terça-feira, 10 de maio de 2016

À espera de sensibilidade e compreensão


De forma imprescindível, dada a exiguidade de tempo, o vice-presidente da República vem diligenciando no sentido de ultimar a formação do seu ministério, mas as dificuldades parecem intransponíveis, à vista da agressividade por parte de congressistas, que querem subir a rampa do Palácio do Planalto com o novo presidente, no dia da posse dele, como titulares de ministérios, que não suportam a enorme demanda de interesses.
Os incômodos com as negociações dificultam o rumo da montagem do primeiro escalão de seu eventual governo, notadamente em razão das exigências de partidos que apoiam o impeachment da presidente do país, que o fizeram recuar da proposta original de reduzir dos atuais 32 ministérios para 20, embora, nas últimas horas, surgiu a ideia de 22 ministérios. 
As pressões estão causando preocupação ao vice, que se questiona quanto à possibilidade de aceitá-las e se realmente merece submeter seu governo ao preço descabido das descaradas chantagens vindas do Congresso Nacional, tal como aconteceram, de forma explícita e degradante, na desastrada gestão da petista, onde ministérios e empresas públicas foram simplesmente loteados, sem o menor pudor, entre partidos da base de sustentação do governo, em troca de apoio no Parlamento, cujos resultados foram a consolidação da pior administração do país, justamente porque os serviços públicos foram dirigidos e comandados por políticos medíocres, despreparados ou sem conhecimentos técnico-especializados para a execução de políticas públicas de altíssima importância para o desenvolvimento socioeconômico.
Os problemas que o vice precisa equacionar são inúmeros, porque eles dizem respeito à ferrenha disputa entre as legendas pelos ministérios das Cidades, da Saúde, da Agricultura e de Minas e Energia, entre outras pastas visadas por partidos dispostos a darem apoio no Congresso ao novo presidente, fato esse que praticamente contribuiu para detonar as pretensões iniciais quanto às fusões e extinções imaginadas nas negociações pelo vice-presidente, que se encontra completamente desnorteado, depois do embate por ministérios, sem mencionar que a distribuição dos cargos do segundo escalão será objeto de novas árduas batalhas, ante a necessidade da acomodação de afilhados e correligionários, obviamente ávidos por recompensa em troca de apoio ao governo.
Os fatos mostram que o ideal seria a tentativa de “freio de arrumação” para recomeço das negociações, mas a solução para emergentes questões esbarra no exíguo espaço de tempo, uma vez que o cargo de presidente pode ficar vago na próxima quinta-feira, por força da decisão do Senado Federal, e até lá a equipe ministerial já precisa estar formada e estruturada para ser nomeada e empossada, com a responsabilidade de mostrar trabalho, porque a máquina pública se encontra acéfala e desorganizada.
O certo é que o vice se depara com situação de extremo desconforto, ante a terrível possibilidade de ser obrigado a adotar o indecente e indigno modelo de loteamento de cargos do governo petista, que causaram a pior impressão oferecida ao país e ao mundo de gestão pública, por mostrar que o presidente não tem condições e muito menos capacidade moral para formar seu ministério com a composição de “notáveis”, evidentemente com capacidade para comandar com eficiência as respectivas áreas da sua atuação no governo.
Extremes de dúvida, trata-se de verdadeiro suicídio o novo governo se aventurar na tentativa de formar seu ministério copiando a mesmice burrice de nomear ministros pelo odioso, anacrônico e inadmissível critério político, como forma de perpetuar o indigno e vergonhoso sistema destruidor do “toma lá, dá cá”, que tem sido abominável até mesmo nas piores republiquetas, à vista de esse processo levar ao único caminho da desgraça ineficiência administrativa, tendo por exemplo o rejeitado governo petista, que se exaure pelas próprias deficiências ínsitas no presidencialismo de coalizão, que tem por princípio a rejeição à competência, eficiência, economicidade e racionalização, cujos reflexos, na prática, são a total destruição do país com as potencialidades do Brasil.
Nos países sérios e desenvolvidos democraticamente, os parlamentares são eleitos exclusivamente para cumprir sua função legislativa, em estrita harmonia com seus programa de trabalho defendido junto ao eleitorado, não sendo permitido que eles se afastem para o exercício de atividades estranhas àquelas para as quais eles tenham sido eleitos, sob pena de perderem automaticamente o cargo público eletivo, por se tratar de desvio das funções delegadas pelo povo, nas urnas, que devem ser respeitadas enquanto durar o período do seu mandato.
À toda evidência, existe indiscutível distorção quanto ao compromisso do candidato e à sua destinação depois de eleito, que não deveria haver mudança da finalidade estabelecida na eleição, que é de servir o povo, na forma da sua plataforma acertada com ele, sendo considerada quebra de compromisso, sujeita à perda do mandato, a aceitação da ocupação de cargo no Executivo, ou seja, nesse caso, o parlamentar perde, concomitantemente à sua saída do Parlamento, o cargo público eletivo, uma vez que deixa de exercê-lo.
          Os brasileiros anseiam por que o novo presidente do país tenha a sensibilidade de compreender que a prática troglodita de loteamento da máquina pública entre aliados, que dão apoio político ao governo, não corresponde às expectativas da população, que imagina que este momento é ideal para a implantação de nova mentalidade quanto à valorização dos princípios da competência, eficiência, transparência, austeridade e otimização das políticas públicas, que devem se preocupar exclusivamente com a satisfação do bem comum, sem embargo da implantação de urgentes reformas conjunturais e estruturais do Estado, com vistas ao aperfeiçoamento e à modernização da administração do país, como condição essencial à retomada do caminho do desenvolvimento socioeconômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de maio de 2016

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