sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Cadê a competência e a humildade?

Bem próximo ao final do ano, a presidente da República se pronunciou à nação, em rede nacional de rádio e televisão, tendo aproveitando o ensejo, para, num misto de envaidecimento e agastamento, colocou seus feitos nas nuvens e fez severas críticas à desconfiança de setores produtivos nos rumos da economia brasileira, tendo afirmado que a “guerra psicológica” pode prejudicar investimentos. Ela prometeu combate à inflação e acenou para possíveis retoques e correções nas políticas econômicas. É bastante estranho que a presidente critique a existência de “guerra psicológica” com relação aos rumos da economia, mas não quis indicar quem exatamente vem disseminando essa velada desconfiança sobre o desempenho da economia, que se somente se apresenta maravilhoso para o governo, que não se curva à realidade nua e crua dos fatos. Ao que se tem conhecimento, a execução das políticas econômicas é analisada pelos especialistas sob a ótica da forma como os seus resultados são expostos. Na mesma dosimetria, verifica-se que a mídia tem sido fiel à realidade do que a economia representa nas circunstâncias e na sua real contextualização, ou seja, em conformidade com que a capacidade do país tem demonstrado, em termos de performance das contas nacionais, notadamente revelando o pífio desempenho dos indicadores econômicos, a exemplo do Produto Interno Bruto, que tem sido, nos últimos anos, o pior entre os países em desenvolvimento e totalmente incompatível com a grandeza econômica do país autossuficiente em tudo melhor do que os outros países, evidentemente na visão do governo. O discurso presidencial não corresponde à realidade dos fatos, ante a sua superficialidade, em termos de sinceridade e realizações, como também não representa exatamente o que o povo precisa para viver com dignidade. A nação está à espera da inauguração do governo da presidente, que até agora não foi capaz de justificar tamanho otimismo apresentado na televisão. Na verdade, faltou sinceridade à presidente para explicar a real motivação para a criação da esdrúxula figura da guerra psicológica, que somente ela e seu staff enxergam, quando a realidade dos resultados econômicos reflete exatamente a capacidade da sua equipe, que não consegue superar as próprias limitações de fazer com que as medidas adotadas sejam capazes de contribuir para o crescimento do país, ao contrário do que vem acontecendo com as outras nações emergentes, que não têm as potencialidades econômicas do Brasil, mas, mesmo assim, crescem em índices bem melhores do que os nossos. O que falta realmente é humildade para aceitar as limitações dos recursos empregados nas políticas de governo, mas, como a presidente fez questão de frisar, a culpa é de quem faz guerra psicológica, que atrapalha o desempenho da economia e dificulta o interesse pelos investimentos estrangeiros. O discurso presidencial já está tão manjado que nem ela acredita mais no que diz, por saber que tudo não passa de engodo, por falta de resultados palpáveis. A guerra psicológica é criação do próprio governo, que não tem humildade para aceitar as críticas realistas sobre os fatos inerentes à administração do país, notadamente com a indicação de desvio de conduta quanto aos rumos da política econômica. O modelo econômico em prática encontra-se em processo de esgotamento, em razão de alguns fatores que o governo insiste em não encará-los como sendo verdadeiros para fins de avaliação da economia, tais como o seu estrangulamento pela excessiva carga tributária, pela ineficiência do Estado, por não admitir a necessidade de reformulações da sua estrutura, e pelo apego às contingências políticas, comandadas pelo obstinado projeto de perenidade no poder, que tem sido a sua principal razão de governar o país. A presidente não explicou aos brasileiros as precariedades da sua administração, a exemplo das razões pelas quais a carga tributária atingiu, em 2012, 35,85% do Produto Interno Bruto - PIB, uma dos maiores do mundo, e, em contrapartida, o Estado presta os piores serviços à sociedade, bem inferiores aos prestados por outros países da América do Sul. Isso demonstra incrível perversidade ao povo brasileira, que é obrigado a pagar tributos altíssimos em tudo que consume. Enquanto isso, a máquina pública foi turbinada nesse governo, que aumentou o número dos ministérios para 39 e permitiu que as empresas públicas tivessem aumento de 25% no seu quadro de pessoal. Na verdade, a presidente, em tom ufanista, fez menção somente de fatos com possível viés de efetividade, que não representam, no grau máximo de esforço, o mínimo que compete ao governante com um pouco de consciência sobre a grandeza do Brasil e das suas potencialidades. O povo não pode aceitar passivamente as limitações do gerenciamento da nação, que não corresponde nem de longe aos anseios de competência e de desempenho capazes de satisfazer à realidade e à magnitude do país.  A sociedade anseia por que o país seja administrado com competência, eficiência e responsabilidade, com embargo de subterfúgios destinados à formação de opinião pública absolutamente com a finalidade de forjamento de situação favorável à perenidade no poder, em completo detrimento aos princípios democráticos da dignidade, da nobreza e da grandeza das atividades políticas. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 02 de janeiro de 2014

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