sábado, 14 de setembro de 2013

Uma década de ineficácia

Na concepção do governo, as reivindicações que levam os jovens às ruas do país, a partir de junho, são consequências das reformas sociais implantadas nos últimos10 anos pelo governo. Essa é a conclusão mais especificamente dos petistas ex-presidente da República e da presidente da República, em discursos no seminário "Participação popular e movimentos sociais", comemorando os 10 anos do PT no poder. O petista foi enfático, ao afirmar: "Percebo a tentativa de alguns de interpretar a voz das ruas como interpretação que o país não avançou, que nada foi feito, que muito está a ser feito, como se o dia de hoje fosse uma espécie de marco zero das mudanças. Nós devemos rejeitar essa tese. As mudanças não estão sendo inauguradas hoje, elas têm um longo processo de mais de 10 anos". Na verdade, verifica-se que há enorme dificuldade dos governistas de assimilar os reais motivos da revolta e do repúdio da população contra a precária e insatisfatória administração petista, que, numa década, não conseguir mostrar absolutamente nada de novidade. As suas prioridades foram centradas no programa Bolsa Família, que vem sendo executado ao deus-dará da ineficiência e da incompetência, devido ao precário cadastramento dos beneficiários e à cristalina falta de fiscalização e de controle, que seriam instrumentos capazes de assegurar que o programa atende realmente as famílias carentes, nos termos dos objetivos preconizados na sua instituição, que não foi da iniciativa do PT. Não se pode negar que o governo se sobressaiu com avaliação máxima na construção de suntuosos estádios de futebol, disponibilizando montanhas de recursos públicos, em primoroso exemplo de fidelidade às rigorosas exigências da Fifa, enquanto continuam visíveis as crônicas precariedades e mazelas enraizadas nas instalações hospitalares, nas escolas, nas estradas, no saneamento básico, na infraestrutura e nas demais estruturas básicas dos serviços públicos prestados à população, em contraposição às riquezas e à grandeza econômica do país, que certamente não teria chegado a estado tão lamentável se seus administradores tivessem o mínimo de sensibilidade gerencial e não fossem dominados pela vaidade e pelo egoísmo, ao imaginar possuir superioridade destituída de substancialidade e de materialidade. Ainda bem que a sociedade foi capaz de mostrar os fatos reais, no momento exato em que não foi mais possível suportar o desgoverno e a falta de ação em benefício das suas causas essenciais. Causa espanto e estranheza a presidente da República e seu padrinho político virem a público, em pura demonstração de incompreensão e de descortesia, para ressaltar que os gritos das ruas são para pedir mais do governo, quando, na realidade, o povo se rebela contra o insatisfatório desempenho da gestão púbica, em protestos a refletir as realizações negativas do governo e a indicar os verdadeiros motivos da incompetência administrativa, materializados na precariedade das ações e políticas públicas do Estado, à vista das insuportáveis dificuldades e fragilidades das estruturas pelas quais os serviços públicos são ou deixam de ser prestados. O maior equívoco do governo é não querer enxergar que administrar recursos públicos é priorizar as políticas públicas e não as estratégias eleitoreiras, visando à reeleição e à continuidade no poder, que têm como base de apoio algumas duvidosas ações assistencialistas e o indecente, antiético e imoral loteamento dos ministérios entre os partidos da coalizão política. Na realidade, o Brasil estagnou nos últimos dez anos, por não ter sido realizada reforma de nada e as grandes obras são inexistentes ou não concluídas, a exemplo da transposição do Rio São Francisco. Se nesses dez anos houvesse o mínimo de competência administrativa do país, a qualidade de vida dos brasileiros não seria tão sofrível como realmente é, a ponto de os índices de recursos humanos se igualarem aos dos piores países do mundo, que não têm a capacidade contributiva dos cidadãos tupiniquins nem a grandeza econômica brasileira. A sociedade anseia por que os governantes tenham dignidade e sensibilidade para aceitar, sem resistência, suas fragilidades, incompetências e deficiências administrativas, como forma capaz de corrigir seus erros e de estabelecer prioridades na execução de políticas públicas, no sentido da obtenção de resultados satisfatórios, eficientes e eficazes e do reconhecimento da população sobre os verdadeiros avanços socioeconômicos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 13 de setembro de 2013

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