domingo, 22 de maio de 2016

Segurança, serenidade, esperança...


Não há dúvida de que, se discursos antecipassem a qualidade do governo, o do novo presidente já seria prenúncio de excelente gestão, porque a sua fala teve o condão de marcar a sua posse, que tiveram como norte a serenidade, a segurança e a propositura de bons augúrios, tendo o destaque do apelo a conteúdo que vem fazendo muita falta ao Brasil, dos últimos 13 anos e pouco, que são a firme defesa das instituições.
Pela primeira nos últimos tempos, não saíram da boca do presidente da República palavras que incitam brasileiros contra brasileiros, que opõem o “nós” ao “eles” ou algo que tentem apenas contribuir para mostrar superioridade ou supremacia de uns contra outros, em clara demonstração de que existem dois brasis, onde é preciso que um tenha preferência sobre outro, evidenciando a dicotomia que jamais deveria existir numa República em que a Constituição tem claro balizamento de que todos são iguais perante a lei.
Ao contrário disso, o novo presidente do país teve o cuidado de afirmar a imperiosa necessidade de governo de salvação nacional, com o firme propósito e a clara convicção, segundo as quais ele diz seu pensamento, nestes termos: “Reitero, como tenho dito ao longo do tempo, que é urgente pacificar a nação e unificar o Brasil. É urgente fazermos um governo de salvação nacional. Partidos políticos, lideranças e entidades organizadas e o povo brasileiro hão de emprestar sua colaboração para tirar o país dessa grave crise em que nos encontramos. O diálogo é o primeiro passo para enfrentarmos os desafios para avançar e garantir a retomada do crescimento. Ninguém, absolutamente ninguém, individualmente, tem as melhores receitas para as reformas que precisamos realizar. Mas nós, governo, Parlamento e sociedade, juntos, vamos encontrá-las.”.
É preciso enfatizar, por pura obviedade, embora as muitas pessoas já se esqueceram que uma das funções primordiais do presidente da República é servir de catalisador das potencialidades do país, principalmente na tentativa da união de esforços para o atingimento de objetivos comuns.
O discurso do presidente pode ser separado em duas categorias, como forma e conteúdo, conquanto a forma foi considerada apropriada e impecável, irretocável, porque, pela primeira vez em muito tempo, percebia-se que existia autoridade que precisava inspirar o respeito perdido pelo tempo e desejava que ela voltasse a ser imposta pelos dons carismáticos ou por laivos de agressividade esvaída pelo descrédito e pela desmotivação de governo omisso e incompetente.
A autoridade presidencial voltava a se fazer presente, porque ela estava imbuída dos fluidos bons e dos abstratos valores da institucionalidade democrática. Sem exasperação e sem atropelos à língua pátria, sem prepotência e muito sem dedo em riste, sempre acusando tramas contra o governo, dando a entender a existência de clima beligerante e destruidor dos princípios republicanos.
O presidente, com seu risinho contido, recorreu até à figura da mesóclise, que é algo inusitado a demonstrar bons tempos a anunciar excelente governo, por inspirar inovações também no trato e manejo da língua portuguesa.
Quanto ao conteúdo, o discurso do presidente seguiu a mesma linha impecável, quando ele foi bastante sábio em reconhecer as ingentes dificuldades existentes no governo e no país, tendo deixado claro que a sua função será diligenciar com suas forças para encontrar os melhores caminhos para minimizar as questões, de modo a serem encontrados mecanismos com vistas a se estancar a queda livre da economia, a par de buscar a pacificação dos brasileiros e a continuidade dos programas sociais.
Ele também vislumbrou a possibilidade de promover as reformas tão imprescindíveis ao desenvolvimento do país, tendo nominado a trabalhista, a previdenciária e a revisão do pacto federativo.
O novo presidente fez questão de sublinhar o seguinte: “Mas eu quero fazer uma observação. É que nenhuma dessas reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros. Quando menos fosse, sê-lo-ia pela minha formação democrática e pela minha formação jurídica. Quando me pedirem para fazer alguma coisa, eu farei como (presidente) Dutra: ‘O que é diz o livrinho? O livrinho é a Constituição Federal.”.
