“Necessitamos de uma reforma de nós mesmos, do nosso caráter, do nosso
patriotismo e do sentimento de responsabilidade cívica”. Joaquim Nabuco,
abolicionista
Muitos
brasileiros se notabilizam, no seu tempo, por defenderem determinada causa, sob
o entendimento de que é da sua obrigação se empenharem em defesa das minorias
prejudicadas pela arrogância e hipocrisia, em evidente demonstração da
supremacia de classes sociais sobre seus semelhantes menos compartilhados pelo
poder, que sempre esteve ao alcance de poucos.
Outros
brasileiros cuidaram de personificar o espírito de vanguarda, quando defenderam,
por justa causa, medidas de moralização muito à frente do seu tempo, em épocas
remotas onde havia a preponderância do atraso e das trevas que obstaculizavam o
aproveitamento da evolução da humanidade e a solução das questões sociais, que
já contavam com o respaldo da classe política bastante ultrapassada e obtusa,
que insistia na permanência do atraso, à vista da sua mentalidade atrelada aos
seus interesses e às suas conveniências, em detrimento dos interesses públicos.
Separados
por mais de um século, um abolicionista e uma ministra do Supremo Tribunal
Federal se entrelaçaram pelos seus ideais republicanos, quando, no Império, o
Senado Federal também já fazia o papel de Casa revisora do Parlamento, cujas
decisões e propósitos já eram alvo de sérios questionamentos, a exemplo deste
abolicionista, que disse: “Para o Senado,
a política é uma distração. A função é outra. Os lutadores desinteressados que
ele contém influem tanto no jogo da instituição como a bandeira de um navio nos
movimentos da máquina”.
A
mera distração política da atualidade em nada se diferencia do passado, conquanto
os congressistas ainda influenciam muito mais em causa própria e muito menos em
defesa dos interesses dos brasileiros, conforme evidenciam os fatos da vida
real.
Já
agora, nas palavras da referida ministra, ouviu-se dela brilhante intervenção
na Corte Suprema, como que encarnando o abolicionista nos dias atuais, ao orientar
seu voto pela manutenção na cadeia do ex-senador e ex-líder do governo no
Senado, quando mandou recado direto aos parlamentares que se respaldam no abominável
e inadmissível foro privilegiado para perpetrar crimes os mais absurdos
possíveis, tendo ela sentenciado: “Um
aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e iniquidades: criminosos
não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade e impunidade
e corrupção. Em nenhuma passagem, a Constituição Federal permite a impunidade
de quem quer que seja. O crime não vencerá a Justiça”.
A
ministra foi ainda mais enfática, ao afirmar que “Houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou que a
esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 (do
mensalão) e descobrimos que o cinismo
venceu a esperança. E agora o escárnio venceu o cinismo”, em referência clara
à forma medíocre como as atividades públicas insistem na escalada da degeneração
dos princípios da moralidade, honestidade e dignidade.
Na
atualidade, a política tupiniquim vem produzindo tamanha desfaçatez, muito embora
há a impressão, nem sempre pacífica, de que já foram vistos os piores dos
cenários da vida pública, mas os novos tempos são pródigos em mostrar que ainda
é possível o surgimento de situações das mais implausíveis, obviamente graças à
farta ousada degenerativa dos políticos tupiniquins.
É
absolutamente inconcebível que, em pleno século XXI, um senador da República,
poderoso líder do governo, com maior prestígio no exercício do mandado, tenha a
ousadia para arquitetar a engenhosa fuga de criminoso confesso preso na Operação
Lava-Jato, com o apoio financeiro de um banqueiro e um pecuarista, sendo que
este é amigo, compadre e possuidor de passe livre ao gabinete de ex-presidente
da República, mas isso é apenas o retrato do nível de congressistas, dando a
entender que eles são capazes de toda forma de indignidade.
Para
mostrar o verdadeiro grau de desordem do Legislativo, o então presidente da
Câmara dos Deputados teve a audácia de articular, em plena luz solar, a escolha
de como, quando e quem deveria conduzir a sua investigação e o seu julgamento
no Conselho de Ética da Casa, em clara demonstração da balbúrdia, esculhambação
e afronta aos princípios do decoro, da dignidade, da legalidade e da moralidade,
que somente são inobservados nas republiquetas.
Os
fatos mostram a total decadência ética e moral no seio do Parlamento, tendo atingido
níveis insuportáveis de tolerância, cujas consequências são a baixa
produtividade de projetos em benefício da sociedade, que precisa se
conscientizar sobre a urgente renovação do quadro político, com a inserção de
novas lideranças e de novos métodos de trabalho em prol da população, como
forma de oxigenação das atividades legislativas e da melhoria de atendimento do
interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de maio de
2016
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