quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Perseguição da mídia?

A governadora do Maranhão teria ficado bastante incomodada com as constantes reportagens acerca da precariedade dos presídios e dos indicadores sociais do Maranhão, veiculadas pela Rede Globo de Televisão, notadamente porque ela é dona, juntamente com um irmão e seu pai, de um terço das ações da TV Mirante, afiliada da Rede Globo no Estado. Ela considerou-se perseguida pela mídia, inclusive pela Rede Globo e declarou que foi surpreendida pelo fato de a emissora ter destinado longos cinco minutos da edição do Jornal Nacional, com exclusiva finalidade de discorrer sobre os gravíssimos problemas sociais do seu estado. Amigos dela afirmaram que ela classificou como “exagero” a exposição na mídia do Maranhão, nos últimos dias. Na ocasião, o Jornal Nacional revelou que o Produto Interno Bruto do Maranhão cresceu 15,3%, entre 2010 e 2011, o equivalente a cinco vezes a média nacional no período, que foi de 2,7%. Apesar desse fantástico crescimento, os indicadores sociais não melhoraram as expectativas de vida do povo maranhense. Ao contrário, porque 90% dos moradores do estado não possuem acesso à rede de esgoto, além das notórias deficiências na educação, saúde segurança pública, todas em precárias condições de atendimento à população. Em 2013, a Rede Globo mostrou a precariedade da saúde pública, especificamente quanto às falhas do programa “Saúde é Vida”, para o qual havia a previsão para a construção de 62 hospitais e até então nenhum tinha sido concluído. Em meio à crise no sistema prisional e das severas críticas sobre a incompetência e a falta de governo, aliados da governadora ainda esboçaram campanha para blindar o Estado contra a enxurrada das mazelas consistentes na deficiência das políticas da sua incumbência, com a criação do surrado slogan “Eu Amo o Maranhão”, que serviria para suplantar os fatos sobre a realidade nua e crua das penúrias existentes, que a governadora e seus aliados, coerentes com a personalidade surreal da politicagem maranhense, preferiram arranjar esse pseudo sentimento de “orgulho” de um Estado arrasado pela má gestão dos recursos públicos. Como não poderia ser diferente, a absurda campanha nas redes sociais se transformou em verdadeiro fracasso, mas a iniciativa contribuiu para a criação de piadas e satirizações sobre os horrores dos presídios e o desmazelo da administração pública do Estado. Não obstante, têm sido enormes os esforços e as estratégias para administrar a difícil situação enfrentada pela governadora, a exemplo da utilização de blogs ligados ao governo do Estado, na tentativa de desviar o holofote das críticas às precariedades das políticas públicas e do sistema carcerário. É claro que as iniciativas palacianas, na tentativa de esconder a verdade sobre a realidade do Maranhão, não vão conseguir transformar as evidências, os fatos reais, as críticas e as denúncias, todos absolutamente verdadeiros em meras fantasias e invencionices da mídia e dos órgãos de controle da sociedade civil, que teriam interesses em transformar os fatos caóticos, absolutamente reais, em suposições de caráter “político”, para simples desestabilização política da governadora, uma vez que os fatos horrorosos mostrados pela televisão e denunciados pela mídia são irrefutáveis. Na verdade, causa verdadeira perplexidade a governadora se preocupar, em clara contradição, com as críticas e as denúncias contra o seu governo, quando ela assegurou aos brasileiros que o Maranhão é um estado rico, cuja riqueza, ao que tudo indica, deve se circunscrever somente aos recintos palacianos, onde há fartura de mordomias, regalias e benesses proporcionadas pelos dinheiros dos bestas dos contribuintes, que bancam a aquisição de camarões, caviares, salmões, demais comidas exóticas, whiskies, vinhos e bebidas importadas, sem limitações de quantidades, para deleites da governadora e de seus asseclas, enquanto a população fica à mingua, privada das políticas e ações públicas da incumbência do Estado, conforme evidenciam os fatos horripilantes provenientes daquela unidade da federação, que registram penúria e subdesenvolvimento da população, conforme atesta o Índice de Desenvolvimento Humano, ao classificar o Maranhão em penúltimo lugar entre os demais estados e o Distrito Federal. No Estado Democrático de Direito, o povo tem assegurado o direito de conhecer não somente as barbaridades, mas também a forma como o Estado vem sendo gerenciado por sua representante, de modo a possibilitar condições para eventual decisão, com plena legitimidade, sobre a racionalidade ou não dos procedimentos adotados pelo administrador público. Urge que a população do Maranhão se desperte da ridícula letargia que permite que conveniências políticas dominem seus interesses, em cristalino prejuízo da sua dignidade cívica, e decida pela definitiva eliminação dos maus políticos da vida pública, como forma de moralização da administração pública e de aperfeiçoamento dos princípios democráticos. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 28 de janeiro de 2014

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