domingo, 5 de janeiro de 2014

A indispensabilidade da humildade e da competência

Com relação à afirmação da presidente da República sobre a sua invenção de "guerra psicológica" contra a área econômica de sua administração, o governador de Pernambuco e também presidenciável disse que falta ao governo federal humildade para reconhecer erros: "O Brasil tem problemas macroeconômicos que precisam ser enfrentados. Nós não precisamos esconder as deficiências. O pior erro na vida de uma pessoa, de uma comunidade, de uma organização e, sobretudo, de um país, é quando a gente não tem humildade para reconhecer as coisas que precisam ser consertadas. O mundo cresceu mais que o Brasil. A gente não pode sair botando culpa nos outros. A gente precisa ver qual é a culpa de todos nós. As questões econômicas precisam ser vistas com objetividade”. Assiste inteira razão ao governador pernambucano, ao cobrar humildade do governo federal, mas somente isso não é suficiente para solucionar as graves situações que estão obstruindo o desenvolvimento do país. A humildade é importante pelo fato de ajudar a reconhecer as limitações da máquina em funcionamento, mas a crítica em apreço não surtirá nenhum efeito prático porque o partido do poder jamais vai ser convencido de que comete erro ou deslize. Na realidade, as suas ideias e filosofias são sempre as mais corretas, tanto que seus erros - os cometidos no governo – são fruto de fatos alheios à sua vontade, que devem ser atribuídos a fatores estranhos, a exemplo dessa tal de guerra psicológica, criada agora pelo Palácio do Planalto para justificar novo desastre no desempenho do PIB, que vai ficar bem distante das projeções governamentais. É mais do que notório de que, nos últimos três anos, o crescimento econômico do país vem mantendo estável desaceleração, demonstrando desempenho bem inferior ao que sempre se espera da grandeza econômica do Brasil, o que evidencia que existe algo que poderia ser aperfeiçoado e modernizado, com vistas à consecução de resultados mais satisfatórios. Outros países com economia inferior ao Brasil vêm conseguindo desempenho superior ao obtido pelo país tupiniquim, que tem dificuldade de reconhecer possíveis erros e de adotar medidas capazes para mudar os rumos da economia. O governo que tem enorme dificuldade em ajustar as contas públicas à realidade econômica do país, por apresentar seguidos déficits e nada é feito para corrigir as falhas, só pode encontrar obstáculos para a consecução de resultados melhores quanto ao crescimento da nação. É impressionante como a ideologia partidária consegue enaltecer somente os fatos que, embora não sejam verdadeiros por completo, interessam ser divulgados para mostrar a sua relação visceral com as ações de governo, que não deveriam passar senão da sua mera incumbência, sem nenhum motivo para disseminação de possível mérito, à vista de fazer parte do dever institucional do Estado de promover o bem-estar da sociedade. Contudo, os insucessos e os fracassos, que são irrefutáveis, não mereceram sequer menção no discurso presidencial, nem que fosse para justificar a incompetência gerencial, pela fragilidade do desempenho da equipe, a exemplo do caso específico das operações econômico-financeiras da principal empresa petrolífera da América do Sul, que o governo, tempos recentes, se ancorava nos seus bons resultados para tirar proveito político-eleitoral e se promover, inclusive internacionalmente. Agora, quando essa empresa se despenca das plataformas gloriosas e ufanistas, pela contabilização de inexplicáveis e seguidos prejuízos e quedas, certamente em decorrência de incompetência gerencial petista, a presidente devia ter a consideração ao povo brasileiro de confessar os motivos pelos quais o seu governo permitiu extraordinária diminuição de 40% do patrimônio da estatal, com evidente lesão aos fiéis acionistas da Petrobras, que amargaram estrondoso prejuízo com a desvalorização das ações da empresa. É flagrante o calote dado pelo governo aos acionistas, que investiram num empreendimento considerado sólido e bem administrado, cujo capital foi tragado pela incapacidade gerencial, principalmente pela ingerência do Palácio do Planalto, que enxerga potencial risco de os preços dos combustíveis, principais produtos da empresa, terem interferência direta no projeto político da reeleição da presidente da República, ante o reflexo dos aumentos desses preços no descontrole da inflação, ou seja, o governo confunde, sem o menor escrúpulo, interesses públicos com projetos privados, quando a racionalidade e a responsabilidade públicas recomendam a necessária distinção de ambos os casos. A sociedade anseia por que os governantes tenham a humildade para evitar alardear realizações público-administrativas, cujo mérito não passa senão da sua mera incumbência institucional e dever constitucional do Estado, conquanto isso somente denota nítida manobra eleitoreira, quando seria mais importante e meritório que eles tivessem a dignidade e a decência política de esclarecer e justificar os fracassos e os insucessos no desempenho operacional dos programas de governo, como forma da ínsita da transparência da administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 04 de janeiro de 2014

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