segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Necessidade de competência administrativa

A pouco mais de uma semana para início da reforma ministerial, a presidente da República participou, no Palácio da Alvorada, com seu padrinho político, o ex-presidente da República, e com outros conselheiros políticos do governo. Ao que se especula, a reunião tem por objetivo a reforma ministerial, com previsão para ser deflagrada após o dia 29 do fluente mês. Há uma semana, a presidente deu início às conversas com os partidos aliados e conselheiros políticos visando às substituições no primeiro escalão. A reforma ministerial deve substituir, pelos menos, dez ministros que vão concorrer nas próximas eleições. Com enorme dificuldade para agradar os aliados, a presidente vem encontrando dificuldades para solucionar reivindicações de ministérios, tendo se reunido duas vezes com o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, para tentar encontrar entendimento entre o governo e seu principal partido de sustentação política. Por enquanto, somente foram acertadas a transferência do ministro da Educação para a Casa Civil e a substituição do ministro da Saúde. Não há a menor dúvida de que o desgoverno do país pode ser explicado pelo simples fato de que a presidente da nação não se sentir à vontade, livre e soberana para escolher seus auxiliares diretos. É bastante estranho que a opinião do ex-presidente da República seja fundamental para dizer quem deve assumir cargo de ministro na administração do país, quando, no regime republicano, compete ao presidente a escolha e a nomeação de seus ministros. A participação de pessoas estranhas ao governo e à administração pública, para a indicação de ministros, demonstra total fragilidade da presidente para decidir com quem ela deve trabalhar. Talvez esse fato possa demonstrar a razão de o país ser obrigado a passar por enormes dificuldades para a execução das políticas de governo, por não haver sequer a possibilidade de a presidente decidir quem é competente e capaz de contribuir para a eficiência da administração do país. Nos países evoluídos e desenvolvidos democraticamente, é normal que outros partidos participem da coalizão de governo, porém apenas na exclusiva condição de trabalhar para a construção do entendimento em prol dos interesses nacionais, sem qualquer vinculação com a troca de apoio à perenidade no poder ou fim condenável, justamente porque isso não se coaduna com os princípios democrático e republicano. A presidente da República deveria demonstrar plenas independência e capacidade para decidir sobre os relevantes destinos do país, sem o constrangimento de ter que engolir as indicações para a composição do “seu” ministério, não fosse o loteamento dos órgãos públicos entre a sua ampla base de sustentação, que atua em troca de alguns minutos no horário especial do rádio e da televisão, na campanha eleitoral. É de se lamentar que nem nesses importantes atos das indicações dos ministros a presidente consiga deliberar por conta e iniciativa próprias, por ter que aceitar a orientação, de maneira inadmissível, de pessoas estranhas e daquelas que têm efetivo interesse na ocupação dos cargos, que são, de fato e de direito, os caciques dos partidos da sustentação política do governo, por força da esdrúxula distribuição dos ministérios entre eles, como forma escrachada da manutenção do indecente e consolidado fisiologismo, que somente deve existir nas republiquetas. Não há dúvida de que seria saudável que a presidente pudesse nomear livremente os titulares dos ministérios, sem a participação de pessoas estranhas, que deveriam ter a dignidade de deixar que os assuntos relacionados à administração do país ficassem exclusivamente a cargo da sua mandatária, que tem a competência e o direito constitucional de indicar seus auxiliares diretos. À toda evidência, não há plausibilidade para que a mandatária do país seja orientada por alguém que não tenha responsabilidades com os destinos da nação, justamente por não haver compromisso com a sua governabilidade. Compete à sociedade avaliar se essas formas de insegurança e promiscuidade administrativas, representadas pela escolha dos titulares dos ministérios por exclusiva conveniência dos partidos políticos, em harmonia com seus interesses fisiológicos de coalizão de governo, destinada à sustentação da sua base, satisfazem ou não às suas ansiedades, no que diz respeito à correta administração do país, em termos da eficiência desejável. Urge que os homens públicos tenham a consciência sobre a necessidade de que o país seja administrado com as devidas eficiência e competência, observados os princípios da racionalidade, do mérito administrativo e do profissionalismo responsável. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 26 de janeiro de 2014

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