Em entrevista ao
jornal suíço 24 Horas, o presidente
da Fifa, com sua costumeira onipotência, afirmou que o Brasil teve a iniciativa
de se preparar e de começar muito tarde as obras e as reformas destinadas à
Copa do Mundo deste ano, além de ter acumulado atrasos significativos nas suas
conclusões, pondo em risco o sucesso dos eventos. Ele disse que “O Brasil acabou de se dar conta que começou
tarde demais. É o país com mais atrasos desde que estou na Fifa e foi o que
teve mais tempo, sete anos, para se preparar”. A autoridade máxima do
futebol também falou da possibilidade de manifestações públicas no Brasil
durante o Mundial puderem atrapalhar o andamento da competição, mas afirmou não
acreditar que os brasileiros "atacariam
o futebol", um esporte que amam. De forma convicta, ele disse: “Não tenho medo. Sabemos que teremos
manifestações, protestos. As últimas, durante a Copa das Confederações,
nasceram nas redes sociais. Não tinham um objetivo concreto, nem uma
reivindicação autêntica, mas durante o Mundial é possível que tenhamos algumas
mais concretas, mais estruturadas. O futebol estará protegido, acredito que os
brasileiros não atacariam ao futebol diretamente. Para eles, é uma religião”.
Durante a Copa das Confederações, em junho de 2013, o país se viu sacudido por ondas
de fortes protestos, notadamente contra os altos custos para os cofres públicos
das obras, que gastaram fortunas com obras luxuosas e megalomaníacas, superando
muitos estádios dos países europeus, que conseguem lotá-los com os seus campeonatos,
enquanto muitos elefantes brancos - a exemplo o de Brasília que sequer vai ser
disponibilizado para os jogos do Campeonato Candango - ficarão ociosos e
exigirão enormes dispêndios com o custo de manutenção. Conquanto a organização
do Mundial merecesse os melhores cuidados e empenhos do governo federal, a
população se recente da falta de serviços públicos, porquanto não há prioridade
para construção nem reformas de hospitais, escolas, estradas, saneamento básico
e outros beneficiamentos que seriam muito mais importantes do que os
investimentos com a organização da Copa, que não trarão nenhum benefício para a
sociedade. Não assiste a mínima razão ao mandatário do futebol mundial de
reclamar sobre os atrasos das obras, salvo a pertinência à plausibilidade sobre
o elevado custo incorporado a elas, em razão da sua realização se submeter ao velho
e surrado estilo da ineficiência e da irresponsabilidade brasileiro de ser, sempre
nas proximidades dos acontecimentos, quando elas poderiam ser executadas com o
aproveitamento da comodidade da disponibilidade de tempo, bem antes da data
prevista, beneficiando-se principalmente dos custos ajustados à normalidade,
isentos dos acréscimos próprios da exiguidade de tempo. O presidente da Fifa
deveria se vangloriar por ter tido o privilégio de realizar a sua Copa do Mundo
nos estádios mais luxuosos, mais suntuosos e mais caros do mundo, considerando
que ele seque é eleitor da presidente da República, enquanto os otários e
idiotas dos brasileiros, que votaram massivamente nela, vão continuar merecendo
os costumeiros péssimos serviços públicos, sem nenhuma prioridade para a
melhoria da sua qualidade, porquanto nada mudará no ensino público indecente e ineficiente;
na saúde pública sucateada, com as pessoas morrendo nas entradas dos
nosocômios, por falta até de macas para socorrê-las; na segurança pública, com
a bandidagem matando as pessoas trabalhadoras e inocentes; nas estradas, com
alarmantes mortes, que poderiam ser evitáveis, se houvesse interesse político;
nos demais serviços públicos da incumbência do Estado, que não se preocupa em
priorizar o atendimento eficiente e civilizado à população. A impressão que se
tem é que as manifestações durante a Copa do Mundo vão demonstrar a verdadeira
indignação dos brasileiros contra o governo que fez tudo do bom e do melhor
para satisfazer as exigências e os caprichos da Fifa, deixando ao deus-dará as
suas obrigações constitucionais de prestar serviços públicos dignos à
população. À toda evidência, é indiscutível que o governo nada fez em
atendimento às reivindicações de junho, à exceção das contratações de médicos, que
já faziam parte das suas metas decididas bem antes das manifestações, mas não
foram complementadas com o indispensável saneamento da infraestrutura, que
continua a desejar e a dificultar a eficiência do atendimento à saúde pública.
Diante da continuidade do desgoverno e da falta da prestação de serviços
públicos decentes, a sociedade tem o direito cívico e patriótico de intensificar
e até redobrar os protestos nas ruas durante a Copa do Mundo, para que os governantes
possam se conscientizar e se sensibilizar sobre os verdadeiros sentimentos da
população quanto à sua indignação pelo desgoverno e, ao ouvirem os veementes clamores,
eles decidam, enfim, priorizar as políticas públicas imprescindíveis ao digno atendimento
das necessidades da população, apenas em harmonia com as preconizações constitucionais
e legais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de janeiro de 2014
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