do concurso público para preenchimento dos cargos públicos. Aliás, este preceito quase nunca é observado no Congresso Nacional, a exemplo do ingresso da servidora em referência, que teve ascensão ao contracheque do Senado mediante o mais imoral quesito da República, denominado "QI", que normalmente passa a ser o titular do cargo que nada faz senão passar algumas horas na repartição onerando a já sacrificada folha de pagamentos, sendo paparicado pelas autoridades e fazendo uso da máquina pública em proveito próprio, tudo à custa dos idiotas dos contribuintes, que deveriam ter a dignidade de protestar e revidar atitudes deletérias como essa, mandando para casa não somente os maus políticos, mas os servidores que entopem os órgãos públicos e nada produzem. Não é novidade que o Congresso emprega pequeno batalhão de 21.455 servidores, sendo, na Câmara: 11.711 ocupantes de cargos em comissão – 9.969 de Secretariado Parlamentar e 1.313 de Cargos de Natureza Especial e 429 requisitados de outros órgãos – e 3.451 ocupantes de cargos efetivos e, no Senado: 3.253 ocupantes de cargos comissionados e 3.040 servidores do quadro efetivo. O povoamento do Congresso, que é constituído de mais de dois terços por nomeações de livre escolha, ou seja, sem concurso público, como a da supracitada indicação, não cabe dentro da maioria das cidades brasileiras. O mais grave de tudo isso é que o Congresso, a par de ser o segundo Parlamento mais caro do mundo, quase nada produz em benefício da sociedade, à falta de justificativa até mesmo da sua existência, como instituição democrática que tem o dever constitucional de funcionar primacialmente para garantir e fortalecer a democracia e exercer seu importante papel de ser a Casa do povo, tendo como meta a aprovação de medidas legislativas em benefício das condições de vida da população. Esse Congresso precisa urgentemente de depuração não somente dos atuais parlamentares, mas, sobretudo, do seu quadro de pessoal, de modo que suas atividades possam ser direcionadas exatamente para os fins preconizados pela Carta Maior, inclusive dando o exemplo de austeridade nos gastos com material e pessoal, que devem ser enxugados ao extremo, a fim de funcionar em consonância com a realidade socioeconômica do país, que não suporta mais tanta ostentação e pouca produtividade, com excessiva prodigalidade absolutamente evitável. A propósito, cabe veemente crítica à inexplicável ineficiência da atuação dos órgãos de controle e fiscalização sobre a execução dos recursos públicos, que têm a incumbência constitucional para zelar pela boa e regular aplicação dos dinheiros dos brasileiros, mas nada fazem para apurar, mediante auditoria operacional, a eficiência e a economicidade dos gastos públicos, com vistas a identificar os excessos e abusos, a exemplo das vergonhosas admissões como essa denunciada pela mídia, para que sejam tomadas as providências no sentido de possibilitar moralização das despesas da União. A sociedade tem o dever patriótico de exigir sensibilidade, bom sendo e responsabilidade no trato da coisa pública, de modo que as despesas do Estado sejam realizadas em estrita observância aos princípios da austeridade, eficiência e legalidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 29 de setembro de 2013

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