Na concepção do
governo, as reivindicações que levam os jovens às ruas do país, a partir de
junho, são consequências das reformas sociais implantadas nos últimos10 anos
pelo governo. Essa é a conclusão mais especificamente dos petistas
ex-presidente da República e da presidente da República, em discursos no
seminário "Participação popular e movimentos sociais", comemorando os
10 anos do PT no poder. O petista foi enfático, ao afirmar: "Percebo a tentativa de alguns de interpretar
a voz das ruas como interpretação que o país não avançou, que nada foi feito,
que muito está a ser feito, como se o dia de hoje fosse uma espécie de marco
zero das mudanças. Nós devemos rejeitar essa tese. As mudanças não estão sendo
inauguradas hoje, elas têm um longo processo de mais de 10 anos". Na
verdade, verifica-se que há enorme dificuldade dos governistas de assimilar os
reais motivos da revolta e do repúdio da população contra a precária e
insatisfatória administração petista, que, numa década, não conseguir mostrar
absolutamente nada de novidade. As suas prioridades foram centradas no programa
Bolsa Família, que vem sendo executado ao deus-dará da ineficiência e da incompetência,
devido ao precário cadastramento dos beneficiários e à cristalina falta de
fiscalização e de controle, que seriam instrumentos capazes de assegurar que o
programa atende realmente as famílias carentes, nos termos dos objetivos
preconizados na sua instituição, que não foi da iniciativa do PT. Não se pode
negar que o governo se sobressaiu com avaliação máxima na construção de
suntuosos estádios de futebol, disponibilizando montanhas de recursos públicos,
em primoroso exemplo de fidelidade às rigorosas exigências da Fifa, enquanto
continuam visíveis as crônicas precariedades e mazelas enraizadas nas
instalações hospitalares, nas escolas, nas estradas, no saneamento básico, na
infraestrutura e nas demais estruturas básicas dos serviços públicos prestados
à população, em contraposição às riquezas e à grandeza econômica do país, que
certamente não teria chegado a estado tão lamentável se seus administradores
tivessem o mínimo de sensibilidade gerencial e não fossem dominados pela
vaidade e pelo egoísmo, ao imaginar possuir superioridade destituída de
substancialidade e de materialidade. Ainda bem que a sociedade foi capaz de mostrar
os fatos reais, no momento exato em que não foi mais possível suportar o
desgoverno e a falta de ação em benefício das suas causas essenciais. Causa
espanto e estranheza
a presidente da República e seu padrinho político virem a público, em pura
demonstração de incompreensão e de descortesia, para ressaltar que os gritos
das ruas são para pedir mais do governo, quando, na realidade, o povo se rebela
contra o insatisfatório desempenho da gestão púbica, em protestos a refletir as realizações
negativas do governo e a indicar os verdadeiros
motivos da incompetência administrativa, materializados na precariedade das
ações e políticas públicas do Estado, à vista das insuportáveis dificuldades e
fragilidades das estruturas pelas quais os serviços públicos são ou deixam de
ser prestados. O maior equívoco do governo é não querer enxergar que administrar
recursos públicos é priorizar as políticas públicas e não as estratégias eleitoreiras,
visando à reeleição e à continuidade no poder, que têm como base de apoio
algumas duvidosas ações assistencialistas e o indecente, antiético e imoral loteamento
dos ministérios entre os partidos da coalizão política. Na realidade, o
Brasil estagnou nos últimos dez anos, por não ter sido realizada reforma de
nada e as grandes obras são inexistentes ou não concluídas, a exemplo da
transposição do Rio São Francisco. Se nesses dez anos houvesse o mínimo de competência
administrativa do país, a qualidade de vida dos brasileiros não seria tão
sofrível como realmente é, a ponto de os índices de recursos humanos se igualarem
aos dos piores países do mundo, que não têm a capacidade contributiva dos
cidadãos tupiniquins nem a grandeza econômica brasileira. A sociedade anseia
por que os governantes tenham dignidade e sensibilidade para aceitar, sem
resistência, suas fragilidades, incompetências e deficiências administrativas, como
forma capaz de corrigir seus erros e de estabelecer prioridades na execução de
políticas públicas, no sentido da obtenção de resultados satisfatórios, eficientes
e eficazes e do reconhecimento da população sobre os verdadeiros avanços socioeconômicos.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de setembro de 2013
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