terça-feira, 24 de setembro de 2013

Vexame presidencial

Ao discursar na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, a mandatária brasileira dará principal destaque às ações de espionagem dos Estados Unidos a correspondências do governo. Ela será a primeira chefe de Estado a discursar e deverá solicitar que as ações de inteligência entre nações sejam regulamentadas pelas Nações Unidas, de modo que sejam criadas normas específicas e limites às ações de espionagem para coibir excessos. Ao ensejo, a presidente fará apelo à defesa do respeito à soberania dos países e à privacidade de correspondências na internet. Como se sabe, após a revelação das denúncias da bisbilhotice, o governo brasileiro exigiu explicações aos Estados Unidos, sob pena de cancelamento da visita a Washington agendada, que finalmente foi adiada, logo depois de tomar conhecimento que o governo norte-americano não teve interesse em apurar os fatos e muito menos de garantir que as atividades de interceptações seriam interrompidas, ou seja, o tom autoritário e prepotente da presidente com o propósito de intimidar o poderoso presidente norte-americano foi diluído a cinzas e transformado em pouco caso. A presidente pretende a institucionalização de mecanismo como "código internacional" para a internet, com normas que garantam a privacidade no meio eletrônico, por entender que a NSA, agência de segurança dos Estados Unidos, ao promover as espionagens mesmo de forma específica, além de afetar a soberania dos países, pode estar violando o direito de privacidade dos indivíduos ao acessar o conteúdo de e-mails como estratégia de inteligência. Embora os Estados Unidos não tenham o direito de promover bisbilhotices fora do seu território, violando a autonomia dos países soberanos e independentes, em evidente afronta aos consagrados princípios democráticos, o Brasil deveria agir com equilíbrio e racionalidade, ao compreender que a sua fragilidade no domínio das telecomunicações e da cibernética, por estar ano-luz desse avançado mundo virtual, o torna refém das espionagens com os mais diversificados interesses. Há que se entender que esse notório descompasso do país com a realidade virtual é motivo suficiente para maior reflexão sobre a precariedade do controle sobre as comunicações internas, em irrefutável demonstração de incapacidade e falta de visão estratégica por não ter tido competência para investir no sentido de fechar as portas da entrada dos espiões norte-americanos, que dominam há décadas os sistemas apropriados e preparados para a finalidade de invadir, sem precisar de consentimento das suas vítimas cibernéticas, as entranhas das administrações públicas e privadas do mundo inteiro, por apenas deleite ou conveniência estratégica. É evidente que, para enfrentar essa batalha já travada com os americanos, o país tupiniquim não conseguirá receber apoio de ninguém das Nações Unidas, que deve ter múltiplos casos de real importância para se deparar e solucionar, principalmente no que diz respeito aos conflitos e as guerras, que estão em plena efervescência. Teria sido mais elegante para o Brasil se tivesse construído o discurso com agenda importante para apresentar na Assembleia-Geral das Nações Unidas, onde teria a oportunidade de marcar presença com algo diferente da perda de tempo com essa mania de reclamar por ser considerado coitadinho e impotente no concerto das nações, em demonstração de inferioridade e de atraso, próprios de países de categoria em descompasso com o desenvolvimento. O momento não é de choramingar diante do leite derramado, porque os fatos já foram denunciados e os resultados acenam apenas para que o Brasil deva se conscientizar sobre suas deficiências na área da cibernética, com vistas a adotar as medidas preventivas que estiverem ao seu alcance, de modo a mostrar competência para não voltar a pecar no que diz respeito à sua privacidade devassável, que não se coaduna com as tecnologias dos países desenvolvidos. A sociedade entende que o discurso presidencial é libelo sobre a sua incompetência gerencial, por reclamar contra as espionagens norte-americanas, que não estão nem aí para ouvir as choradeiras que não vão consertar absolutamente nada, além de expor na mais cobiçada tribunal do mundo, diante da plateia global, sua eterna incapacidade quanto ao controle das comunicações do país, justamente porque nada investiu para acompanhar a evolução da cibernética e evitar vexame internacional. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de setembro de 2013

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