A governadora do
Maranhão teria ficado bastante incomodada com as constantes reportagens acerca
da precariedade dos presídios e dos indicadores sociais do Maranhão, veiculadas
pela Rede Globo de Televisão, notadamente porque ela é dona, juntamente com um
irmão e seu pai, de um terço das ações da TV Mirante, afiliada da Rede Globo no
Estado. Ela considerou-se perseguida pela mídia, inclusive pela Rede Globo e
declarou que foi surpreendida pelo fato de a emissora ter destinado longos
cinco minutos da edição do Jornal Nacional, com exclusiva finalidade de discorrer
sobre os gravíssimos problemas sociais do seu estado. Amigos dela afirmaram que
ela classificou como “exagero” a exposição na mídia do Maranhão, nos últimos
dias. Na ocasião, o Jornal Nacional revelou que o Produto Interno Bruto do
Maranhão cresceu 15,3%, entre 2010 e 2011, o equivalente a cinco vezes a média
nacional no período, que foi de 2,7%. Apesar desse fantástico crescimento, os
indicadores sociais não melhoraram as expectativas de vida do povo maranhense.
Ao contrário, porque 90% dos moradores do estado não possuem acesso à rede de
esgoto, além das notórias deficiências na educação, saúde segurança pública,
todas em precárias condições de atendimento à população. Em 2013, a Rede Globo
mostrou a precariedade da saúde pública, especificamente quanto às falhas do
programa “Saúde é Vida”, para o qual havia a previsão para a construção de 62
hospitais e até então nenhum tinha sido concluído. Em meio à crise no sistema
prisional e das severas críticas sobre a incompetência e a falta de governo,
aliados da governadora ainda esboçaram campanha para blindar o Estado contra a
enxurrada das mazelas consistentes na deficiência das políticas da sua
incumbência, com a criação do surrado slogan “Eu Amo o Maranhão”, que serviria para suplantar os fatos sobre a
realidade nua e crua das penúrias existentes, que a governadora e seus aliados,
coerentes com a personalidade surreal da politicagem maranhense, preferiram
arranjar esse pseudo sentimento de “orgulho” de um Estado arrasado pela má
gestão dos recursos públicos. Como não poderia ser diferente, a absurda
campanha nas redes sociais se transformou em verdadeiro fracasso, mas a
iniciativa contribuiu para a criação de piadas e satirizações sobre os horrores
dos presídios e o desmazelo da administração pública do Estado. Não obstante,
têm sido enormes os esforços e as estratégias para administrar a difícil
situação enfrentada pela governadora, a exemplo da utilização de blogs ligados ao
governo do Estado, na tentativa de desviar o holofote das críticas às
precariedades das políticas públicas e do sistema carcerário. É claro que as
iniciativas palacianas, na tentativa de esconder a verdade sobre a realidade do
Maranhão, não vão conseguir transformar as evidências, os fatos reais, as
críticas e as denúncias, todos absolutamente verdadeiros em meras fantasias e
invencionices da mídia e dos órgãos de controle da sociedade civil, que teriam
interesses em transformar os fatos caóticos, absolutamente reais, em suposições
de caráter “político”, para simples desestabilização política da governadora,
uma vez que os fatos horrorosos mostrados pela televisão e denunciados pela
mídia são irrefutáveis. Na verdade, causa verdadeira perplexidade a governadora
se preocupar, em clara contradição, com as críticas e as denúncias contra o seu
governo, quando ela assegurou aos brasileiros que o Maranhão é um estado rico,
cuja riqueza, ao que tudo indica, deve se circunscrever somente aos recintos
palacianos, onde há fartura de mordomias, regalias e benesses proporcionadas
pelos dinheiros dos bestas dos contribuintes, que bancam a aquisição de
camarões, caviares, salmões, demais comidas exóticas, whiskies, vinhos e
bebidas importadas, sem limitações de quantidades, para deleites da governadora
e de seus asseclas, enquanto a população fica à mingua, privada das políticas e
ações públicas da incumbência do Estado, conforme evidenciam os fatos
horripilantes provenientes daquela unidade da federação, que registram penúria
e subdesenvolvimento da população, conforme atesta o Índice de Desenvolvimento
Humano, ao classificar o Maranhão em penúltimo lugar entre os demais estados e
o Distrito Federal. No Estado Democrático de Direito, o povo tem assegurado o
direito de conhecer não somente as barbaridades, mas também a forma como o
Estado vem sendo gerenciado por sua representante, de modo a possibilitar
condições para eventual decisão, com plena legitimidade, sobre a racionalidade
ou não dos procedimentos adotados pelo administrador público. Urge que a
população do Maranhão se desperte da ridícula letargia que permite que
conveniências políticas dominem seus interesses, em cristalino prejuízo da sua
dignidade cívica, e decida pela definitiva eliminação dos maus políticos da
vida pública, como forma de moralização da administração pública e de
aperfeiçoamento dos princípios democráticos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de janeiro de 2014
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