sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A realidade nua e crua do descaso

Após sofrer uma parada cardíaca e ser obrigado a esperar quase 18 horas por um leito de UTI, o idoso não resistiu tamanha crueldade e morreu sem ter sido atendido com a dignidade que se exige o ser humano. Ele sofreu parada cardíaca na madrugada e ficou esperando por esse longo tempo, apesar de se tratar de caso de urgência, para conseguir uma vaga de UTI, mas o seu atendimento, enquanto esperava na maca, os médicos bombeavam ar para os pulmões dele com respirador manual. De qualquer sorte, a transferência para a UTI foi obtida somente mediante liminar concedida pela Justiça, que determinou internação imediata no hospital mais próximo de onde ele esperava atendimento, porém a medida foi inócua, por ter chegado muito tarde. O certo é que poucos pacientes graves conseguem esperar por atendimento deficiente e resistir à precariedade da saúde pública irresponsável e ineficiente. Esse é o retrato da saúde pública do Brasil, mas o governo ainda tem a indignidade de contratar mais médicos, sem se preocupar com a infraestrutura médico-hospitalar, permitindo que o cidadão continue morrendo nos hospitais, por falta de equipamentos e instalações adequados, como UTI suficiente para socorrer os doentes mais graves, principalmente os casos de infarto. Caso o Brasil fosse um país sério e responsável, jamais teria assumido a incumbência da realização de Copa do Mundo e da Olimpíada, eventos considerados megalomaníacos, por exigirem significativas somas de recursos para as obras de infraestrutura, muitas das quais, no caso da Copa, sem qualquer beneficio para a sociedade, que sequer pode pensar em adquirir os caríssimos ingressos da Fifa, vendidos a preços de ouro, que somente as pessoas abastadas se candidatam a assistir aos jogos. Seria a maior prova de competência, bom senso, sensibilidade e maturidade político-administrativos se o governo tivesse a sinceridade de preferir solucionar primeiramente as questões sociais e assistenciais que afetam com gravidade o povo brasileiro, que tem premência de sanar suas gravíssimas e crônicas carências. O pior é que, diante do caos na saúde pública, como comprova o caso em referência, a presidente da República corre o sério risco de se eleger ainda no primeiro turno, tamanha a patetada do povo brasileiro, que deveria se conscientizar sobre a incapacidade de administrar o país, pelo agravamento das questões sociais, potencializadas com a precariedade da saúde pública, da segurança pública, da educação, dos transportes, com a barbaridade das mortes nas estadas, e das demais atividades da incumbência constitucional do Estado. Essa é a realidade nua e crua do que acontece no país tupiniquim, onde, nos hospitais públicos, é normal a falta de UTI e, de consequência, o surgimento de mortes com frequência, exatamente devido à falta de prioridade para atendimento à população que depende dos serviços de saúde da incumbência do Sistema Único de Saúde, que é administrado pelo governo e tem despendido toneladas de recursos sem a menor efetividade, sem controle e muito menos sem eficácia. Enquanto isso acontece, o governo construiu estádios de futebol de primeiro mundo e os equipou com instalações de incomparáveis qualidade e conforto, os quais não terão qualquer utilidade para a sociedade carente, nem antes, durante e depois da Copa do Mundo, que vai ser realizada no Brasil por obra e graça do capricho e da vaidade do ex-presidente da República petista, que jamais teria assumido o patrocínio de evento de tamanha envergadura se ele tivesse o exato conhecimento da estrondosa dimensão dos problemas e das mazelas pelos quais os governantes teriam que ter a dignidade e a consciência para entender a sua gravidade, a exemplo das mortes de pessoas em razão da falta da assistência do Estado, cujos governantes não se sensibilizam sobre o verdadeiro valor da vida humana, por ter sido desprezada pela prioridade dada às obras destinadas à realização da Copa do Mundo, que vai acontecer no país com total presteza, conforto e excelência de gerenciamento. Enquanto isso acontece de bom, o povo permanece doente e morrendo nos hospitais, também muito enfermo no leito do desfalecimento e da inépcia; a violência e a criminalidade progridem a passos largos sem medida para combatê-las; as estradas padecem pelo extremo sucateamento, propiciando absurdas centenas de mortes somente no final de ano, quando o normal, para as condições de país civilizado, seria nem existir morte, por se tratar de irracionalidade que as pessoas viajem, em geral, em gozo de férias, por ser final de ano, sob o risco das emboscadas e dos alçapões das estradas esburacadas, malsinalizadas e precariamente fiscalizadas, em verdadeiro convite aos acidentes, aos desastres e às tragédias; entre tantas deficiências que exigem solução antes da realização de eventos absurdos e irracionais, que não atendem às prementes necessidades da sociedade. É inacreditável a prioridade dada pelo governo à contratação de milhares de médicos, com imensurável gastança de dinheiros públicos, sem a menor preocupação quanto ao reaparelhamento e à estruturação indispensáveis ao importante trabalho desses profissionais, que não podem operar milagres somente com os conhecimentos. Exemplos clássicos são as constantes mortes nas entradas e nos corredores dos hospitais, onde as pessoas deixam de ser assistidas condignamente como seres humanos, por falta de macas, de UTI, de medicamentos e equipamentos que podem salvar vidas. Urge que os governantes se conscientizem sobre a importância da vida humana, para a qual as políticas públicas devem ser prioritariamente estabelecidas, com embargo das ostentações representadas por megaeventos inúteis e contrários ao interesse público, a exemplo da Copa do Munda e da Olimpíada. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de janeiro de 2014

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