sábado, 11 de janeiro de 2014

Retrato fiel da incompetência

Enquanto a crise se agravava nos presídios do Maranhão, o governo federal permanecia quieto e somente veio a se manifestar sobre o imbróglio depois de resolver a prioridade atribuída à negociação envolvendo a transferência dos presos que causaram as rebeliões. Tudo foi meticulosamente pensado para que nenhum comentário pudesse melindrar a governadora do Estado e retardasse iniciativas da incumbência do governo estadual. A presidente da República permaneceu calada e somente fez comentário sobre o assunto depois da ida do ministro da Justiça àquele Estado, para se reunir com a mandatária estadual e garantir que os presos que lideraram as violências e confusões nos presídios serão transferidos para cadeias federais. A esperança das autoridades reside no fato de que a transferência dos chefes das facções para penitenciárias federais possa pôr término à grave crise, a exemplo do que já aconteceu em situações semelhantes a essa. O Palácio do Planalto teme que haja demora na indicação dos nomes dos presos a serem transferidos, possivelmente tendo em conta a morosidade verificada nas ações de incumbência da governadora. É impressionante como, no país tupiniquim, as graves questões somente são solucionadas ou encaminhadas para saneamento depois de ultrapassadas as conveniências políticas, que, de forma injustificável, sempre sobrepõem aos interesses da sociedade, como é o vergonhoso caso das pedrinhas do Maranhão, em que o caos e a incompetência tomaram conta da administração daquele estado, enquanto o governo federal se mantinha em obsequioso silêncio, em completo afastamento para não melindrar os interesses políticos do clã hereditário que domina o mais subdesenvolvido e mal administrado estado do país. A crise nos presídios maranhenses chegou ao auge e fugiu totalmente do controle da racionalidade, a ponto de organismos internacionais de direitos humanos exigirem urgentes medidas saneadoras da alarmante tragédia, mas, nem por isso foi suficiente para que a sempre “operosa” secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República percebesse que continuava alheia aos fatos, mantendo-se, de maneira irresponsável, a distância dos acontecimentos e ainda se mantém, como se não tivesse obrigação alguma de atuar e se manifestar em casos de calamidade, quanto mais nas circunstâncias verificadas nos cárceres do Maranhão. Na verdade, a falta de iniciativa do governo federal, com a exclusiva finalidade de preservar a "autoridade" da governadora do Estado, demonstrou também a sua verdadeira incapacidade e inabilidade para enfrentar as crises do país e cumprir, com a urgência que o caso exigia e exige, seus deveres constitucionais de assegurar a segurança pública e a ordem pública. A situação deplorável deflagrada nos presídios do Maranhão evidenciou completa desestruturação dos princípios da administração pública, quanto à necessidade ser mantido o respeito às instituições do Estado e às autoridades constituídas, princípios que foram totalmente desmoralizados por facções que assassinavam, estupravam e cometiam as piores crueldades com o conhecimento das autoridades, que aceitavam passivamente a barbárie de 62 mortes e nada faziam para impedir as atrocidades. Causa extrema perplexidade que, em pleno século XXI, ainda possam acontecer fatos horrorosos como esses aqui focalizados, que jamais poderiam ter existido se houvesse o mínimo de zelo e de compromisso com a eficiência no serviço público. Os fatos ocorridos naquele estado somente comprovam a falência do sistema carcerário do país e a leniência das autoridades públicas com essa indignidade que não condiz com os princípios humanitários, tão prestigiados e observados nos países civilizados e desenvolvidos. O certo é que o Brasil vem se tornando, salvo um ou outro caso, como os investimentos com os estádios destinados à Copa do Mundo, exemplo das piores precariedades no que diz respeito aos índices de recursos humanos. Espera-se que a tragédia do Maranhão sirva para alertar os governantes sobre a urgente necessidade de serem priorizadas as questões que vêm infernizando a vida do povo brasileiro, entre elas se insere o fatídico e falido sistema carcerário, que não pode mais esperar por outras convulsões semelhantes para provar a total inapetência dos governantes com o trato da coisa pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 10 de janeiro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário