Após sofrer uma
parada cardíaca e ser obrigado a esperar quase 18 horas por um leito de UTI, o
idoso não resistiu tamanha crueldade e morreu sem ter sido atendido com a
dignidade que se exige o ser humano. Ele sofreu parada cardíaca na madrugada e
ficou esperando por esse longo tempo, apesar de se tratar de caso de urgência, para
conseguir uma vaga de UTI, mas o seu atendimento, enquanto esperava na maca, os
médicos bombeavam ar para os pulmões dele com respirador manual. De qualquer
sorte, a transferência para a UTI foi obtida somente mediante liminar concedida
pela Justiça, que determinou internação imediata no hospital mais próximo de
onde ele esperava atendimento, porém a medida foi inócua, por ter chegado muito
tarde. O certo é que poucos pacientes graves conseguem esperar por atendimento
deficiente e resistir à precariedade da saúde pública irresponsável e
ineficiente. Esse é o retrato da saúde pública do Brasil, mas o governo ainda
tem a indignidade de contratar mais médicos, sem se preocupar com a
infraestrutura médico-hospitalar, permitindo que o cidadão continue morrendo
nos hospitais, por falta de equipamentos e instalações adequados, como UTI
suficiente para socorrer os doentes mais graves, principalmente os casos de
infarto. Caso
o Brasil fosse um país sério e responsável, jamais teria assumido a incumbência
da realização de Copa do Mundo e da Olimpíada, eventos considerados
megalomaníacos, por exigirem significativas somas de recursos para as obras de
infraestrutura, muitas das quais, no caso da Copa, sem qualquer beneficio para
a sociedade, que sequer pode pensar em adquirir os caríssimos ingressos da
Fifa, vendidos a preços de ouro, que somente as pessoas abastadas se candidatam
a assistir aos jogos. Seria a maior prova de competência, bom senso,
sensibilidade e maturidade político-administrativos se o governo tivesse a
sinceridade de preferir solucionar primeiramente as questões sociais e
assistenciais que afetam com gravidade o povo brasileiro, que tem premência de
sanar suas gravíssimas e crônicas carências. O pior é que, diante do caos na
saúde pública, como comprova o caso em referência, a presidente da República
corre o sério risco de se eleger ainda no primeiro turno, tamanha a patetada do
povo brasileiro, que deveria se conscientizar sobre a incapacidade de
administrar o país, pelo agravamento das questões sociais, potencializadas com
a precariedade da saúde pública, da segurança pública, da educação, dos
transportes, com a barbaridade das mortes nas estadas, e das demais atividades
da incumbência constitucional do Estado. Essa é a realidade nua e crua do que
acontece no país tupiniquim, onde, nos hospitais públicos, é normal a falta de
UTI e, de consequência, o surgimento de mortes com frequência, exatamente
devido à falta de prioridade para atendimento à população que depende dos
serviços de saúde da incumbência do Sistema Único de Saúde, que é administrado
pelo governo e tem despendido toneladas de recursos sem a menor efetividade,
sem controle e muito menos sem eficácia. Enquanto isso acontece, o governo
construiu estádios de futebol de primeiro mundo e os equipou com instalações de
incomparáveis qualidade e conforto, os quais não terão qualquer utilidade para
a sociedade carente, nem antes, durante e depois da Copa do Mundo, que vai ser
realizada no Brasil por obra e graça do capricho e da vaidade do ex-presidente
da República petista, que jamais teria assumido o patrocínio de evento de
tamanha envergadura se ele tivesse o exato conhecimento da estrondosa dimensão
dos problemas e das mazelas pelos quais os governantes teriam que ter a
dignidade e a consciência para entender a sua gravidade, a exemplo das mortes
de pessoas em razão da falta da assistência do Estado, cujos governantes não se
sensibilizam sobre o verdadeiro valor da vida humana, por ter sido desprezada
pela prioridade dada às obras destinadas à realização da Copa do Mundo, que vai
acontecer no país com total presteza, conforto e excelência de gerenciamento.
Enquanto isso acontece de bom, o povo permanece doente e morrendo nos hospitais,
também muito enfermo no leito do desfalecimento e da inépcia; a violência e a criminalidade
progridem a passos largos sem medida para combatê-las; as estradas padecem pelo
extremo sucateamento, propiciando absurdas centenas de mortes somente no final
de ano, quando o normal, para as condições de país civilizado, seria nem
existir morte, por se tratar de irracionalidade que as pessoas viajem, em
geral, em gozo de férias, por ser final de ano, sob o risco das emboscadas e
dos alçapões das estradas esburacadas, malsinalizadas e precariamente
fiscalizadas, em verdadeiro convite aos acidentes, aos desastres e às tragédias;
entre tantas deficiências que exigem solução antes da realização de eventos
absurdos e irracionais, que não atendem às prementes necessidades da sociedade.
É inacreditável a prioridade dada pelo governo à contratação de milhares de
médicos, com imensurável gastança de dinheiros públicos, sem a menor
preocupação quanto ao reaparelhamento e à estruturação indispensáveis ao
importante trabalho desses profissionais, que não podem operar milagres somente
com os conhecimentos. Exemplos clássicos são as constantes mortes nas entradas
e nos corredores dos hospitais, onde as pessoas deixam de ser assistidas
condignamente como seres humanos, por falta de macas, de UTI, de medicamentos e
equipamentos que podem salvar vidas. Urge que os governantes se conscientizem
sobre a importância da vida humana, para a qual as políticas públicas devem ser
prioritariamente estabelecidas, com embargo das ostentações representadas por
megaeventos inúteis e contrários ao interesse público, a exemplo da Copa do
Munda e da Olimpíada. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de janeiro de 2014
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