sábado, 25 de janeiro de 2014

Penúria e precariedade dos presídios

O vexaminoso e injustificável episódio vindo à lume com as revelações dos assassinatos e outros graves crimes no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, escancara de vez a incompetência e o descaso das autoridades incumbidas de cuidar do sistema carcerário brasileiro, ante a precariedade dos presídios e o desmazelo de suas instalações, agravadas pela superpopulação das cadeias e carência de agentes penitenciários, que estão causando verdadeiro caos nos presídios. Os governantes já demonstraram enorme falta de interesse e incompetência para gerenciar os sistemas carcerário e de segurança pública, ante a inexistência de políticas prioritárias para solucionar as crônicas questões que se arrastam desde priscas eras e não há nem esboço para combatê-las com responsabilidade pública. Induvidosamente, os cárceres brasileiros são lastimáveis, cujas acomodações e instalações são incompatíveis com a socialização pretendida, por não oferecerem o mínimo de condições de civilidade e humanização aos presos, que ainda são amontoados nas dependências fétidas e infectocontagiosas, como verdadeiros animais, criando, por vezes, situações horrorosas entre eles, a exemplo do ocorrido nos presídios maranhenses, com o surgimento de confrontos entre facções e o surgimento dos piores atos de selvageria entre os presos. A verdade é que a história dos presídios brasileiros revela a degeneração das suas condições e a falta de dignidade no tratamento dos presos, não somente no que diz respeito à superlotação, consistente na existência de aproximadamente 550 mil presos para, pasmem, apenas 240 mil vagas, que é menos da metade da quantidade necessária. Esse fato justifica a aposição de esculhambação no sistema carcerário, que é obrigado a funcionar com insuportável déficit de acomodação dos presos, que deveriam ser tratados com o mínimo de dignidade como exigem as condições de normalidade do ser humano, em harmonia com os direitos humanos, de modo que eles possam cumprir suas penas, em reparação por seus crimes e, ao mesmo tempo, ser socializados e recuperados como cidadãos dignos e capazes de se reintegrar à sociedade e voltar a cumprir seu papel de cidadão normal. Além da gritante falta de vontade política e de absoluta incompetência para cuidar da situação dos presídios, também é preocupante o desprezo quanto ao cumprimento da legislação referente à execução penal, que padece pela falta de presteza e de efetividade que se espera dela. Não há dúvida de que há necessidade de revitalização, aperfeiçoamento e modernização dos presídios, com reformas e construção de novas instalações, completa reformulação da legislação pertinente e dos reaparelhamentos das forças policiais e carcerários, de modo que esse conjunto possa funcionar com a devida eficiência e efetividade e solucionar, em definitivo, essa empedernida situação de vergonhoso descaso, que nem mais deve existir como caso semelhante a esse nas remotas republiquetas. É inadmissível que o Brasil, com sua grandeza econômica, ainda demonstre total incapacidade para vislumbrar mecanismos capazes de denunciar que o atual nível de penúria e de precariedade dos presídios não condiz com a realidade do desenvolvimento da humanidade, uma vez que o tratamento dado aos presos é comparável aos primórdios da civilização, ante o evidente menosprezo às condições atribuídas aos cárceres. Causa perplexidade se verificar que os governantes apenas movem uns passos, para se aproximarem ao cerne do problema, somente quando a crise atinge o auge da sua gravidade, a ponto de se tornar incontrolável a situação, mas, logo que arrefecida a ebulição, a inércia e a irresponsabilidade administrativas voltam à normalidade, sem a mínima preocupação com as crônicas mazelas existentes nas masmorras brasileiras. Urge que as autoridades púbicas, em atenção aos sublimes princípios humanitários, se conscientizem sobre a extrema precariedade do sistema carcerário nacional e tenham sensibilidade e responsabilidade para definirem efetivas medidas capazes de priorizar cuidados especiais para solucionar o caos dos presídios, de modo que os presos tenham condições e tratamentos dignos aos seres humanos, mesmo na qualidade de criminosos, mas isso não justifica a falta do atendimento humanitário e dignificante para quem cumpre condenação em pagamento do dano causado à sociedade. Não há dúvida de que o tratamento desumano nos cárceres contribui decisivamente para que o preso seja cada vez mais brutalizado por ocasião da sua passagem pelos presídios, havendo consequências prejudicais para a sociedade, que é obrigada a sofrer pelos maus tratos dados aos ex-presos. Convém que o governo federal promova efetivos estudos, com profundidade e abrangência, tendo por objetivos o levantamento das precariedades e das causas do atual caos nos sistemas carcerário e da segurança pública, de modo que, diagnosticados os problemas, sejam implementadas imediatas medidas capazes de solucionar a crônica falta de segurança e de proteção da sociedade e as mazelas dos presídios, como forma do estabelecimento da moralização e da dignificação do ser humano, considerando que incumbe ao Estado, por força de ditames constitucional e legal, fomentar políticas públicas para que esses sistemas funcionem com eficiência e satisfaçam plenamente o interesse público. Acorda, Brasil!
    
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de janeiro de 2014

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