Enfim,
o agora ex-ministro do Planejamento teve a dignidade de anunciar, ontem, que estava
se licenciando do cargo, diante da estonteante revelação de sua conversa
gravada com seu amigo de partido, onde consta que ele teria mentalizado a ideia
de importante pacto para barrar as investigações da Operação Lava-Jato.
Bem
ao estilo dos maus políticos tupiniquins, na tentativa de justificar seu plano
estapafúrdio, o agora senador saiu-se com desculpas esfarrapadas de que pediria
manifestação ao Ministério Público Federal sobre a sua degradante conversa com
correligionário, a fim de que aquele órgão avaliasse se ele teria cometido algum
tipo de crime em relação aos fatos abordados nas conversas gravadas entre ele e
o ex-presidente da Transpetro.
O jornal Folha de S.Paulo publicou matéria contendo diálogo entre o ministro
e o citado ex-presidente, onde fica muito claro que ele cogitava sobre a
formalização de "pacto" com o objetivo de tentar estancar a sangria das
investigações da Operação Lava-Jato, dando a entender que algo mais grave
poderia ser revelado com a continuidade dos trabalhos desse importante mutirão
que vem se consolidando cada vez mais na busca da verdade sobre os lamentáveis
acontecimentos que dilapidaram o patrimônio da Petrobras, que contou com a maléfica
participação de importantes políticos, entre os quais o próprio ministro e seu
interlocutor.
Na
maior cara de pau, porque a gravação é muito clara, objetiva e direta, o senador
teve a audácia de dizer que, "Como
há certa manipulação das informações, eu pedi ao meu advogado, doutor Kakay,
que prepare um documento, e nós estamos dando entrada hoje (segunda) à tarde para que tenhamos posição do
Ministério Público Federal, se há ou não irregularidade, crime na conversa. Na
medida em que colocar este documento lá no Ministério Público Federal, vou
conversar com o presidente Temer e vou pedir licença do ministério enquanto o
Ministério Público não se manifestar".
Embora
tivesse sido flagrado em conversa altamente comprometedora, por haver nela
trama para se interferir nos trabalhos da Justiça, com a detonação das
investigações que já foram capazes de pôr no xadrez importantes políticos,
empresários e executivos, ele suscita a criação de pacto para encerrar a
operação mais eficiente já constituída na República tupiniquim e, dando a
entender ser vítima da revelação em apreço, mesmo que ele seja o pivô dela, alega
que se afasta do governo e aguardará decisão do presidente em exercício sobre o
seu retorno, por ter, pasmem, a convicção de que "Estou consciente que não cometi irregularidade", como se fosse
normal tentar paralisar as apurações que visam moralizar, mesmo que minimamente,
a administração pública e punir práticas gravíssimas de corrução.
Causa
espécie que o senador, em desespero de causa, tenha tentado dá explicações da
forma clássica de quem imagina que os brasileiros são ignorantes e não
conseguem interpretar texto escrito com a maior clareza e objetividade, quando
ele teve a infeliz ideia de reclamar que as frases da sua conversa estão fora
de contexto e assim por diante, em que pese ficar translúcido que ele e o
interlocutor, ambos investigados pela Operação Lava-Jato, tramavam barrar os
trabalhos da Justiça, contando, para tanto, com possível governo comandado pelo
atual presidente interino, que teria, ao contrário, se comprometido a apoiar as
investigações em apreço.
A absurda conversa em apreço mostra, com muita
clareza, a forma promíscua como os políticos são eficientíssimos quando os
fatos envolvem interesses pessoais, como no caso em tela, em que as
investigações em curso sobre os fatos pertinentes à roubalheira na Petrobras
podem pôr em perigo a imagem nada ilibada do senador, diante da sua descomunal
preocupação em barrá-las, justamente para tranquilizar seu espírito de
malfeitor e de aproveitador do dinheiro público, caso em que, ao contrário, a
extinção da Lava-Jato jamais seria objeto senão de apoio aos seus trabalhos.
O presidente da República precisa se conscientizar, à vista
da delicadeza e da gravidade do momento, em especial político e econômico, sobre
a urgente necessidade de melhor reflexão quanto à situação dos ministros de seu
governo que estão sob suspeitas diante das investigações da Operação Lava-Jato,
tendo em vista que a sociedade não tolera mais que as políticas públicas sejam executadas
por homens públicos investigados, mesmo que ainda não respondam a processo na
Justiça, mas o simples fato de haver indícios sobre a conduta deles já é motivo
suficiente para se recomendar seus afastamentos do governo, que vem alegando
seriedade e responsabilidade.
No caso
específico da revelação em comento, que foi confirmada pelo senador, fica
caracterizada a falta de condições, principalmente morais, para a permanência dele
e de outros suspeitos no governo, sob pena de se contribuir para inviabilizar até
mesmo a permanência do presidente interino na Presidência, uma vez que a quebra
dos princípios da moralidade e da dignidade não condiz com gestão responsável e
interessada em mostrar que o país precisa realmente mudar para melhor, tendo
por respaldo a consecução de políticas e ações que satisfaçam exclusivamente o
interesse público, respeitados os salutares conceitos da democracia e da República.
Acorda,
Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 24 de maio de 2016
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