O presidente foi enfático ao garantir que as reformas serão promovidas em consonância com o Congresso Nacional, como forma do ajuste das condutas que levem ao melhor entendimento sobre a resolução dos problemas nacionais, diferentemente do tratamento dos descaminhos enveredados pelos governos petistas, que sempre tentaram a construção de convicções tortas, que atendessem apenas aos seus interesses e às suas conveniências pessoais e partidárias.
O novo presidente inova em cravar expressão de comando, segundo a qual deve-se ser cobrada a “democracia da eficiência” e isso ficou gravado no seguinte trecho de seu discurso: “Então, quando eu digo ‘é preciso dar eficiência aos gastos públicos’, coisa que não tem merecido maior preocupação do Estado brasileiro, nós todos estamos de acordo com isso. Nós precisamos atingir aquilo que eu chamo de ‘democracia da eficiência’. Porque se, no passado, nós tivemos, por força da Constituição, um período da democracia liberal, quando os direitos liberais foram exercitados amplamente. Se, ao depois, ainda ancorado na Constituição, nós tivemos o desfrute dos chamados direitos sociais, que são previstos na Constituição, num dado momento, aqueles que ascenderam ao primeiro patamar da classe média começaram a exigir eficiência, eficiência do serviço público e eficiência nos serviços privados. E é por isso que hoje nós estamos na fase da ‘democracia da eficiência’, com o que eu quero contar com o trabalho dos senhores ministros, do Parlamento e de todo o povo brasileiro.”.
Diante do quadro deplorável que se encontra a nação, não resta ao povo prestar plena solidariedade ao novo presidente do país, para possibilitar, não somente o estancamento das mazelas que tanto debilitaram as estruturas da sua administração, mas a busca de mecanismos que viabilizem a retomada do tão sonhado crescimento econômico, mesmo que o quadro só vislumbre caminhos tormentosos, que somente serão superados com a união de esforços dos brasileiros.
À luz dos acontecimentos que marcaram a trajetória da presidente afastada, por estar agora sendo julgada por crime de responsabilidade, embora ela poderia também ser julgada por ter causado astronômicos prejuízos ao país com suas políticas desastradas, qualquer governante mediano teria capacidade superior à dela para administrar o país e certamente faria governo vitorioso, uma vez que a má gestão da petista vai constituir legado a ser esquecido imediatamente, para que o seu exemplo sirva apenas para mostrar o que nenhum estadista poderia tomar como paradigma, ante a degeneração dos princípios da boa administração.
Não há dúvida de que é auspicioso que o novo presidente tenha visão panorâmica sobre as mazelas que afligem os brasileiros e, com base nas quais, ele tenha sensibilidade suficiente para priorizar as questões mais importantes para a retomada do crescimento socioeconômico, ante a situação falimentar que se encontra, em especial, a economia brasileira, que padece por força dos maus tratos decorrentes da incompetência gerencial.
O presidente em exercício precisa apenas entender que a prepotência, hipocrisia,  demagogia e incompetência contribuíram muito para a falência das instituições do Estado, que foram submetidas ao ostracismo inerente à resistência às essenciais reformas estruturais e conjunturais do Estado, uma vez que isso tiveram enormes e diretos reflexos na desindustrialização, na falta de competitividade, na recessão, na inflação alarmante, nos juros altos, no desemprego, na falta de investimentos públicos e de perspectivas para a retomada do crescimento e muitas mazelas que poderiam ter sido minimizadas por meio da racionalização e do aperfeiçoamento das instituições públicas.
O afastamento da presidente, que até pode ser por pouca duração, ante a possibilidade disso, pode ensejar importantes mudanças de governo, por contribuir para suscitar esperança de melhores expectativas para os brasileiros, principalmente diante da inauguração de nova mentalidade para a formulação de políticas públicas que tenham no seu bojo os benfazejos espíritos de inovações e priorizações de políticas públicas, com vistas à consecução de programas governamentais mais favoráveis à retomada do crescimento econômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de maio de 2016

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