O Congresso Nacional havia anulado, recentemente, a
sessão de 2 de abril de 1964 que declarou vago o cargo de presidente da
República, porque o titular se encontrava no exterior. Essa medida foi, agora, solenemente
completada, mediante decretação oficial, segundo os parlamentares, da
ilegalidade do regime que foi instalado no país, com o golpe militar de 1964. No
momento, houve a devolução simbólica do mandato ao então presidente. Estavam
presentes no evento a presidente da República, os presidentes do Senado Federal
e da Câmara dos Deputados, senadores, deputados, ministros de estado e os
comandantes militares do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. Os comandantes militares
não bateram palmas no momento em que o presidente do Congresso devolveu
simbolicamente o mandato do então presidente a seu filho. Na opinião de um
jornalista presente ao ato, a mandatária do país deveria puni-los, em razão de
terem envergonhado o país, porquanto “os
Comandantes militares devem prestar continência ao poder civil. O gesto deles
dentro da Casa que faz as leis é de uma ousadia e de uma insubordinação que não
combinam com a democracia. Não deveriam ter comparecido. Seria melhor do que a
desfeita.”. Ainda na sua avaliação, “Essas
duas decisões jogam a ditadura na mais pura ilegalidade. Elas colocam fim a um
simulacro jurídico para tentar legitimar um golpe de Estado. Houve em 1964 um
atentado contra a democracia. Não
havia risco de golpe de esquerda. Atribuir à eventual inabilidade política de
Jango razão para matar a democracia é um argumento asqueroso. Não houve
revolução no país. A ‘redentora’, como costumam dizer seus defensores, foi um
dos períodos mais tristes da nossa história. Perseguiu, prendeu, torturou e
matou cidadãos que recorreram ao legítimo direito de resistência contra uma
tirania. A luta armada cometeu erros.
Matou gente inocente. Mas não há comparação entre o terrorismo de Estado e as
ações de grupos que lutaram contra a ditadura militar. Os erros da luta armada
são de pessoas. Os da ditadura, do Estado brasileiro”. Vê-se que se trata de matéria jornalística comparável a parecer de
engenheiro de obra feita, por ser muito fácil se opinar sobre fatos ocorridos
há quase cinquenta anos, quando as condições políticas tinham sido
degringoladas, com a ruína dos princípios democráticos, bem diferentes da
atualidade política. Como é possível, hoje, alguém fazer juízo de valor sobre
os fatos daquela época, marcada pela instabilidade política? Não obstante, é de
se estranhar, de forma extrema, que comandantes militares tenham se dignado a comparecer
a evento solene destinado à reabilitação do comunista-mor de então, que foi
pivô dos acontecimentos que contribuíram para a eclosão do golpe revolucionário
militar, deflagrado em atendimento ao clamor da sociedade contra as manobras
que se destinavam à implantação do regime comunista, símbolo do anacronismo e do
subdesenvolvimento, a exemplo da malfadada ditadura cubana, que impõe ao seu povo
total perda de liberdade de expressão e o impede do usufruto dos salutares
direitos humanos, em contraposição aos princípios democráticos. Constituiria prova
inconteste da mais pura patetada e de subserviência caso os militares tivessem batido
palmas justamente em desagravo a quem demonstrou pensamento político contrário
aos interesses nacionais e aos pilares da democracia, cujo fato ensejou o
afastamento dele do cargo de presidente da República. Estranha-se que, na
atualidade, sem nenhum fato novo relevante que justificasse a devolução do
mandato ao presidente destituído, a classe política - num arroubo de “competência”
e agilidade legislativa, nem sempre comum nos casos realmente essenciais ao
interesse público, a exemplo da modernização da legislação penal e outras
medidas igualmente benéficas à sociedade -, resolve promover esse gesto
absolutamente dispensável que o povo brasileiro gostaria que jamais
acontecesse. Aliás, ao contrário disso, a sociedade anseia por que o Congresso
Nacional se interesse pela discussão e resolução de questões referentes às
causas recorrentes da atualidade, como forma efetiva para que as políticas
públicas funcionem com a devida efetividade, eficiência e economicidade. O
Brasil precisa, com urgência, de medidas que resolvam as pletoras questões que
estão contribuindo para o fortalecimento do atraso e do subdesenvolvimento, com
total despreza à perda de tempo com a reparação de algo que foi feito, à época,
no estrito interesse da soberania do país e da sociedade, em harmonia com as
circunstâncias e a premência da sua concretude, cujas reais causas não podem
ser sopesadas na atualidade, exatamente por falta de elementos e de condições
para a justa avaliação sobre os fatos ocorridos àquela oportunidade. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 05 de janeiro de 2014
(Este artigo completa meu oitavo livro, dos seis já publicados)
(Este artigo completa meu oitavo livro, dos seis já publicados)
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