quarta-feira, 4 de maio de 2016

O inacreditável "mensalinho"


O empresário dono da construtora Gautama disse que conhece os meandros do ambiente de promiscuidade que existe entre o mundo político e as empreiteiras de obras públicas.
O aludido empresário foi preso, em 2007, à vista de investigações realizadas pela Polícia Federal, depois de ter sido acusado de pagar propina em troca de contratos milionários no governo, nos moldes do modelo de corrupção muito semelhante ao famigerado petrolão.
Embora os fatos tenham sido comprovados, o empreiteiro ficou doze dias na cadeia, respondeu ao processo em liberdade e, neste ano, o Supremo Tribunal Federal houve por bem considerar nulas as provas contra ele.
Entrementes, na década de 80, antes de abrir a própria construtora, o empresário ocupou, por dez anos, cargo importante na OAS, uma das empreiteiras envolvidas no escândalo de pagamentos de suborno da Petrobras.
Ele trabalhou ao lado do ex-presidente da OAS, agora é um dos condenados no esquema fraudulento naquela estatal, período em que ele afirma que teria testemunhado o início de relacionamento que pode explicar muito bem sobre alguns eventos ainda em apuração na Operação Lava-Jato.
Além dos golpes contra a Petrobras, o ex-presidente da OAS está sendo investigado por ter pago propina a políticos importantes, entre eles o ex-presidente da República petista, suspeito de ter recebido de presente da empreiteira um tríplex numa praia do Guarujá e a reforma do sítio de Atibaia, ambos no Estado de São Paulo.
Em entrevista à revista VEJA, o dono da Gautama afirmou que as relações financeiras entre o petista e a OAS reveladas pela Lava-Jato não o surpreenderam, porque elas existiam desde quando o ex-presidente ainda era apenas um político promissor.
O empresário afirma que o ex-presidente da OAS sempre deu dinheiro ao petista para a "sua sobrevivência", valores que hoje estariam entre "30.000, 20.000, 10.000 reais", e também ajudava "por fora", nas campanhas políticas do ex-­presidente. Em troca, os petistas estendiam a mão aos interesses da OAS, ou seja, existia, entre ambos, clima de espúria e inescrupulosa cumplicidade, com vantagens ilícitas para os envolvidos e prejuízos para os cofres públicos.
O dono da Gautama também disse que o petrolão foi criado no governo do ex-presidente, com a finalidade de garantir recursos para eleger a presidente do país.
Percebe-se, com muita clareza, que as declarações enfáticas do empresário à VEJA dizem respeito ao envolvimento em caso escabroso de propina do mais famoso político da atualidade brasileira, que alardeia a plenos pulmões ser o homem público mais honesto do país, inclusive desafia quem ouse ser mais decente do que ele, conquanto fatos denunciando sua má conduta extrapolam os limites da lisura e da moralidade.  
É simplesmente inacreditável que o homem público que se diz o mais puro e imaculado do país seja acusado de ganhar "mensalinho" de empreiteira, em troca de facilitação nas suas relações com a administração pública, porque isso contrapõe seus ferrenhos argumentos de idoneidade.
Que país é este, em que políticos se prostituem, na calada da noite, com o fascínio da banalidade, com aceitação de propinas em troca do jeitinho brasileiro para garantir negócio escuso com a administração pública, por terminar sendo golpeada criminosamente por meio da índole malévola de homens públicos que facilitam as contratações arranjadas, ilícitas e superfaturadas, na certeza de serem recompensados com recursos sujos.
O país deveria ter estrutura suficientemente capaz para apurar, com o máximo de urgência e rigor, as denúncias dessa natureza, como forma de se aquilatar imediatamente a veracidade sobre os fatos denunciados e de se adotarem as medidas saneadoras cabíveis, notadamente quanto à identificação das responsabilidades e às condenações passíveis, na forma da lei, de modo que os resultados das investigações pudessem servir de lição pedagógica para se evitar a reincidência de casos semelhantes.
Os brasileiros precisam se imbuir do dever cívico e patriótico para repudiar e condenar, com veemência, as práticas nefastas e delituosas de homens públicos com índole inescrupulosa, que vendem sua imagem de bom moço e de honestidade, quando carregam áurea de extrema indignidade contra a pura representação emanada do povo, à luz de seu passado de envolvimento com o recebimento de propina, como se isso fosse simplesmente normal nas atividades político-partidárias. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 04 de maio de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário