quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Juros altos e ideologia de poder

Na última reunião de 2013, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia em 0,50 ponto porcentual, que passa para 10% ao ano. Com a elevação consecutiva, pela sexta vez, os juros reais do país se mantêm na liderança do ranking de maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo e a Selic volta ao patamar dos dois dígitos, que não era visto no desde março de 2012. Como se sabe, essa taxa serve de referência para o custo do crédito bancário e o rendimento da maior parte das aplicações financeiras. A taxa de juros permaneceu abaixo dos 10% ao ano por exatamente 20 meses e 20 dias. Na verdade, o ciclo de aperto monetário é reflexo da falta de equilíbrio fiscal por parte das contas públicas, uma vez que o governo vem gastando mais do que arrecada, fato que também ajuda a pressionar a inflação. A resistência da inflação, com tendência bem acima do centro da meta de 4,5% desde 2010, frustrou os principais objetivos da presidente da República, que teria dito, no alto da sua prepotência, que os juros haviam alcançado patamar "mais civilizado" e que, graças ao "compromisso com a solidez das contas públicas", havia sido criado ambiente para que a taxa de juros caísse. Era de se esperar que a combinação de juros baixos, com a taxa em 7,25% ao ano em 2012, câmbio mais desvalorizado e aumento do gasto público impulsionassem o crescimento econômico e os investimentos, mas acabou pressionando ainda mais os índices de preços, obrigando o aumento da taxa de juros. A elevação dos juros e o retorno ao patamar de dois dígitos são verdadeiros golpes às pretensões da presidente da República, que fez estardalhaços de marketing em prol do seu governo, como marca positiva dele, com aplausos à equipe econômica, em defesa do controle da inflação e dos juros baixos, inclusive houve momento em que ela pressionou os bancos para reduzirem suas taxas. Tecnicamente, a finalidade da subida dos juros e tentar controlar a inflação, para que ela não fuja da meta do governo. A política de aumento de juros tem enorme reflexo no pagamento da dívida pública, que aumenta de forma progressiva e descontrolada devido ao desarranjo e ao descontrole dos gastos do governo, que não consegue sair da dependência dos empréstimos bancários. Nesse caso, os bancos são sempre os beneficiados, por terem seus lucros turbinados sem a menor contraprestação, mas com a certeza do recebimento substancial dos juros. O PT, antes de ser governo, sempre demonstrou ácido e veemente crítico aos governos que estariam beneficiando os bancos privados, que sempre se enriqueceram com o aproveitamento das políticas dos juros altos, mas esse partido, ao assumir a administração do país, demonstrou total incongruência com relação ao que defendia com insistência no passado, cuja ideologia foi totalmente sucumbida diante da incapacidade de controlar as contas públicas, que pressionam o superávit primário e, por via de consequência, as taxas de juros. Além do sobrepeso devido ao pagamento dos juros da dívida pública, a elevação da Selic penaliza as atividades econômicas e propicia drástica redução do ritmo do crescimento econômico, comprometendo seriamente o emprego e a renda das famílias, pelo notório encarecimento do crédito e da produção industrial brasileira, que funciona precariamente sem os financiamentos capazes de possibilitar os investimentos. A elevação do juro, recomendado no manual técnico da economia, tem o condão de robustecer ainda mais as pletoras dificuldades que o sistema econômico nacional se obriga a enfrentar para processar os empreendimentos, já completamente envolto ao cipoal das leis e regulamentos e da pesadíssima carga tributário, responsáveis pelo enfraquecimento das atividades econômicas. A sociedade aspira por que as políticas públicas, em especial às que dizem respeito ao sistema econômico, sejam cuidadas estritamente sob o direcionamento técnico e científico, levando-se em conta os interesses da nação quanto aos reflexos na produção nacional, no emprego e, enfim, no desenvolvimento do país, com total embargo aos fins meramente eleitoreiros, como têm sido observados nos últimos anos, em que as medidas econômicas são tratadas sob a orientação de não prejudicar o controle da inflação, para não haver reflexo na avaliação do desempenho da reeleição da presidente, ficando evidente a incapacidade da criação de programas administrativos com objetivos claros para resolver os sérios e crônicos problemas do país, quanto ao descontrole das contas públicas. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 07 de janeiro de 2014

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