quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Somente interesses pessoais

 
 
 
No momento, muito se fala sobre a necessidade de urgente reforma político-eleitoral, mas essa reformulação sozinha não resolve os tão almejados aperfeiçoamento e modernização da democracia. Urge que a mentalidade dos homens públicos também seja flexibilizada no sentido de entender que o exercício das atividades públicas compreende essencialmente a satisfação de interesse da sociedade, diferentemente do que vem ocorrendo na atualidade, em que as pessoas se elegem para ocupação de cargos específicos, mas terminam sendo empossados noutras funções diferentes daqueles. Na prática, essa forma espúria de ocupação de cargos demonstra a falta de dignidade e personalidade dos políticos, que não têm o mínimo pudor de ignorar os salutares princípios democráticos, para assumir seu egoísmo de não abdicar do outro cargo, mesmo havendo inviabilidade de ocupação simultânea dos dois. Na atualidade, vários políticos eleitos para determinados cargos estão no exercício de outros cargos, sem terem a dignidade de renunciar aqueles para os quais eles foram eleitos. É o caso do vice-presidente da República, que foi eleito presidente nacional do PMDB. Ele simplesmente se licenciou deste último cargo, mas, na realidade, nenhuma decisão importante é tomada pelo partido sem a sua palavra final, como se o seu substituto fosse apenas figura decorativa, verdadeira rainha da Inglaterra, que não tem autonomia nem independência para exercer efetivamente a presidência do partido. Existem vários políticos que foram eleitos para cargos de vice-governador, senador, deputado etc., mas estão, no presente, ocupando outros cargos no Executivo, como ministros, secretários ou outras funções totalmente estranhas àquelas para as quais eles foram eleitos e tinham a obrigação moral e legal de exercê-las na plenitude. No caso da assunção de outros cargos, o homem público deveria ter a decência, honestidade e humildade de renunciar ao cargo eletivo, como forma de devolver aos eleitores o cargo de quem foi emanado, como reafirmação da impossibilidade de não poder exercê-lo, devido a interesse pessoal, que impede de cumprir o seu compromisso de representá-los, nos termos acordados na campanha eleitoral. Impende ressaltar que, nos países desenvolvidos democraticamente, a exemplo dos Estados Unidos da América, os políticos são obrigados, por força de lei, a renunciar ao cargo eletivo para assumir funções no Executivo. Nesse caso, o político passa a agir com dignidade e honestidade, tendo em conta que ele não tem como manter o importante canal de interlocução com seu eleitorado, à vista da ocupação de cargo diferente daquele para o qual ele foi eleito. O fato é que nenhum político deste país tem a dignidade moral de abrir mão do poder, muito menos se ele integrar o PMDB, que é o partido mais arraigado à politicagem, cujos caciques fazem questão de agregar para si todos os poderes. No Estado Democrático de Direito, principalmente nos países desenvolvidos e sérios, quem assume cargo diferente daquele para o qual foi eleito simplesmente é obrigado, por questão de princípio, a renunciar este último cargo. É possível que somente nas republiquetas de quinta categoria essa prática antidemocrática da titularidade de mais de um cargo ainda seja encarada com naturalidade pelos detentores do poder, por não perceberem que isso não contribui para dignificar as práticas políticas. Urge que os homens públicos se conscientizem sobre a necessidade de contribuir para o fortalecimento da democracia, procurando observar os salutares princípios da humildade e da igualdade de condições no exercício de cargos públicos, que não devem jamais ser confundidos com interesses pessoais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 03 de setembro de 2013
 
 

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