terça-feira, 3 de maio de 2016

O tagarela do Nordeste


O ex-ministro da Educação e ex-governador do Ceará, atualmente filiado ao PDT, afirmou que, se seu nome surgir entre os investigados da Operação Lava-Jato, "Por ter minha consciência tranquila, (...) sou capaz de falar mal do ministro Teori Zavascki. Eu digo: 'ministro, o senhor é corno, se eu tiver nessa operação (...) Veja bem, eu tenho tanta segurança de que não estou nisso que, se estiver, o ministro Teori é corno (...), o Janot é ladrão, e o (juiz Sergio) Moro é um picareta".
As referidas declarações foram pronunciadas por ocasião da comemoração do aniversário dele, na cidade de Sobral, no Ceará, e gravadas por um convidado, quando ele dissertava sobre a certeza de que não tem qualquer relação com o esquema de corrupção da Petrobras.
Ainda no mesmo áudio, o ex-governador conclui a análise a respeito de seu comportamento ético, ao afirmar que jamais participou de atividades ilícitas nem fez fortuna e que não é alvo de nenhum inquérito relacionado com as ilegalidades investigadas pela Lava-Jato.
Ele disse que "Sou sério porque acredito nisso e quero terminar meus dias com dignidade. Ninguém é besta, não fiz fortuna. Se eu roubasse 0,01% dos recursos que já tiveram sob minha gestão ao longo da minha vida, eu teria patrimônio de pelo menos R$ 300 milhões".
De acordo com a Folha de S. Paulo, o político cearense disse não estar arrependido porque, segundo ele, não ofendeu as autoridades citadas e estava respondendo a um jornalista que realizava reportagens que o teria incluído no rol dos próximos alvos da operação.
Ele ressaltou ainda que o discurso foi pronunciado em ambiente íntimo, cercado de amigos, para quem estava tentando ser didático, ao falar sobre como funcionam as indicações para empresas públicas, autarquias e outros cargos da máquina federal.
O ex-governador tentou justificar suas declarações, afirmando que "Eu não falei nada (...) Como não estou, nem o Teori é corno nem o Moro é ladrão nem o Janot é desonesto. O resumo é: tenho tanta paz na consciência de que não estou envolvido nisso, que eu seria capaz de agredir, se estivesse. E quem estiver (na Lava Jato) tem que bajular, não agredir. Como não estou, não há agressão de minha parte".
O pedetista afirmou ter se irritado com publicações mentirosas a seu respeito, que, segundo ele, as calúnias patrocinadas por adversários políticos e que, "No momento em que eu passo a ficar sob suspeição por causa de política baixa... Tudo que eu tenho é minha palavra e minha honra".
O nível intelectual e cultural de quem já foi ministro da educação demonstra exatamente a que ponto se encontra o verdadeiro político tupiniquim, que não tem o menor pudor nem escrúpulo quando envolve, de forma gratuita e desnecessária, importantes autoridades da República, na mera tentativa de se passar por o mais honesto do país.
Esse deprimente episódio pode explicar, com vantagem, a decadência moral, intelectual e de competência da administração pública e da representação popular, diante da impressionante deselegância e truculência graciosas, totalmente dispensáveis e evitáveis, caso prevalecessem racionalidade e bom senso por parte de muitos homens públicos, que estão preocupados apenas em defender seus interesses e suas conveniências, em detrimento do interesse público, razão das atividades políticas, não sopesando palavras que podem ofender seu semelhante, como no caso em comento.
          Não é à toa que o país se encontra mergulhado em situação deplorável, justamente por causa da péssima qualidade dos homens púbicos, em todos os sentidos, que, ao receberem a delegação do povo apenas para representá-lo, sentem-se donos da consciência e do patrimônio dos brasileiros e ainda se julgam como os mais honrados e injustiçados, quando são submetidos a processos por crimes praticados contra a administração pública.
Diante das declarações do ex-ministro da educação, é possível se imaginar os níveis e métodos didáticos utilizados para a execução do apregoado programa da "pátria educadora", que certamente deveriam ter atingido os píncaros do absurdo, a começar pelos seguidos cortes orçamentários, em demonstração da absoluta falta de prioridade também para as políticas educacionais.
Quem foi capaz de levar a sogra para o exterior, em viagem custeada pelo erário, conforme questionamento feito na Assembleia do Ceará, não pode ficar se vangloriando de ter a áurea da honestidade, quanto mais que o manto da decência não é comprovável por meras palavras ditas ao vento, sob a invocação de possível mácula de outrem.
Os fatos mostram que os dois irmãos políticos cearenses se esforçam ao máximo em levianas “boquirrotices”, na tentativa de sobreporem em vãs sabedoria e honestidade, achando-se bem acima do bem e do mal e insuspeitáveis figuras públicas, por assacarem acusações indevidas e injustas contra todos, em tom de desprezo à inteligência humana.
É absolutamente condenável que homens públicos se achem no direito de espargir diatribes aleatoriamente, em detrimento da honra e da dignidade de autoridades do país, que merecem respeito e reconhecimento por seus trabalhos em benefício da moralização da administração pública, os quais deveriam ter ficado livres e isentos de grosseiras e alucinações irresponsáveis, intempestivas e injustas, como forma de preservação da valorização e dignificação do ser humano. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de maio de 2016

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